domingo, 30 de dezembro de 2007

Antes da hora

Atos e vozes
dos porões eclodem

é de areia a ilusão
e a loucura é desculpa

a palavra sustenta
teus fios indefinidos

balançando ao vento,
mas se enche de pó

e abusa da fé
dos crentes ingênuos

de carne e sangue escorrendo
expõe-se em reverso

reflexo da hora maldita
de vez , amadureceu e caiu...

Ivonefs



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Dezembro despedaçado

história fria

olhos - secos
boca - aberta
mãos - vazias
peito - dor

e um eco

"- não se iluda"

tua voz


Ivonefs



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Arte abstrata

Serei serena
na noite conturbada

Teu nome passeia
em meus lábios
- chamo e não o vejo
grito e não me escutas -

Meus delírios acordados
são como noites suspensas
quando caminho em nuvens densas
onde contorno os tons

Estás tão longe e penso - Kandinsky

Envolvo-me na paisagem indefinida
de tintas frescas, onde me componho
nas cores vibrantes que rimam
com teus seus olhos fortuitos...


Ivone Frans*s



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In(consciência)

Diante da indiferença
o sangue escorria
do cordão cortado


Ivonefs




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Poesia

Num dia, sem sentido algum, me veio um Deus, com todas as promessas de que tudo me daria...

Noutro, alguém me disse que me daria a vida...

Hoje, eu tenho a poesia, minha fiel companhia, que não troco por ninguém.


Ivonefs




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Instante

As ondas remexiam
num chiado quebrado

sua boca me levou
num vôo acima das estrelas

o ventou brincou
no instante das rimas dadas

e nos banhamos
na delícia de nos ter...


Ivonefs


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Artifícios

Tenho, além de vivido
tenho visto
e visto com outros olhos
claro, os meus,
que são castanhos, claro
e tenho me lembrado
do que ainda virá
tenho falado muiiiiito do que já foi
e tenho percebido uma grande mudança
em torno, em volta , e dentro
- principalmente dentro

na superfície,
tudo permanece igual
aparentemente

- a superfície é a mais visível e mais escondida, já percebeu isso?

Ivonefs


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Ilusão

Caminhando na areia
as pegadas atrás, o mar engole

quando me volto, nada vejo
- é assim a ilusão


Ivonefs






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Caminhando nas fendas

Não escolho
o vago
do querer
incerto
caminhando
nas fendas
onde a vida
vira e aperta

sinto
nos pés
as pedras
que nunca
em tempo
advinho
e o peso
que me
assola
pela boca
da angústia
me engole

abraçam-me
em meu ninho
os sonhos
que me velam
em redemoinhos
me entontecem
e afinal
escapam

sempre a mesma
solidão...


Ivonefs

Sonho barroco

Palavras dançam
num vai e vem
e secretas
fazem minha síntese
dileta

o sol ralo
deixa a tarde
e tudo ao redor
permanece
estático

o mesmo nome
o mesmo rosto
num elo atrelo
um sonho barroco
que dorme comigo

Ivonefs

sábado, 22 de dezembro de 2007

De noite

Amar o deserto
o sereno caindo

Amar a saudade
a certeza de nada

Viver à beira da linha
estar em colapso

E chorar num compasso
do Chico e da Nana Caymmi

"Até pensei"


Ivonefs

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Sal

Não meço. Arremesso. Me lanço.
O que há de mais surdo que palavras jogadas a quem não se interessa, a quem não se destina, não pelo endereço , mas porque não lhe cabe? Será? ...Desgastes...
A nascente, quando jorra a água, empurra a areia e sai,
porque a fonte destina a água doce ao mar.
A água doce serve em seu curso, a quem dela precisa, mas o que ela precisa é se misturar ao sal.
A palavra de amor é como a água, vem da fonte que lhe ordena e tem seu destino:
um ouvido que a absorverá e lhe dará o sentido. E em seus tantos vôos, na louca procura, muitas vezes confunde-se diante dos olhos, nas alegorias e adereços e não dança nas esferas que lhe dá vida. Vagueia, como num sonho, e a um leve toque, desperta em dor, ao ver por trás dos dias, as horas alegres, intocáveis, desintegradas . Mais um engano que custa a aceitar? E a palavra dança, afoga-se e rodopia ao vento, enquanto o sonho dos sonhadores não alcança o sal da vida. O coração, dilacerado, esperneia e sente em suas costas o auto flagelo a que se encerra...e bate ... batidas de saber que há olhos que não vêem.

Lugar nenhum

A cor do dia
quero ver o sol
e andar no balanço
de nenhuma direção

correr pelas ruas
e esquecer o beijo
da madrugada fria
que não dormi

Comi poesias coloridas
no escuro - e até sorri -
que no claro ofuscaram
em preto e branco

vi na arte as misturas
a luxúria, os olhos puros
e papéis de embrulho

cada coisa em seu lugar
um lugar para cada uma
e eu
sem nenhum...


Ivonefs

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Semen(te) -- (revisitado)

Sêmen,
Prazer que fecunda.

Do sonho, proponho o filho que quero por nome Antonio,
Derrama, sagrada semente, que engulo em doses.

Do beijo, desejo a fome que leva a ter teu despejo.
Em mim, nas minhas espumas, encontras teu berço.

De ti nasceu Afrodite
que mora em mim.


Ivonefs

Egoismo

Enquanto ele morria, ela sofria sua falta.
E ele só queria amar em paz, as ilusões de seus amores inventados.



Ivonefs 17/12/07




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Lugar nenhum

A cor do dia
quero ver o sol
e andar no balanço
de nenhuma direção

correr pelas ruas
e esquecer o beijo
da madrugada fria
que não dormi

Comi poesias coloridas
no escuro e até sorri
mas no claro ofuscaram
em preto e branco

vi na arte as misturas
- a luxúria os olhos puros
e papéis de embrulho

cada coisa em seu lugar
e eu: sem nenhum


Ivonefs 17/12/07


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Antes da hora

Atos e vozes
dos porões eclodem

é de areia a ilusão
e a loucura é desculpa

a palavra sustenta
teus fios indefinidos

balançando ao vento,
mas se enche de pó

e abusa da fé
dos crentes ingênuos

de carne e sangue escorrendo
expõe-se em reverso

reflexo da hora maldita
de vez , amadureceu e caiu...

Ivonefs 17/12/2007


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Simbiose

Em vias alagadas
e pensamento ao vento,
a galope te beijo

imaginando
a hora presente
que grito teu nome
ser lá, na frente,

mãos dadas
risos, colo, cheiros
e mais Nada...


Ivonefs

sábado, 15 de dezembro de 2007

Incômodo monólogo

Não olhes para meus olhos cegos, nem ouças minha voz. Eu corro atrás das nuvens, durmo nos tetos molhados e como os restos que surgem das mãos que nem sabem da minha fome. Não penses que apelo, eu só não posso carregar tanto peso, então despejo meus excessos, tento, assim, me aliviar. A pena já tem morte certa e o que eu desejo mesmo, é ser livre - das misérias, das migalhas, da língua que me sorve e nem sabe o sabor - e voar nos aclives das minhas angústias e fazer delas meus amigos qual São Francisco, acariá-los e em meu peito fazê-los dormir.
Não olhes para meus olhos cegos, pois neles só enxergas o que vês e nem ouças minha voz, são só ruídos proferidos, sobrepõe-te. Deterioremos todas as possibilidades, as idéias, os sentidos, porque dizer o que é preciso nos torna passível e o nosso cavalo está pronto para partida e as pontes atravessadas serão derrubadas e vazio nos distanciará para sempre. E o vazio permanecerá para sempre...


Ivonefs


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Só pra descontrarir

Escrevi
seu
nome
e escrevi
versos
que
rimavam
com
o meu

- Ande logo,
venha me ver!

as
rimas
são
pobres
e não
combinam
com
o seu

Ivonefs - 15/12/07

Adversidades

Perséfone, enfurecida, escureceu a era, sem a cria, que dorme em outro mundo. O grão duro, enquanto isso, umedecido por suas lágrimas, amolece. O novo dia, ainda amanheceu nublado...


Ivonefs - 14/12/07



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Incômodo

Incômodo

Infortúnio do inesperado:
nos traços apagados
um gemido atônito


/ivonefs - 13/12/07


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Substância diáfana

Sob o céu fechado, escassez e inquietude. E no escuro, vejo o que a luz escondia, as coisas que são e ainda não são. Uma única flor vermelho vivo me cobre e debaixo dela me enfio, percorro os quilômetros de areia e quando me aproximo da exuberância que procuro, o caminho se faz árduo e me turva a vista. Só mais um pouco...Penerando o deserto, engatinho e atravesso a janela dos meus sonhos.
Verei o que encontro.

Ivonefs / 13/12/07


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Sem fim

as sombras
os sonhos e danças...
emparedados

- que saudades!

