terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Sobre ilusões amorosas

Embaixo do sono
vão sonhos entorpecidos
de um desejo,

que antes assíduo,
mas depois do ato
só vaidade e desacato

Antes do fim

querer da vida
a crença que ao menos
sustenta

os olhos vidrados
o nariz em reta

e ao pé da orelha
os sussuros molhados

regando a planta
mantendo o viço
do vício de seguir

teimosia estatalando nos cascos

Terra não prometida

O lamento é uma música
de passos sumindo no horizonte

O lamento dá as costas e encara os pés

O lamento é o grito sufocado
de quem perdeu a fé e parte...

carregado.

Confronto

Entre a bebida
e os ruídos da noite
tua imagem passeia...

acelero a volta,
meia volta,
ao meu pouso curto

à merce dos móveis,
em silêncio (imóveis)

e da pouca luz
refletindo meus vestidos inéditos

- deliberadamente prontos

Acelero a volta
em mais um gole,
que devoro

e intervém

pela parte que não fala
pela parte que não cala
- intermediário que extrapola

**

Herdei a brandura
Acasalada

Duas estrelas na madrugada

Pela minha janela
Além breu

(Nós)

Nus aventurando

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

é o que me diz

nestes cômodos, onde as portas nunca levam chave e o trânsito é sem mão. percebes minha dança? há fadas em seda e eu teço nervuras em seus vestidos. elas me afrontam e procuram seu par. eles riem e abençoam seus beiços dependentes. andam em procissão. é o que me diz o teu sorriso mudo. diante da fala muda. é o que me diz, no fim das contas
do que eu sempre soube.


17/10/2008

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Palavras impressas

I -

Quanto mais quieta mais intensa a agitação encoberta
A fala presa num suspiro travado aguarda um vão neste campo de concentração
Os olhares de gelo
Os sorrisos da hipocrisia
Terrenos infestados
Todos cegos comendo tua merda
É ínfimo o instante...
Dedilhando tuas costas
A palavra inteira passou por um fio,
Percorreu direta, como um líquido injetado em tua pele
Tudo na medida, de não adivinhar, nem acrescentar
Completa. Pode-se dizer. Completa.
Vou pelo ritmo agora,
O ritmo que vier,
Direto, dentro do meu ouvido,
Fala e saliva
Respondo: com as mãos e o corpo inteiro...


II -

Todos os espaços se colidem
não há mais frente ou verso
derramei-me inteira
agora posso ir...
agora sei
que não há limite
não há berço
não há o lençol que forre
nem tão pouco o que cobre
agora sei...


III -

A febre vazou
o delírio não entorpece
que venham todas as dores
que venham e testem
até onde me querem?

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Ligação a cobrar

Ouço tua voz
que me chama

e reviro

À noite havia pingos
no meio da neblina

e um caminho.

Ainda

que houvesse
uma única razão
para dormir ao teu lado
entre estes trapos
que restaram

valeria!

não tivesse sabido
da tua tão pouca exigência...

no entanto, agora penso:

é hora de limpar estes cantos
abrir a janela e ver o sol
(a próxima atração é de quinta categoria)
eu vou, você fica.

Ivone fs....04/08/2008

Índia que sou

Dos desenhos que faço na água
sobram as sombras e os olhos

Amanheço na borda do primeiro raio
e tenho o dia inédito, em preto e branco

Das securas cravadas, que me fazem sólida,
percebo as primeiras lascas caindo

De pincel nas mãos, espalho o sangue
e de vermelho tinjo minha pele nova

Há um peso...um grito na mata cerrada...

sábado, 15 de novembro de 2008

Arrastão

Nunca serei a pequena margem de tua visão. Se me calculas, perdes a noção. Sou limbo escorregadio, a própria onda dos ventos das estações que se repetem e nunca são as mesmas. Em cada marca, meu rosto altiva, em cada suspiro preso, meu rumo muda. Mesmo contra vontade, sigo. O tempo me chama e sempre vou, mesmo contra minha vontade...o tempo passa e sempre vou. O nosso tempo fica...o nosso tempo ficou...

