segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Nas horas que te penso em mim


*

Amor, na luz do dia que inicia
quando vadias as horas dançam
quando as palavras não saciam
e um toque em tua porta ouvires:

veja como chego - um susto de encanto -
venho toda com o tempo de dentro
tua boca impetuosa busca a minha
nos tomamos de nós. me lambusa
de unguento. é nosso tempo

venha lento, me alimenta
um rio sereno me envolvendo
te descobres em minha pele
e eu me penso grande
me penso tua.


Ivonefs

domingo, 20 de janeiro de 2008

Areias


I - Viagem

As asas imensas
que a transportaram
voaram Saaras

as árias intensas
que a conduziam
calaram Marias

das Dores
das Graças
das Virgens



II - Deserto

Na areia solta,
pegadas de caças

tudo miragem...será?

em que pesar?
onde pousar?

a alegria se revira
até os dentes
e se contorce

o peito tomba
e a boca beija
o que encontra:

- um solo árido,
desaponto

em tese - já é muito tarde
nada peça!

e seu grito...era interno.


III - Pouso

e assim o nome surge...

o deserto habitou-se de letras
e fui tomar um café no fim do mundo.
Levei a água que faltava
molhei a areia remexida
misturei a precisão
com pó branco e açucar mascavo
refiz uma história
que nunca na vida
será uma constatação
pois volta e meia
uma outra já é nova
- Felicidade Comprimida


IV - Vulnerável

Era perto
que de tão perto
se distanciava

e tinha tudo,
mas um tudo
desses completo

que não precisa
de mais nada
nem esforço, nada

e é por isso que doía
certeza demais
dói muito mais


V - Ausência


Aflição de um céu
poente
olhos airados
passagem lenta
de dourado
a cinza oculto

De bruços me deito
a areia me aqueçe
e penso: teu corpo
- aperto no peito
sufoco um soluço -

Calada
a escuridão me esconde
a aflição aumenta
um vento incandescente: Vesta
e os grãos em brasa
me cobrem

Lembro-me que o sonho é...
nunca será uma noite
(essa) esquecida

Adormecem os ruídos
e te respiro

Em minhas costas
meu, teu ... gemidos



VI -Consagro ao deserto meu desejo


Vesta e Vestais
um temporal
vento e fogo
cidadela
areia e água
vergonha
atrito
tagarelas
enregelados
sentidos
retina
branco
translúcido
alma
corpo
espedaçados
impotência
lúcida
de um fim
apego
desapego
entre meio: indiferença
duas vidas
inflorescência
entre a vida
entre a morte
além do desejo
o amor
expansão

... seus pés deixam pegadas leves e rumam...


Ivone Fs

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Miragem

As asas imensas
que a transportaram
voaram Saaras

as árias intensas
que a conduziam
calaram Marias

das Dores
das Graças
das Virgens

- na areia solta,
pegadas de caças

tudo miragem...será?

em que pesar?
onde pousar?

a alegria se revira
até os dentes
e se contorce

o peito tomba
e a boca beija
o que encontra:

- um solo árido,
desaponto

em tese - já é muito tarde
nada peça!

e seu grito...era dentro.


Ivonefs

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Em ti repousei

Sou refém sem algemas
acaso vês?

não saio do lugar
e tremo e temo

em cada dia circulo
no antártico brumado
esquecida

e gelo e gemo

presa de teus olhos
presa de tua ausência

presa em espera
diante de portas cerradas

num fio que me corta
tão fino tilinta...

...em ti repousei
e nem te sei.



Ivonefs

Os temores se superam nas pederneiras

As minhas letras me desenham. Nelas meus dias atravessam,
não as prostituo, nem elas me usam. Envolvo-me em seus traços.
São meu avesso, direito, esquerdo, de cima a baixo; meus anseios e delírios
deitados à tela. Na busca me embrenho e não me engano. Constato.
Minha natureza é como outra qualquer. Sou como os insetos, como as flores,
as espigas de milho, as lagartixas...Ninguém mudará.
Desvios forçados, infelicidade!

- Liberdade aos escravos em sua vaidade, em seus vícios, em suas vontades.
Não nos desgastemos. Deixemo-los livres em suas variedades.

Mas quando você me diz que suas mãos serão sempre minhas, meus temores...
ah...meus temores se superam nas pederneiras.