Ivonefs

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Passagem

A luzes do teatro se apagaram. Os ruídos se confundiam com o silêncio que se assentava. Do palco, sentia o vazio adormecido da platéia já distante. O perfume único, de tantas essências misturadas, ardia em meus olhos, que fitavam a primeira fileira, onde ainda te via... Você, uma cadeira livre, onde me sentaria ao seu lado...Ao aproximar-me o espaço estava preenchido por seus braços envoltos num corpo que em seu ombro pendia. Uma moça linda, e ambos em completa sintonia. Sentei-me ao fundo, em total desconforto, a garganta estranha, pela lágrima engolida. Da peça, só me lembro dos ensaios, quando me tocava, me confundia e em intimidade... quase se revelava..., mas sempre fugia, sim, sempre fugia me deixando nua, com seus odores pairando em minhas entranhas e minhas certezas flutuando nas horas seguintes, sem qualquer intervalo de sossego. Nem todos os segredos são revelados...Quando ele entrou pela minha porta me deu a vida e a morte... Minhas mãos vazias, tateiam no escuro, procurando a passagem, que me transportará para além deste cenário.

Ivonefs

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Você não me Prometeu

Nos meus devaneios
imbuídos nas
horas incautas
devastadas pela
mórbida inércia,
que me pega
nos desvãos
da boca entreaberta
da dor que me queima
conjugo-me em passados
tempos-lembranças

Restam-me vôos
incertos pelos picos
dos rochedos nebulosos,
das encostas uivadoras
aonde penso, agonizarei
os meus lamentos
incrustados
em sulcos inóspitos
até completa asfixia
... ou dissolução

Em banquete,
oferecerei meu coração
às famintas aves de rapina,
antes que a noite termine
e o sol queira me cegar
com sua luz do novo dia.

A velas sim
velas enfileiradas,
acesas, recendentes
banhando-me na luz
da dor transcendente
quando não me abrasarão
por suas lágrimas
densamente quentes

- arrefecer-se-ão ao ar
congelado da rasa cova
aberta ao relento
onde entorpecida
finalmente gozarei ...


/Ivonefs

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Incômodo

Infortúnio do inesperado:
nos traços apagados
um gemido atônito.


/ivonefs

...antes do sol nascer

na noite escura
estou clara, nas asas
da ária entregue

no semi nu
do meu rosto
- as sombras

as ditas horas
rodam entre cores
afogam meus poros

e o pó se espalha
nos ralhos que levo
por meus excessos

como cada palavras
vomito as esperas
descalça na areia

o sol vermelho
em chamas a poesia
- acorda!

/Ivonefs

Tua dor

Sinto tua dor,
então deito
os olhos
no peito

não vejo além
de um palmo
do chão

me faço refém
de carícias eternas
secas, amargas,
que hibernam
num corpo
calado

investi
desisti
insisti

agora
sem nada
nem amanheço
nem corro perigo

sou sombra
retida
à margem
desta hora
que engasga
a única nota
de minha voz:

- ai!

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

As minhas economias ( Ensaio poético)

As minhas economias, guardadas sob a minha pele, são atraídas por imãs que as devoram durante à noite, enquanto durmo. Como fantasmas sem rostos me amedrontam e dizem serem os donos dos meus sonhos, despejando toda sua jaculatória. De manhã, apressada, nem faço o sinal da cruz, esqueço a noite passada e pouso na barriga vazia do dia, onde busco as fantasias estampadas em todas as direções, que me levarão ao inútil pecado de insistir nos sonhos devorados. E quando o jogo recomeça, minhas palavras em estado vulnerável são leves e voam. Tal qual uma pena solta, não pousam. Pairam. E em sua transparência, não atingem o que quero, nem produzem as mudanças, não provocam os efeitos. São vistas de qualquer jeito. Se minhas palavras fossem como os raios, não perambulavam tanto, e seriam de imedito, sem passar por qualquer vista, engolidas e enterradas de vez. Pelo menos, não me empacariam... Mas pra quê tudo isso? O que eu quero dizer é que por mais que eu fale, ou mesmo que não fale, quem irá mudar o maldito desejo, que não está escrito, mas que insisto? Já estou no meio e nada poderá alterar o início. A partir daqui, sem nenhuma economia, de boca escancarada, de pele rasgada, desvelada... preciso caminhar... e em cada esquina, renascerá, alucinadamente, a expectativa de ouvir o que mais quero e que incansavelmente procuro. As minhas economias guardadas sob minha pele, foram roubadas e já nem preciso mais delas ...

/Ivonefs


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O rio

O dia amanheceu velho e cansado
e eu lamento as alegrias poluídas
de sabor amargo, pesado
desta indigesta manhã

Nas entranhas corroídas
as poças estagnadas infestam
meus passos paralisados
entre os muros fétidos que me enjoam

Vou para floresta
lá tem um rio que canta
e me conta os segredos esquecidos
que me acalantam

As sombras me cobrem
as palavras não golpeiam
e no barulho do rio
ouço uma oração e adormeço

/Ivonefs

Des(gosto)

Enquanto
te respiro
e cheiro,
tua presença
me enche
de vida

Enquanto
dormes,
vigio
teu sono,
e eterno
te penso

Quando
te afastas
- mera inconsequência
e que tua
indiferença
não nos esmoreça

o amor ... ( mas quem disse que era?)

/Ivonefs

domingo, 2 de dezembro de 2007

Simplesmente você

Voaram as horas
em meu silêncio
e eu vi...
vi tudo claro
me despi
da descrença
e no tempo
renasci

achei até graça
das lágrimas
dos rios salgados
das piedades
da quase guerra
da quase desistência
quase inexistência...

vi tudo novo
diante
bem aqui
admiti
te amo sim
e é assim
simplesmente
desde o instante
da primeira vez
que te vi

te faço poesia
me faço livre
e aonde quer
que eu vá
levo comigo
o que sou
que não invento
assim te sinto
em todas as cores
dos versos
claros
até o infinito..

/Ivonefs

sábado, 1 de dezembro de 2007

Sem você

Andarei chovendo nos picos
dos rochedos nebulosos
terei os falcões por companhia
indiferentes aos meus gritos
e o eco... o eco...
entoarão a resposta
e em banquete
oferecerei meu coração.


/Ivonefs - 01/12/07

Além da promessa

Vi o dia nascendo
com sabor estático-frio
inconsciência doentia
fragmentos, enfastio

o olhar estagnado
mergulhado nos ínferos
acumulou a distância
desprendeu o vínculo

e o que eu mais queria
desandou em indiferença
a promessa corrompida
me abateu... perdi a crença.

peguei um mapa, viajei
não olhei mais para trás
não fiz falta, causei alívio
não era nada, nem era demais.

/Ivonefs - 30/11/07

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O sol de hoje

O dia de ontem
separou as pastas da liga
aviltou o avivamento
do ávido movimento,
cobriu-se de negro
inundou além das margens
rangeu e deslizou
azoratado...

O dia de hoje
quebra das serras
os dentes que
espalharam a serradura
de minhas molduras
fabricadas nos arrufos
de pensamentos
revirados

o dia de amanhã...
...ainda tem o sol de hoje...

/Ivonefs - 28/11/2007

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Encontro das águas

.

Tua língua
na minha

influi

em cores e versos

azul-esverdeado
ocre-argila

- nus embriagados -

seria...

... Amazonas e Tapajós?

/Ivonefs - 29/11/2007

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Mata-me de vez

.

Não quero morrer aos poucos
que seja, então, de uma vez

Não ria do meu fracasso
... não tomo ácido...
a dor é em carne crua

Há cacos de vidro
sobre as ruas
onde antes descalça
e nua me deitei e tinha
a pele tua sobre a minha

/Ivonefs - 27/11/07

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Ciranda

.

Na ciranda,
o bailado
é um cordão

e vários rostos
giram em meu sorriso
e apenas um eu vejo

mas o meu
é aos teus olhos
oculto

que só vê um outro
de outra ciranda
espectro e fogo

/Ivonefs - 27/11/07

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Paralelos

.

Rajadas
ondas aladas

névoa

lava rostos e aléias

sentinelas

na boca, o toque do céu
jasmins dão notícias

e te tenho colado
rasgando meus véus...

/Ivonefs - 25/11/07

sábado, 24 de novembro de 2007

Meus mistérios

.

Ocultos nas linhas explícitas
expressos em ordens secretas
meus mistérios são mitos

reciclados reencarnados
orientados pelos símbolos
arbitrários reescritos

pela complexa realidade
disposta nas camadas
diversas e mutantes

que desenham meu caminho
como desejo ou não
em desafios que me pegam

em imagens que rejeito
e ainda que sufocantes
tento valer minhas verdades

sem vaidade nas variantes
que me fazem múltipla
maleável em vezes e outras

indefinível inacabada
caminho sempre a favor ou
contra em tanta e quanta

mesmice que me enfastia
e anula enfim, não morro
recomeço , pois sou

como o vento constante
instável multicor e tempestade
presente em cantos que desenho

nas letras que escrevo
onde deito minhas percepções
e danço às melodias arranjadas

às vezes silencio e os múrmurios
uivadores dos meus mistérios
quedam-se em si

como uma dormideira
que a um leve toque fecha suas asas...
(minhas fragilidades)

/Ivonefs

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Diário de três loucos (Paulinho, André Luiz e Ivone)

Dai-me a dor em doses cálidas,
para que sinta "saber" a vida em sua forma árida...
Dai-me a morte em sua sorte,
e veja sangrar minh'alma em falsos cortes...
Dai-me os pés descalços das ingênuas risadas
e olhos brutos enlameados com as cores das faltas
Dai-me o tolo reconhecimento do convencional,
Do simples que se esgoela em cantos histéricos.
Dai-me encantos homéricos por vias sensoriais
e das vias frias entranhadas me livrai
Quero o ontem e o silêncio das paredes molhadas...
O silêncio dos que choram felicidade,
Dos que riem angústia.
Das forças quebradas em cimento jogadas
estilhaços de vidas desencontradas
Quero também todo riso que engana
Toda lágrima que emana e formas profanas...
Sem pensar em direções
Sem pensar em situações
Sem pensar simplesmente sem
Quero sonhar... mas com cuidado
Pincelando cada passo,
Numa aquarela preto e branca.
Não quero mais uma direção,
quero duas, uma pra ir, outra pra voltar...
Só não quero as flores, cansadas de viver,
nem os pássaros fúnebres por profissão!
Quero que sirva, muito delicadamente, em talher de prata,
Um Jesus, dois Budas e meia dúzia de Maomés.
em direções
em situações
sem pensar...
simples[mente]
sem
Meus deuses morrem em mim constantemente
E eu os quero assim, todos mortos
Sem vergonha de d'savergonhar...
Caídos sobre três cacos,
Um de vidro dois outros de talo,
Que estalam feito quebrar de pratos
E só no fim tropeçar...
Ar-dor...
Pálpebras que oscilam
entre o claro e a escuridão de mim ...
Que as dores façam de minha covardia
uma forma de viver a vida sem sentido, pois
viver sem sentido me é dolorido e prazeroso
Quero gritar aos céus e que todos os demônios ouçam-me:
Dái-me forças pra odiar, pois amar nasci sabendo!
Que Deus nos perdoe...
O purgatório está de bom grado!

terça-feira, 20 de novembro de 2007

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Retalhos

Hoje o dia soa diferente
nas loucas ondas

dos tantos retalhos
que faço de mim

As direções aportam
em limiares divinas

que se desfazem
e fundem-se aos arredores

de olhares desvelados
onde ancoro

Diluem-se as horas
e me pego atada

em incônditos absurdos
que me sitiam

/Ivonefs

Circunscrito

Toda manhã raia
e poucos ousam
além do círculo.



/Ivonefs - 17/11/2007

Te encontro

Tua falta me faz
nua e aperta

num lamento que desliza
e me pego em tua boca

nessa língua que me toca
me decifra, me alimenta

e sem saber ao certo
o que se passa

quando pronuncio teu nome
e bebo tua essência

quando ando em tuas mãos
e me prendes em teu espaço

é certo o nosso jeito
refaz-se nosso laço

neste sol que te encontras
e nas coisas que me dizes

eu sei ...

- nas horas vagas
de amanhã ... te encontro.

/Ivonefs - 18/11/2007

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Eu te amo

Você comeu minha racionalidade
e agora tudo faz sentido...

...a nudez está exposta. E agora?

Cadê o sol para aquecer?
Cadê as noites delirantes entre lençóis e ais?
Tudo é precipício? E agora?

que não me ama
não me ouve
nem me olha?

Rastejo feito cobra cega em trilhos
na mata escura e é esse o soldo
final da luta que vitoriei quando
finalmente eu te disse:

- Eu te amo

Morrer?

E o que fizeram "João que amava Maria,
que amava José, que não amava ninguém "...?
e aquele que casou com quem nem era da história?

Talvez até me ofereça:

uma bandeja de sexo
um par de olhos revirados
mãos, cabelos desalinhados
ambiente cheios de cheiros
com música popular brasileira
dizendo o que não dá pra falar...

Cães sem donos
cadelas no cio
vadios

Não vou chorar o amor que não tenho
Não vou apiedar-me do amor que não tem

Irracional, obscena.
Só isso basta e os
corpos se entrelaçam...

/Ivonefs

????????????

As dores estão espalhadas
impregnadas nas falas
as faltas em lamúrias
e o homem se corrói
na cara dos deuses aleijados

Há uma correnteza
de lamentações
e nos muros
cachoeiras frenéticas
borbulham

Abrem-se valas
enchendo-se de drogas
e a ilusão como uma fera
augurenta, maldita
orienta

A roda prende
a mola caiu
a sede chegou
e o rio secou

a verdade, ninguém sabe, ninguém viu
e o jogo já faz tempo que começou

/Ivonefs

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Partida

Um céu oscilante
escancara suas
infinitas faces
lancinantes
logo que acordo

me queima
me chove
me escurece
me apaga

e nunca me dá
aquela luz das
possíveis noites
que me fariam
sorrir de manhã

o céu
é meu chapéu
- um limite que me prende aqui

/ivonefs

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Palmas-de-Santa-Rita

Só em ti me calo,
deixo que me adentre
e não me sou
quando mais me tenho

Visto um traje
de vento
agonizante
e vago
aos campos
brancos
de Palmas-de-Santa-Rita

Colho três,
três palmas
destes campos
abertos
de sonhos e sombras
onde os ramos
dos arbustos
brandem
como meus cabelos
ao vento
a ermo
em constante
transmutação
pelas enleantes ondas
como as nuvens
de plumas

Só em ti me calo,
deixo que me adentre
e não me sou
quando mais me tenho...

/ivonefs

domingo, 11 de novembro de 2007

Embaraço

a cara bate
e abate após
a sarrafada
embaixo
do abacateiro

que ria
sem parar
do seu falso
amparo
- traiçoeiro!

e a mente
tentacular
lhe tira do meio
teletransportada
para lugar
nenhum

que embaraço...

/ivonefs

Pressinto

O que não posso dizer [guardo]
O que não posso ter [hoje]
O que decide é [nosso desejo]
O que mais quero [é a vida que você me dá!]

Talvez o sol da manhã me mande um recado: [se aparecer]
... é mais adiante... - Mas adiante
para antes do feriado, adiar mais para quê?
[daí não pode ser]

- Os olhos sentem na canção, fixos
na boca que percorre o caminho
de um peito branco, nu galáctico,
onde beijei tua alma –

Quero esse amor incandescente
em mim exaltado gritando
à forra da tua ausência,
embora não tenha ainda a hora ...[pressinto]

/ivonefs

sábado, 10 de novembro de 2007

Zolhudinha

(Para minha amiga Luisa O Costa - 8 anos - no seu aniversário - 10/11/2007)

Menina de olhos lindos
negros feito jaboticaba
sapeca que sobe nas paredes
sobe nas paredes?
sim, e planta bananeira!
e corre, pula, pergunta
fala, joga, brinca,
e vira e mexe
lá fica ela
sentada, quieta
lendo as letras
que comprou
na banca de jornal
num domingo de manhã

/ivonefs

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Pendente

...e ele estende a mão:

- Vem!

Mas o vento contrário sopra em meus olhos e ali me mantenho
...entre o abismo e a segurança do oco...

Parricídio

Procuro o passo original...
não quero modelos
nem castelos gloriosos
enfestados do que já foi

Procuro o novo princípio...
não quero o passado
encerrado nos moldes
pendurados dos eruditos

Em princípio, nada recebi
nada carrego
e o inexplorado
é o que me atrai...


/ivonefs

Desintegração

Rajadas ondeadas
seguiam as mãos indomáveis
das gotas aladas
bem na hora brusca
da tarde amarela
quando o riso
foi molhar a boca
na névoa ... aquarela

em doses sinestésicas
e visões paralelas
um súbito arrepio
se alongou
e deitou ao chão obscuro
a máxima desperdiçada
dos suspiros doces e futuros

e sem nenhum pio
as mãos se soltaram
e nos vãos da memória
molhada, embriagada, ressacada
pelas vindas e idas
conturbadas e indefinidas
desintegraram-se
e nada mais existiu...nada...

/Ivonefs

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Vulnerável

Nos horizontes findos

perco a vista

e invisto

aonde imagino

possa eu

tocar meus olhos

molhados

quase fechados

e misturar águas salgadas e potáveis


-sou um mar que cede a uma gota doce -


vulnerável aparência

imensidão do nada...

/ivonefs

O poeta não finge

O poeta não finge...