Ivonefs

Arte abstrata

Serei serena
na noite conturbada

Teu nome passeia
em meus lábios
- chamo e não o vejo
grito e não me escutas -

Meus delírios acordados
são como noites suspensas
quando caminho em nuvens densas
onde contorno os tons

Estás tão longe e penso - Kandinsky

Envolvo-me na paisagem indefinida
de tintas frescas, onde me componho
nas cores vibrantes que rimam
com teus seus olhos fortuitos...


Ivone fransa

Madrugada

De um ponto
ao outro
tem o silêncio
e a supensão do ar

nele contém
batidas fortes
e todo movimento
é em linha reta

até quando se dobra
a esquina
ou se perde
a direção
só se vê o ponto

e quando o encontra
só se vê no desencontro.


Ivonefs

Realidade cruel

A mãe, na cadeira de rodas,
pernas amputadas

O filho, em sua frente,
drogado demente

- obriga-a a tocar...


Ivone fran*s

De mais ninguém

Ainda sou o ontem
que cortou a noite

e ao meu lado
um sol esfuziante

com os dedos molhados
tocava Rock in versos


Ivone Fran*s

Indio

És uma impressão,
um clarão
um ponto vermelho
um verde em profusão
um arredio do espelho
um tronco ereto
belo, ligeiro
um índio atento
um relâmpado
no meio da cena
que mata
minha a sede
que volta
mais ardente...

...e a noite existe!


Ivone Fran*s

Ironia

No álbum de fotografia
tem os olhos do momento
- luz apagada para troca de cenário

A imagem, agora arrancada,
é calafrio e febre no cérebro
e no peito gelo e tremor - dor

Diante da ira, elimina-se
- há mortos e semi-vivos
sem antes e depois -

Aqui e ali, imóveis,
a frieza escura que derreia
acumula as distancias, freia

e o que pensava existir, era frágil e covarde
ironia


Ivone Fran*s

Algo(dão) blues

Hoje eu quero um canto,
um canto pra nele me encolher
e ficar sem tamanho. Em teu colo
indômito e estranho, quero blues recolher

Deixar a luz apagada - in chama
apaziguar as fissuras, das noites
veladas, em chamas. Despejá-las
na corrente sanguínea. Jimi Hendrix!

Hoje me ponho em renúncia
Deito-me nas águas profundas e flutuo
Piso em brasas inflamadas até
a última gota amarga escorrer

Meu corpo derruído – folhas caídas
Fogo e gelo (desmaiado). Ouço um
canto apartado, esquecido, remendado?
Branco, negro... algo(dão)... assim renasço!


Ivone Fran*s

Cabana Azul

não me tome
em uma taça!

antes,
me veja em pele crua,

pouse a língua
e ouça o tic, tac...

- descompassa?

serei sua
e de mais... me serei,

*
*
* eu vi o céu...
*
*

nas horas de Helena
os vícios queimam
em cores plenas

serenas tremeluzem
as chamas curtas
das velas que enredam...

...o dourado fio
a que se entregam
à luz miúda

na cabana azul...


Ivone Fran*s

É assim...

Onde me pensei
passiva, descobri
- mera cativa

de ondas embriagadas
de negações antecipadas
de pouca fé ou quase nada...

Retomo o leme
cuspo nas deixas
remelexos e danças

Sou a pulsação que arde
sou o teu desassossego
sou real, na tua carne

- a doce bebida que te sacia

Em teus desvios
arbitrários, o trago
te amarga e te corroe

o teu medo te afasta,
mas a água transborda
eu vejo, as gramas, embaixo delas

Então construo novos trilhos
e espero você chegar
- um trem carregado de volúpias


Ivone Fran*s

Simbiose

Em vias alagadas
e pensamentos ao vento,
a galope te alcanço

te acordo do sono
imaginando a hora

grito teu nome

- pra ser, lá na frente...

mãos dadas
risos, colo, cheiros
e mais Nada...


Ivone Fran*s

Underground

É vã
a escada e degraus

underground

a luz acabou
e no meio
da passagem
a água desceu
em pedras

quebras de sigilo
contra-cultura
ruptura

- ao relento pousam
os anjos do desejo -

e o Ano Todo já te cobra ... corra!


Ivone Fran*s