Em letras, tinge a tela
com as mazelas disfarçadas
nos espaços alagados
pelos silêncios mórbidos
que molham suas cores
e delatam sua miséria
acossadas nos fios emaranhados
das incertezas

Descerra as cortinas
e seus códigos sobrepostos
entre os verdes-amarelos-vermelhos
se revelam como as lágrimas
excelidas de Portinari
como as formas impressionantes
dos impressionistas
e em rompantes imprevisíveis
se denuncia

Excede-se nos devaneios
e chora nas palavras

- chora em outro tempo
pelo zelo que não tem
ao deixar em carne viva e
exposta, a magia que desliza,
à mercê de outras mãos -

pela pintura inacabada
deitada, nu, silenciosamente suplicante

- Não haverá de me decepcionar -

O poeta não finge, mas esquece de dizer...
seu tempo é à frente,
não é o presente
e a ninguém dará

enquanto não poeta, eu finjo

/ivonefs

domingo, 4 de novembro de 2007

Meu amor inquieto

meu amor inquieto
feito redemoinho

me revira
atravessa
me sufoca
delira

ao avesso
me enreda
me engole
travesso


me olha
torce
retorce
me molha

marca
me lambe
prende
me encharca

feito redemoinho
me circula
me agita
me afoga

/ivonefs - 03/11/2007

Injúria

Peregrino
em paragens estagnadas
alucinada pelo fétido odor
das verdades distorcidas
mentiras alojadas
nos credos estabelecidos
das cegas aventuras

Peregrino
com as vistas embaçadas
em terrenos desolados
nos trovões que me estremecem
pós clarões chispados
em meio às manchas negras
que deparo em desamparo

Peregrino
embasbacada e incrédula
quando vejo tuas mãos dadas
levadas pelas correntes
da insanidade possessiva
como abutres, fome sarcófaga
maculando tua beleza

Meteoros chovem
sob o comando
das estinfálicas,
sereias mortais do brejo,
que obsessivamente
lançam tuas asas afiadas
e tentam devorar-me

E rides vossos risos
de loucas desvairadas
com a taça de veneno
que jogais em minha cara
- não engulo as injúrias
nem me rendo a tão reles escárnio
vossas peçonhas, bebei vós mesmas


/ivonefs - 03/11/2007

******************************************

Santa

Não me soltes
quando me tiveres

nas tuas mãos

no meu vôo
livre

errante
vi teu aceno...

chama
-e pouso

queima
- e ouso

Ah!
não terei a proteção dos anjos
- que me querem santa.

/ivonefs - 03/11/2007

Armadura da solidão

À revelia
sinto-me

lida

lira
cortante
diante das insólitas
páginas corridas
que entoam
e se desenrolam
nos arrulhos
das vicissitudes
que escolho

a hora
pede
a imagem
rege

e seu vulto
em
meu pé

ilumina e escure
dia e noite

- corta de vez
minha cabeça
e livra-me
de sua armadura

/ivonefs - 02/11/2007

*******************************************

Sedução

...e ele
chegou...

com seu hálito quente

- o ventinho de verão


Arre-Piou


nas falas
aladas

s e d u t o r a s

beijou-me as coxas

e-Le - Vou - me...

/Ivonefs - 02/11/2007

*******************************************

Di(versos)

O meu dia vazio
povoado pelo desencanto

contaminado
por falta de versos

que me estremeçam
me despertem

que reguem a aridez
e mate minha sede

que reclamem
por meus olhos

que se entranhem
e aqueçam

com palavras
desentaladas

desenrascadas
ávidas,

passa sem viço

pois o di(versos)
não di(verte)
em dia infértil

/ivonefs - 01/11/2007

* Di(versos) - uma das comunidade do Orkut, onde posto meus poemas


******************************************

Atados

gozo
o laço desfeito
descobriu a nudez

/ivonefs - 28/10/2007

*****************************************

Paradoxo do julgamento

O que julga, julga-se.

/ivonefs - 30/10/2007

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Posição re(flexiva)

À distância vejo mais
Saio de mim
e livre de minha influência
tudo é primeira vez

vivo (morro) todos os dias
e nasço sol ou chuva
essa é minha imprevisão
sem nenhuma garantia

Deixo as conclusões
que me tomaram dias
cheias de minhas idéias limitadas
cerceando os turbilhões

Atenta, a cobrança apura,
mas a força vísivel do invisivel
socorre em minha secura (surreal)
e umidifica a idéia fixa

Detém-se o olhar
expande-se, sem limite, aprofunda-se
na desordem da ordem
que regenera a vida, alimentando a

r
a
i
z



- Desprendida

de


meu corpo,


vejo muito mais...



...além.

/ivonefs - 30/10/2007

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Ao som de uma flauta transversal...

Por que posso crer
que a beleza encerra
uma tristeza?

e é o belo que me
faz chorar...

me pega assim
de repente

quando sinto florindo
aqui dentro

a vontade
de outra vez
ter falta de juízo

lembrando seus
olhos rasos
ligados

- esquerdo seu
direito meu
lado a lado -

a boca
de riso leve

e o corpo
solto entregue

- é o lamento da flauta
que me faz chorar...

/ivonefs - 28/10/2007

Mar a(dentro)

Meu olhar sobre as ondas do mar
paira no horizonte
e o pensamento em queda, enreda-se

clamo aos deuses que arranquem de meu peito
essa dilacerante angústia
- miséria que lesa e pesa

sobre a superfície conduzam-me
pelas mãos úmidas e frias da brisa
e lá - ao longe - livre e altiva

soltem-me!

êxtase de um encontro
- a plúmbea luz que me feria
a rubra tarde dissipará

em cores e sabores enânticos

/ivonefs - 27/10/2007

Açoite

vela
acesa

(chama)

flamante
derrama

a(dor)meças
nela

- nada a mosca no mel quente mortal, sem pagar o tributo

(e ao senhor feudal,
as banalidades diminuíram)

/ivonefs - 26/10/2007

Tudo

Não vejo a hora
do tempo que espero
ser dia de graça

pele, boca, cheiro
seus olhos rasos
assentados nos meus

tudo pode ser ser tudo (ou nada)
fonte e sede para quem quer
a qualquer tempo

vive em mim (como herança)
a necessidade e a vontade
- nisso não me engano -

o prazer livre não se perde no tempo
é grato pelo vôo
e ousa

voa
ouça
ousa(dia)

/Ivonefs - 15/10/2007

Inteira

O que eu preciso
não precisa ser
de qualquer jeito

o que eu quero
tem olhos perfeitos
e falam nos meus

as mãos
que me tocam
amanhecem em meu peito

a chuva que cai
não traz receio
nem trai meu desejo

e é assim...
simples assim

e nisso você não cabe
- vem dividido
com ares de envaidecido -

e nisso não caibo
sou inteira demais
pra me quebrar

/ivonefs - 24/10/2007

*******************************************

As mulheres de Kandahar

Atravessar entraves nas entranhas minadas da terra mãe dilacerada,
que gera e amputa as filhas puras, priva o entendimento dessa necessária travessia. Em caminhos assolados, desérticos, gelados,em cárcere aprisionadas em companhia da fome, ao lado de mortes brotadas do chão, que mancham e desmancham-se no ar, vive a mulher no Afeganistão. - Onde nem escola pensaram para elas -
Um Deus justifica a ação de frias espadas, que separam cabeças dos corpos e arrancam mãos – ladrão, punição. Mistérios de uma tradição.

A mulher de Kandahar que se cobre, vive porque tem a esperança de um dia ser vista, então sorri e não desiste.

Desligo o vídeo e ainda me acompanham os olhos da mulher afegã seguindo seu incerto caminho sobre as minas espalhadas pelo país.

A esperança... onde encontro?

(Fiz este texto, após assistir ao filme -
fantástico - “A caminho de Kandahar”, há um ano, onde uma jornalista Afegã, - radicada no Canadá- escreve sobre a condição feminina no Afeganistão, enquanto tenta resgatar uma mulher de sua família )


/ivonefs - 23/10/2007


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sábado, 3 de novembro de 2007

Obsceno sagrado

Lambe o sangue
devora o fel
a seco, de frente
a frio

a velha sábia
espeta a verdade
toma a agulha
crava, fere e mata

cinzas se espalham
dentre o invisível infinito
pela vida, a Fênix
recolhe e recobra

obsceno sagrado,
- sagrado, pois cura
sensualmente desperta
prazerosamente navega

-lascívia astuta,
porém inocente
- assim deve ser
e só assim há de ter.

/ivonefs - 24/10/2007

Re(pulsa)

re(pulsa)
náusea
a(versão)

da noite insone
de sonhos aflitos

um grito:

O BELO A RELES SUPLANTOU

- que ânsia que dá!

/ivonefs - 25/10/2007

Açoite

vela
acesa

(chama)

flamante
derrama

a(dor)meças
nela

- nada a mosca no mel quente mortal, sem pagar o tributo

(e ao senhor feudal,
as banalidades diminuíram)

/ivonefs - 26/10/2007

Menino bonito

É seu sonho
do tamanho ilimitado
da fome

tem a idade
da sua vontade
a doçura da infância

olhos cínicos?
olhos reais do dia a dia
- não penso, pois quem pensa emburrece –

mas vive no claro
e na noite suga as dores da vida
e não ignora as putas de tetas caídas

assusta-se em seus diversos
singular feito à medida
sabe sim o que quer

e é bonito
bonito
bonito

menino, te quero no colo...

/ivonefs - 24/10/2007

Aquiescência

Pés e mãos atados
na masmorra
o vento indevoto
aflige e congela
desordena os quereres
- aquiescência do medo

no peito nem o ar pousa
suspensa presumo
para(lítico) nítida mariposa
ninfas em seus casulos
- o tempo mudar[a o rumo

as serpentes ignoram sua efemeridade
- e o encantador faz delas o que quer

ri(mas)
ri(o)
sobre lendas que tornam
as águas límpidas
e regam os lírios que brotam
pelas eras sempre móveis
do olhar que repara...é certo
e aí tudo se transforma

-Teu signo não me manda flores,
mas planta-as em mim

/ivonefs - 22/10/2007

Escasso

o tempo escasso
passa
im(permanente)
à minha frente
e verso

estágios do tempo
deixam a deriva
a espera (vã?)
move-se in(certo)
sempre móvel tempo

de certo
as falas
discretas
ligam
ímãs
alinham-se
e aninham-se
nas horas im(próprias)

assim o tempo é lembrança
de outro...

/ivonefs - 23/10/2007

Dois em um

Em meia luz
a meio fio
refém
algemada
calada
lendo os olhos
gravados
relendo
o tempo passado
que quero presente
onde
tudo liga
a ponto
do tanto que vem
do tanto que fica
do tanto que é
(sem tamanho)
cruza
unifica
o instante
único
de dois

/ ivonefs - 18/10/2007

domingo, 28 de outubro de 2007

Desejo

Prescrevo:

Seja feita a minha
vontade

mas que seja assim
como desejo

livre
por puro capricho
e que me leve
às alturas

se preciso for
pago o preço (sempre tem)
mas que valha o vôo.

/ivonefs - 17/10/2007

Tudo

Não vejo a hora
do tempo que espero
ser dia de graça

pele, boca, cheiro
seus olhos rasos
assentados nos meus

tudo pode ser ser tudo (ou nada)
fonte e sede para quem quer
a qualquer tempo

vive em mim (como herança)
a necessidade e a vontade
- nisso não me engano -

o prazer livre não se perde no tempo
é grato pelo vôo
e ousa

voa
ouça
ousa(dia)

/ivonefs - 15/10/2007

Assinto

Lisa água
Desliza em fio
E toca leve...

Deixa a marca
Da presença
Úmida

Sem escoar

- Assim te quero. ...

/ivonefs -14/09/2007

-----------
meu querido amigo poeta Eduardo Perrone
comentou assim meu poema:

Teu fino tecido...
Úmido.
Enrijecido...
Me encontro.
Que piada será esta?
Que no quase melhor da festa,
Tú desistes
E insistes em assistir...?
Me obrigas ao Voyerismo,
E é um puta egoísmo
Deixar isso tudo
Ou quase tudo...
E desse jeito
Simplesmente morrer.
Teu fino tecido...
E já não mais decido
Se sou eu
Ou você.
/Eduardo Perrone - 14/09/2007

A moça negra

Nos faróis de São Paulo...

No farol da Henrique Schauman com a Teodoro Sampaio...

Sempre o farol fechado
sempre eu, de vidro fechado
sempre à esquerda
minha pista preferida
no canteiro à direita
a miséria

Carros parados
gente apressada
invade, implora por centavos
oferecendo produtos inúteis
tentando valer o minuto

No muro do canteiro
sentada
a moça negra
de moleton verde
chinelos largados ao lado dos pés

Na mão direita um saco plástico
cheio de cola de sapato
aspirava lentamente
revirava os olhos e a boca aberta mantinha
seguidamente aspirava

A lado, um embrulho humano
cobertor carcomido e sujo
jogado na grama feito entulho
era velado
por um viralata

E de novo olhei para a moça
- olhei tanto para a moça -
Que tanto cheirava
olhos embrumados avermelhados
crepúsculo em dias de pouco sol

Ela não me via
- O que será que ela via?
-uma imagem
uma viagem
um minuto, além de qualquer compreensão...

/ivonefs - 12/10/2007

*******************************

Saída

Ao raiar da tarde
sua voz tão alheia ao meu silêncio
toca-me como velha conhecida
- ou seria minha própria voz que já não reconheço -
e de tão acostumada ao meu modelo
nem percebe minha face rígida
que ignora o sopro e não se volta

Fixo em outras dimensões
assimilo toda volta
onde nada me pertence
espectros, aspectos de simples
e complexos reflexos
originam meu espanto
num vale de enganos
que pretende me iludir
que pretendo me livrar
Os ruídos que supunha
um canto lírico compassado
aquilo tudo derramado
eram cascas soltas
desprendidas de propósito ou não, sei lá
- incógnita

Todo o meu que não me cabe
sufoca, transborda e não resigna
as dúvidas de quem mau vê
- Ao fim não se chega e nem sempre o recomeço te beija.
O mesmo fogo que te atrai, te queima impiedosamente

Que mistério é esse?

Nos caminhos encontram-se os vestígios
do que foi e do que é
e o que será procura a saída
juntando fragmentos das horas passadas

Impressões, ações, reações
pouco e tanto a um só tempo

- Nada se perde e nem se carrega que não se queira.

Há quem ganha: a poesia
rainha e mestra inesgotável
contém o incontido
toma-me e faz eterna minha vida...

/ivonefs -= 10/10/2007

Águas rasas

Clara essência
envolve-me
coalha meus rios
e zonza que eu caia
em seu colo seco
de ossos moídos


após
sol
sede mais
nós

A água em minha boca
não tem o gosto do teu sexo

Miragem
rasas águas
claras
molha-me
lava-te

/ivonefs -

Meu amigo poeta Eduardo Perrone, comentou
este meu poema assim:

For You...

Meu colo é a areia da praia.
Sente. Aproveite.
Me beije
E deseje que a tua correnteza
Te traga a certeza
Do que realmente é:
Rios caldalosos
E quentes...
Umidade. Intimidade
De mulher.
Se te absolvo
Não absorvo
Tudo o teu rio.
E río...
Río o riso
De quem sacia a sede.
Trago
De volta de teu mar
A minha rede.
Molhada sim...
E por que não?
/Eduardo Perrone

*****************

Bracelestes (para Flavia Valente)

Após tentativa de suicídio, passa uns dias em uma clínica psiquiátrica.

Estava no jardim e um rapaz bonito e moderno, usando incríveis braceletes
trançados em seu pulso, chama sua atenção:

- Uns dias aqui para aliviar o stress? - ela pergunta.

Ele sorri e estende os dois braços com as mãos voltadas para cima... /

Imperfeição

Num palco de luz
de fundo chita
compondo o cenário
impondo coragem
a quem assistia
e logo teria neleos pés
do destino traçado
via-se lá no alto
acima de um pensamento
em uns olhos escondidos
acima de uma vontade
como numa profecia
uma ruidosa impaciência
que espreitava o momento
em vista de tantas curvas
e dúvidas inebriantes
sina de quem cisma
e tem um guia
que espeta como agulha de vodu
e joga no fogo ardente
mostrando os dentes...

E eu nem queria saber
- mas livrai-me da verdade ou da mentira,
sem ira
à vista de quem nem precisa entender...

- Ah! as águas doces onde as ninfas se banham...
têm a transparência de um dia em que as nuvem voa
me o sol a pino transformam-nas em tremeluzentes
gotas, intensas, restauradoras –

E sangrava e estancava...a imagem desvirtuada
procurando deszelada
o porto onde a maré favorável
lhe devolveria o chão

Os rostos coram e empalidecem
mas, e a inocência
que vela o gesto singelo?

A doce amora tem cor forte
na retina tem passagem livre
o sonho não pode ser ludibriado
há sempre uma cobrança
como um crime a ser expiado

E quem me fez tantas coisas ver?
- eu nem queria...

Até fiz uma prece:

- Pai,
permita-me imperfeita
serei interessante e apreciada
livrai-me de tanta compreensão -

/ivonefs - 03/10/2007

Verbo

Um poeta me disse:

"Amor e dor
são verbos
perfeitos

Quando conjugados
no particípio
sem jeito"

Eu era o sujeito
que pensava

Que amor e dor
não se conjugavam

____
* poeta - Anderson H, meu amigo

/ivone fs - 02/10/2007

domingo, 30 de setembro de 2007

Só (um dia)

Vultos velozes me ultrapassam
impressões disformes incolores
o vermelho me freia e por dentro me acelero
a melodia recria a cena da tarde que passou
- no tempo para viver em minha memória.

O vento inquieto rodopia com as árvores
que ladeiam a rua e desprendem de seus galhos
flores amarelas miúdas... muitas
- são como borboletas que voam para morrer
e tão delicadamente tingem o branco do ar.

Há vida em toda vida que se vive!

Caminhei por entre ruas de imagens congeladas
onde o sol em entrevindas pinceladas me cegava
escorreguei, caí e o limite quase me prendeu
- severamente apiedei-me de mim mesma

Pisei em palhas enlameadas onde corpos estúpidos labutavam
aparentemente amuados pelos suores escorridos
mas desmanchavam-se em sinais gentis seus gestos embrutecidos
e correspondi aos seus afagos em silêncio ruidoso

Em meus poros a inquietude afluía
e o peso da carga excessiva me fez mudar o rumo...
Em miúdos : me venci.

ivonefs

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Flores silvestres

As flores no vaso
Amareladas pelo tempo
Afundam-se
Na insignificância
da vida finda

A santa ao lado
Jamais esboçou um riso
Nem por motivo
Nem por vontade

Girassóis, bromélias, prímolas
Azaléias risonhas
Cravos em botão
Rosas em tantos tons

Você me diz que me dará vida
E eu...Compro flores silvestres.

ivonefs

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Incondicionalmente

derrama a lama
que inunda meus olhos
incontida vertente
eclodindo escrementos
da ânsia nauseante
incômoda que me devora

a irônica imagem
espelhada de um desejo
se quebrou sem um toque sequer
e vagueiou cambaleante

Logro ou loucura?

o ilusionista faz a cena
mentira ou verdade
mede e pesa
- como se pudesse, mas ele pode -
e encanta os olhos
despreparados ou puros
de quem nele acredita

sonhar devia ser isento de querer
o querer é muito exigente
extrapola e derrapa pela sola
esfola-te e explora a alma
ao cabo de te adoecer

o custo chega sem aviso
mas pode até ser nobre
afinal, só quero ver-te feliz
isento-te de mim
incondicionalmente te amo
e choro.

domingo, 23 de setembro de 2007

Fronteira gris

Os passos que crio
E me levam aos becos emboscada
Também me adormecem
Por asfixia

À noite ingiro um sonho
De manhã é insosso

Tudo por um triz
A fronteira mediana gris

Peguei carona nas asas de um pássaro
Que passou por minha janela
- Queria ver dos altos

Da distância de mim mesma
Ebolui nas nuvens
Mas não torrei qual Faetonte

Só finquei meus pés
Diante de uns olhos rasos
Que me fitaram - quase me implorando -

Os passos que crio
Me levam à boca macia
Que me refresca
Em sua membrana na minha

Tudo por triz
A fronteira mediana gris

sábado, 22 de setembro de 2007

Arraigado (MJulia e Ivone)

Hoje a filosofia boiou
nessa cabeça sem rumo,
questionou o que foi que sumiudo céu azul escuro
de onde minha sanidade aspergiu,

eu vi que me vigiou todo o dia
bem antes de o sol dormir,
ou era uma expressão dos céus
a conspirarem farta alegria?

olho pro alto, e vejo em nuvens transformado
o peso do desejo arraigado
que insistia em me prender,

ha! não venha me dizer
que eu rio em demasia,

eu apenas deixei escapara
lgumas gargalhadas
pra encobrir a dor que em mim ardia.

Maria Júlia Pontes e Ivonefs

A tua fé é meu pedado (Paulinho Bonfim)

(à Ivone, minha fonte inspiradora)

Hoje enquanto lia
Fernando Pessoa
Acreditei em Deus.
Mas quem lê Fernando Pessoa
Não acredita em Deus.

Hoje tive vontade de dar fim à própria vida
E foi-me a lembrança de uma boca em carne crua
Que me fez adiar tal ato por mais um dia.

Entre o céu e meu coração existe um elo
Há muito tempo corrompido.
Troquei meu amor a Deus por alguém
Que usa vestidos.

Por mais que eu tente me aproximar de Deus
Não consigo.
Pois ao lembrar-me ivonescamente de tua boca
Confundo fé com libido.

Paulinho Bonfim

************

Estrela da Manhã , por meu amigo, irmão Eduardo Perrone

Sob a inspiração de Ivone, nessa manhã linda.


A estrela da manhã
Teimou em fazer par ao Sol.
E logo ela, princesa da noite,
Que nunca precisou
De par algum...
Seu brilho na noite escura,
Sempre foi
Referência segura,
Dos navegantes solitários
Que buscavam seus destinos.
Estrela visceral...
Coração , útero e intestinos...
Coração que ama visceralmente,
Útero que chama visceralmente,
Intestinos que identificam a merda
E naõ mentem...
Obrigado Estrela da Manhã.
Não fica perdido o teu ato,
Pois é fato que a tua luz é bonita,
Mas nem isso, meramente,
Justifica
O tamanho dessa tua luz.
Obrigado pele referência.
Obrigado pela decência,
Que , percebendo a decadência
Iluminou ( e ilumina) o meu caminho.
Já aqui te digo,
Sou só um menino...
Mas , homem também...
E se a vida " é na porrada ...
"Dela , inclusive, não vivo sem.

Des(controle)

Acordo

A parede branca
O papel em branco
Desmargeado

As palavras vazam
Desvairadas

Piso o chão
Estatela
Despedaça a lama seca

(Des)controle
Repugno

Piso o chão
Estatela
Despedaça a lama seca

Vermes pútridos

Des(metrifico)

terça-feira, 18 de setembro de 2007

A Cadeira de Ouro

“Édipo: - Cabe aos mortais carregar o peso que os deuses lhes impõem”As Fenícias – Eurípedes

A cadeira de ouro
É encantada,
Dá-lhe um prazer
Que a nada se iguala.
Ganhou por disputa.
Nela sentaria quem fosse escolhido
Por convencer ser o melhor
Para o bem de um todo.
Mas como convencer a todos?
Uma pergunta sempre tem uma resposta.
E foi assim que ele se sentou na cadeira.
Até achou, afinal, muito fácil
Um dia ele recebeu a visita da Esfinge
(Aquela que todos pensavam ter sidodestruída por Édipo).
Ela veio disfarçadaVestida com a roupa da fome.
E sorrateiramente lhe prometeu a cadeira.
Pois desejava viver por aqui.
Mas como convencer a todos?
- Ora, minha cara é feia
De mim todos querem se livrar
Onde estou a razão vaza
O delírio cega
É vão o argumento do erudito
As bocas famintas a mim se rendem
Só a morte quer me devorar.

E assim aconteceu:
A cada cidadão que ela atingia
-E foram tantos, que se tornaram a maioria -
Uma migalha era oferecida.
E lá ele permanece
Quase nem fica sentado
Prefere visitar outros reinos
Enquanto seus ajudantes
Arrecadam o ouro
E devolvem esmolas
Alguns acabam banidos
- Por mau comportamento -
Esse é o perigo para eles
Outros são protegidos
Talvez pelas oferendas nos altares deixadas
A esfinge está rosnando,
Têm uns olhos lhe fitando.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Asilo (Ivone, Sirlei, Tiago, Ivone, Giovani - sequência das estrofes)

Poema a várias mãos - amigos do BDE (Bar do Escritor)

Asilo

Tempo do nada
Restos de vida
Secam o ar

Tempo de espera
Mera quimera
O tempo não há

Haverá paz no final?
Não.
Mas haverá final.

No tempo se passa
Perde-se a graça
Quem deixa a vida secar..

Exílio da esperança
Moribundos saudáveis
Em espera que cansa

Asilo

Tempo do nada
Restos de vida
Secam o ar

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

A Estrela da Manhã (Ivone e Perrone)

Às cinco da manhã
Num despertar sonolento
Em meia penumbra
De luzes se apagando
A estrela maior me chama
E me lembra que segura
Solitária o encantamento
Do céu noturno quase sem fim
Já aponta o primeiro raio
Fisga seu corpo e engole
Vejo seu rosto preso em mim
E amanhece...
Veste tuas veste do dia.
Aquela bata de seda
Que a pele me arrepia
E me beija com a boca
Ainda ocreDa noite passada.
Meu rosto ficou preso...
Meu corpo, ainda teso...
E é cedo...
Cedo demais para acordar
.Volta e deita comigo,
Te dou meu corpo
Como o abrigo
Dos raios de sol
Que teimam
Em varar a janela...
Fecha a cortina
E abre o teu sorriso.
É só isso que preciso,
Para eclipsar esse Sol inconveniente...
Esse Sol que acorda a gente
De um sonho noturno,
De um jeito soturno,
Incapaz de me fazer
Anoitecer
Sem você...

Ivone fs e Eduardo Perrone

A estrela da manhã

Às cinco da manhã
Num despertar sonolento
Em meia penumbra
De luzes se apagando
A estrela maior me chama
E me lembra que segura
Solitária o encantamento
Do céu noturno quase sem fim
Já aponta o primeiro raio
Fisga seu corpo e engole
Vejo seu rosto preso em mim

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Sacrífio

A alma derrama
Escorre em desperdício
Isso é sacrifício

Espia o crime
Assiste ao filme
De outra história

Vaga, indaga a presença
Assente a transparência
És vidro lapidado

Ressente a mente
Espreita, espreme e geme
A ceifa insere a cara

Rara beleza presente
Olhos em desvios
Poços de alívio

E cio sem ninho
Rios em desníveis
Ululam suas amarguras

Antes libações
Que a dor que converte
Em pura necessidade de te ter

sábado, 8 de setembro de 2007

O gato e a pedra

O gato tropeçou em uma pedra, indo ao chão, quando caçava num terreno baldio.
Irascível grita: - Pedra, seca, dura, deve divertir-se muito por bloquear meu caminho.
A pedra serenamente responde:
- Repare bem em mim, posso ser o mercúrio dos filósofos e você o gato de sorte.
O gato era egocêntrico demais para ver qualquer coisa.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Essencial

Há dias o vento não sopra
Estático fica o verso sobre a mesa
Na espera da palavra seguinte
Como alguém esquecido
Desses que passam tão despercebidos
Que nem a si mesmos se vêem.

A mesmice dos pequenos assuntos
Círculos viciosos canalizados
Mediocrizados em leigas sentenças
Transformados em bestialidades
Anacrônicas infrutíferas.

Não é do vazio vago vácuo
É do exagero sem nexo
Da multidão que se arrasta
A massa que passa ligeira
Vai e vem sem fim
E assim faz o verso ruir

É como o caso encerrado
Do beijo cansado da boca que toca
Da presença invisível, ignorada
Do sol que nasce e morre
Nos dias de passos lentos
Arrastados em nenhuma direção

Quiça há de surgir um rugido
Setembro germinará a semente esquecida
Os versos entoarão canções
E na beleza das flores frescas
Cores, fluidos, aroma, em soma
A delícia de ser o que é ...essencial é

domingo, 2 de setembro de 2007

Luz Rarefeita

Nos caminhos oblíquos
De pedras lisas
Meus pés deslizam
Fazem-me equilibrista
E maleável arbusto
Que ao vento não resiste
- Consinto o sentido.

Na curva à direita
O alçapão espreita
Retém espectros
Em luz rarefeita
Apresenta-se o medo
Figura estranha
Que revolve entranhas
Aniquila verdades
Inibe vontades
- Esbarro e livro-me

À entrada observo:
A soleira é baixa
E a humildade pleiteia
Que nela não me esbarre,
Pois fundo é o precipício
Do auspício quebrado
E grande é o risco
Das costas virada
- Encontro a medida e passo...

Didática

O menino de oito anos tem uma preocupação diária.
Faz a lição de casa com rigor, pois não quer "levar bilhete" na agenda.
Não entendo essa didática, que faz o menino pensar que o "bilhete"
é mais importante que o próprio aprendizado.

Sêmen(te)

Sêmen,
Prazer que fecunda

Do sonho proponho
O filho que quero
Por nome Antonio

És sagrada semente
Que engulo em doses

Do beijo desejo
A fome que leva
A ter teu despejo

Em minhas espumas
Encontra teu berço

De ti nasceu Afrodite
Que mora em mim.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Manipulação

Não temo a fome que assola
Nem a falta de educação
A adulação amola
Revigora a regressão

É sabido, nem é dito
A água do rio flui no seu ritmo
Vence pedras, se molda
É o mar seu destino bendito

Elevados a imaginários deuses
Vereis ruir tua êfemera vontade
Posto que incontrolável é o fado
- Almejai como a água almeja o mar...

Solo sáfaro
Nada em ti nascerá.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Gabriel

Tenho quatorze anos. Faz um mês que completei, nossa, como o tempo passa, já estou com quatorze, nem acredito!
Em minha frente, preso à imãs, está meu pai, estaticamente sorridente, me olhando. Estranho...é o máximo que consigo dizer. Ele também gostava muito da companhia dos livros. Nisso somos bem parecidos. Não nos títulos. Ele gostava desses livros chatos... Fernando Pessoa, Nietszche, Aristóteles, Saramago e principalmente livros de Economia. Mil vezes Harry Potter, Crônicas de Nárnia...Ah!. Meu pai... é estranho...muito estranho! Ele também vagava pela casa de madrugada e acaba sempre na cozinha. Gostava mesmo de comer. Nisso não somos parecidos. Eu prefiro outras coisas, sim, outras coisas...
Será que ele me condenaria? Minha mãe, Deus me livre, ela com certeza.
Melhor virar essa foto, não quero que ele me veja.
O celular vibra e meu coração dispara: "Entra na Net". Obedeço. A Net já está ligada e todos os meus mais de duzentos contatos bloqueados. Não quero que ninguém me veja...Verifico mais uma vez se a porta está mesmo trancada e enquanto espero a conexão de vídeo, retoco nervosamente e apressadamente, meu baton.
Gabriel tem vinte e cinco anos e já terminou a Faculdade. Só não consegue se livrar daquela sonsa da namorada dele. Nem ligo, azar o dele, que vive reclamando.
Mais uma vez me olho no espelho colado à parede do lado esquerdo de onde estou.
"Gostosa", vejo escrito na tela. Gabriel está sempre de pau duro e adora me ver despindo...///contato bloqueado///.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

A rosa

Uma rosa no copo
Botão que se abriu
E morreu em Agosto

Pra que serve um poeta?

Eu não sou poeta
Sou ambígua
Sou mutante
Ser poeta
Me restringe
Palavras
Traços
Rimas
Métrica
Quero ser livre
Para que ser um poeta?
Na calada madrugada
Ouvirei o silêncio
A palavra dormirá
Não virá me despertar
Pobre poeta
Em versos úmidos
Germinados
Se verte
É sua sina
Eu não sou poeta
Sou reverso
Por si só,
É a poesia
Pra que serve um poeta?

domingo, 19 de agosto de 2007

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Quando chegares

Quando chegares
Diga meu nome
Molha minha boca com a sua
E no toque de suas mãos
Revela-me teus segredos
Embrenhe-se em meu íntimo
Serei toda desenvolta
Aos teus olhos incandescidos
Revire meus ângulos
Arranca meus gemidos
Mas segure a hora
- A demora torna a fome fera
Quando chegares
Não diga meu nome
Vem, me devora
como ceva rara.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

sábado, 11 de agosto de 2007

Intricada

Velo o silêncio pesado
emboscando a ausência
exacerbada de trilhas
À risca traço códigos enredados
em veredas inóspitas

Deleto

Reviro inciente
Tardes ocas, chocas
Nem o doce cicio de sua voz me embala
Por que intrico?
Ai de mim...

As luzes da cidade

Da janela vê-se constelações e galáxias
Estrelas de mil cores dançando nas ruas
Correndo nos autos que se cruzam em vai e vem
Riscando os vãos da cidade.
Pousam oscilantes nos emaranhados metálicos
Empoleirados nos altos da Avenida Paulista.
Vestem de azul a torre da Igreja.
Escapam dos olhos de prédios enfileirados.
Desenham o Cruzeiro do Sul, as Três Marias.
As luzes de São Paulo caem no horizonte
E eu penso ingenuamente que vão iluminar
O outro lado do mundo

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

O estudante e o médico

O estudante de comunicação e o médico libanês jogaram bilhar, beberam,
conversaram e filosofaram até altas horas.
Na manhã seguinte, o jovem acorda confuso e enojado.
Combalido veste-se e foge dali balbuciando:
- Maldita carona, maldito drinque...

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Meus poetas

(Homenagem aos poetas do Bar do Escritor)

Quem me dá o tom
Senão as palavras
Impregnadas de sentido
Lançadas de si
Plantadas aqui
Almas derramadas
Verbalizadas
Sutis
Escancaradas
Camufladas
Efusivas
Vibram como notas
som puro
percorrendo as cavidades
Delicio, morro, renasço.

Centelha

A insegurança a levou ao mais alto penhasco.
Subjugada permaneceu. Não via a luz, não acreditava nela.
E quando adormecia sonhava, mas nunca se lembrava dos sonhos.
Numa noite fria, a lua resplandeceu e refletiu um pedaço de papel
em branco, ferindo-lhe a vista.- Para que me serve um papel em branco?
Não tenho a tinta para borrá-lo enem quero lavrar amargas palavras.
Adormeceu na mesma hora de sempre e novamente sonhou os sonhos
que nunca se lembrava.
Acordou no meio da noite, com a lua ainda no meio do céu.
Sentiu um toque em seu rosto.
Rapidamente prendeu o papel e o levou para diante dos olhos
com uma impetuosa curiosidade.
Estava escrito: comece.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Encapsulada

Noite e chuva se misturam
Respingam fios miúdos
Escuros e úmidos
Caindo em transe
Tremeluzindo à luz
Trazendo as guias
Da melancolia fria
Que rodeia meus passos
Em voltas e contras
Vestindo a revelia
De cores esdrúxulas
As horas que arrasto
Quando colo meus olhos
Na névoa que encobre
Os vícios de antes
E resgato a imagem
Debruçada na memória
Encapsulada para não me perder.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Disfarce

Disfarço
Os medos em risos fingidos
A saudade em versos malditos.
Os sonhos conto em lendas
e as vontades onanizo...
O amor sangra em silêncio
dentro do peito aflito.
Grito interno
que regurgito em dia de tanta
ardência e penúria...
Penúria da alma insone
que em versos se consome.

Sirlei L. Passolongo e Ivone F. Santos

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Despertai (nanoconto)

Era tão estreita a passagem que não conseguia apreender nem mesmo os ruídos desejáveis. Cabia tão somente sua matéria, inanimada, arrastada, aleijada.
E um inquisidor a espreitava: - sua culpa.
O monstro a engoliu.
Quando acordou deu-se conta de seu sono.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Retrato

Nasceu na praça.
Cresceu na praça.
Cheirou cola.
Vendeu crack.
Não foi para a escola.
E nem me leu...

Vacilo (nanoconto)

- Ele virá - disse trêmula e aliviada, apertando o celular entre as mãos.
Ansiava por vê-lo.
Logo de manhã, seu peito seria aberto e o coração restaurado.
Ele se atrasou.

sábado, 7 de julho de 2007

Dupla rejeição (miniconto)

Diante dela, acomodados em macias e peludas almofadas , lamentava sua sina.
Ele, um jovem psiquiatra, recém formado, casou-se, após concluir residência.
Sua esposa, estilista de moda, viajou a trabalho para Itália. Esperava ansioso
seu regresso, mas fora duramente surpreendido. Ela voltou acompanhada.
Reencontrou um antigo namorado, coisas do destino. Justificou :
- Não sinto mais tesão por você.
Nesse momento, ele cobre o rosto com as mãos.
A amiga ouvia e observava cheia de compaixão e gentilmente o consola
acariciando seu rosto beijando-o nos lábios. Ele excita-se e começa a despi-la.
Ela o afasta.
- Porque não? Veja como estou!
- Porque não sinto tesão por você.

(Baseado em fatos reais)

Vacilo (miniconto)

No gélido quarto do hospital, movia –se de um lado ao outro com olhar aturdido e pensamentos em frangalhos: “Se ao menos ele viesse.”
Logo de manhã, seu peito será aberto e o coração restaurado.
Assusta-se ao som do celular, que esteve tão quieto nesse dia.
Era ele, finalmente ligou: - Ah sim, claro, bem cedo.
Ele viria. Emocionou-se, como não devia. Ofegante, sorriu sentindo
escorrer por sua face, quentes e sentidas lágrimas de alívio.
Amava-o e desejava ardentemente vê-lo antes da cirurgia.
Adormeceu com um sorriso nos lábios.
Sonhou desconexos sonhos, sempre interrompidos pela presença de uma
enfermeira. Irritava-se com esta invasão: “Deviam bater na porta antes
de entrar”." Mas que bobagem, estava num hospital e sofreria
uma intervenção cirúrgica séria e reclamava de um detalhe tão sem
importância."Finalmente amanheceu. Ela, ligeiramente apreensiva,
mantinha os olhos na porta. Recebeu todas as visitas de médicos e enfermeiros.
Foi encaminhada ao centro cirúrgico. Estava muda e pálida.
Da maca, olhou mais uma vez, a porta do quarto que deixava para trás.
Sumiram o corredor e a esperança.
Buscou uma lembrança e com ela partiu...E ele? Ele se atrasou.

sábado, 30 de junho de 2007

Sagacidade

Ela foi para o mar. Andou, andou... Imergiu. Ele, atordoado, percorreu a praia. Viu seus rastros. Procurou sobre as ondas, mas ficou na superfície.

sexta-feira, 29 de junho de 2007

NOITE ADENTRO II

Que dizer das horas incertas
Das vozes sumidas
Do meu deserto
Do dia vazio que eu não vivi ?

Do dia que passa
Sem graça, sem vazão
Inanimado, aborrecido,
Interminável sequidão

Cansei da espera
E vi que era além, muito além
Da esfera que eu mesma delineava
Que havia um mundo
A minha espera
De horas cheias, de vozes doces

Ainda espero...

E é nessas horas incertas
De vozes sumidas
Do meu deserto
Que ouço a voz do que quero!

NOITE ADENTRO

Ainda espero
Sufocando o sono, mas
Quem sabe em sonho...
O inesperado ...
Ainda insisto,
Mas pelo visto
Melhor ouvir o silêncio
Tão presente
Tão amigo
Tão denso e cheio de vozes
Rompe o círculo
De imediato
Uma direção
Sem escuridão
Eu me venço
Eu desisto
Da espera
Do cansaço
Eu me basto!

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Palavras

De tanto pensar não disse nada.
Contive as palavras.
Quando chegou não percebeu o quanto havia em mim.
Quando saiu, nada levou.
Fiquei tão inundada que me pus a escrever.
E a cada palavra que saia mais enchia minha alma
Tirei as palavras que já não eram minhas
Tirei as palavras que seriam suas
Saíram de mim por necessidade
Para torná-las mais vivas
Para não mais sufocá-las
Ainda neste momento
Deixo sair mais uma palavra
que pronuncio e escrevo...seu nome...

domingo, 17 de junho de 2007

FAROL: AV. HENRIQUE SCHAUMAN X TEODORO SAMPAIO - SP


Não digo indignada
Indigno é o fato
Eu, piedade
Vergonha, autoridades
Culpa, responsabilidade
Reflexos
Cabelos emaranhados
Pés descalços
Dorsos nus
Sono em pedra
Olhares compridos
Barriga saliente
Vida e ventre
Exclusão
Vidas perdidas
Nunca uma mesa,
Filé mignon, sobremesa
Pobreza assimilada
Férias, escola
DVD, PC
Sonhos
Pai, mãe
Crianças, tantas
Tantas crianças
Nossas crianças
Sem esperança!

terça-feira, 12 de junho de 2007

O Amanhã

Vivo este dia, não como se fosse o último,
pois nele não cabem todas as coisas que quero
e muitas vezes passa vazio ( sem essas coisas que quero).
Vivo sim, o presente.
E o meu presente é o hoje e o amanhã
e é, também, o ontem vivo em minha memória.
Em toda minha vida esperarei o amanhã,
onde sei que terei novas chances.
Um amanhã de novas possibilidades
Sim, o amanhã, que poderá ser um hoje pleno.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Hoje o vento parou. Parece esconder um segredo que não deve ser revelado.
Parou para silenciar a palavra que não deve ser dita.
A palavra inquieta que amanhã me arruinaria.
O vento parou e me parou por cumplicidade...

quarta-feira, 30 de maio de 2007

MEUS OLHOS DE DENTRO

Ao tentar me encontrar
Distanciei-me de mim mesma
Estive ao léu por puro desejo
Deixei a vida me tomar

Esvaziei-me de tudo e vejo
À distância, um vestígio,
De uma forma, um resquício
Bem distante é o que vejo

Mas inteira ao sentir
Sentir é sem limite
Sentir é perceber
O que os olhos não podem ver

Os olhos fingem
Os olhos vêem o que querem
A alma vê o que sente
E consente que se veja

Ao tentar me encontrar
Entrei em mim mesma
Vi o que os olhos não viam
Ultrapassei o limite do medo.

segunda-feira, 12 de março de 2007

MEU AMADO

Passeava desatenta
Num mundo onde tudo é permitido
Uma voz me chamou
E eu segui
Fui andando, fui ouvindo
Fui contando, me entregando
Sobretudo fui sonhando

Uma brisa que passou
O ar se transformou
Tudo em volta ficou leve
Tudo em volta ficou novo
Fui seguindo em um caminho
Que levava a uma fonte
Bem atrás do horizonte

E a voz que me chamou
Lá na fonte me esperava
Pra me dar daquela água
Era noite,
Fim de noite
Começo do dia,
Meia-noite
No meio do tempo
Em meia luz
Luz do firmamento
Era a hora e o momento
Se cumpria, assim seria
Nada mais impediria
Nem o tempo
Nem o espaço
Era a hora, era o dia!

Entre sonho e realidade
Entre o ontem e o hoje
Entre hoje e o amanhã
Quando no meio da noite
Seus sussurros me atingem
Na loucura do desejo
Alheia ao tempo
Alheia a hora
Meu amado me chamando
Me transporto sem demora
Para um mundo que é só nosso
No espaço que criamos
Ou criado para nós!

Uma voz, um sussurro, um eco....
meu amado me chamando...