**

Herdei a brandura
Acasalada

Duas estrelas na madrugada

Pela minha janela
Além breu

(Nós)

Nus aventurando

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

fim de tarde

Um dia sentei no teu colo
no meio da rua

fui mais nua
que a rua

e nunca mais te vi
nem nunca mais me despi


Ivonefs - 04/09/2008

sábado, 18 de outubro de 2008

Um dia depois de antes

Acendo uma vela,
as paredes dançam,

na meia-luz,
as lembranças:

o trânsito escondeu-se todo
na ambulância do meu desespero

que rodou, rodou num viaduto

irresoluto e rezou luto

na veia,
glicose, dipirona e antis

na seringa cheia

nada,
nada de imediato se absorve

Olhares

Insuportáveis, as reticências que sobram nos rompimentos...

Preciso deste quarto escuro,
limitar minha fobia,

domesticar essa ânsia de ir...
(nem que seja só por hoje)

Quem clama respostas,
é a aflição das mãos vazias

O solo íngreme
e os pés inchados?

são pela dureza da desesperança.

As manchas a encobrirem a retina
são sinais latentes:

de que ainda restou algo
do que ainda me domina.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Cifras e Códigos

meu dia começa no meio
é simples: só durmo no fim da noite

cenas do dia anterior:
mastiguei um pacote inteiro de cookies
castanha-do-pará
fui votar e me esqueci o número dela
o melhor da rodovia vinha da tua voz:
"diz que segue o coração" *
e sigo então
a chuva no vidro
duvidando do sol
só por hoje
nada formal
nem almoço à mesa
qualquer coisa enquanto caminho
fala emudecida
intensa conversa interior
aumento o som
e leio Drummond:
A rosa do povo
..."É feia. Mas é realmente uma flor"

...................................... * Heitor Branquinho

romântica

Houve a chuva
no telhado

ouça a chuva
ouvi chover

no meu dia
mais nublado

teve um sol
houve você!

esperam muito de mim

esperam meus pés atados
esperam que eu seja o dia
me esperam na retina

e eu sempre querendo lá.

Dos quereres

não quero o medo
que esfria
distancia
me traga alheia

antes,
quero a voz que me alivia
e a ela me assemelha

O que será?

Resta hoje tudo.
É sempre um ponto de partida
quando amanheço

Pensando bem...
estou em estado de alerta
na estação, esperando um trem

Deixei em stand by
qualquer ruído presente.
E vão altos os ventos

adivinhar tua boca.
Se na minha vier,
serei eu tua busca.

sábado, 27 de setembro de 2008

Nem Joana, nem inocência D'arc

Nenhum grito pode ser manso:
eis porque me arrepio!

sem rios de pranto
amanheço inconsciente
levada à fogueira
por um homem "santo",
mas ainda respiro

cravejada de esmeraldas
verde, sua raiva
amargando sua lira,
desposando fel,
fez-me demônio

rosas vermelhas
pétalas áscuas
amantes sublunares
sentidos abastados
relações inventadas

dobro os joelhos
e oro em seu olhar inocente:
livre-se daquela que seus pés prendem
e antes de qualquer morte,
quebrem-se todos os espelhos.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

ouvindo Mozart

Vou fora
mas os sinos bêbados torturam...

do outro lado

não deduzo o escuro
no fundo dos teus olhos
nem o sol
que os tornam dia,

imagino peixes
na calmaria dos teus lagos,
através do gelo
que não se quebra

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Deixo a marca do estorvo

Na luz apagada
um rosto que acende

num silêncio contido
cortina arriada,
um corpo e um cigarro...

o mesmo céu,
bordado dourado
estrelas alheias

e tuas palavras
as tuas palavras
tuas palavras...

fim de tarde

Um dia sentei no teu colo
no meio da rua

fui mais nua
que a rua

e nunca mais te vi
nem nunca mais me despi

Do que julgava eterno...

Tenho tido sono
estranho!
vejo uma luz se apagando.



No dia seguinte li este texto..."Livro do Desassossego"



'Os meus sonhos são um refúgio estúpido, como um guarda-chuva contra um raio.

Sou tão inerte, tão pobrezinho, tão falho de gestos e de atos.

Por mais que por mim me embrenhe, todos os atalhos do meu sonho vão dar a clareiras de angústia.

Mesmo eu, o que sonha tanto, tenho intervalos em que o sonho me foge, então as coisas aparecem-me nítidas. Esvai-se a névoa de que me cerco. E todas as arestas visíveis ferem a carne da minha alma. Todas as durezas olhadas me magoam o conhecê-las durezas. Todos os pesos visíveis de objetos me pesam por a alma dentro.

A minha vida é como se me batessem com ela.' FP

Enquanto silencio ( Rita Medusa e Ivone fs

Desafios desfiam
em línguas múltiplas

rompem os desfiladeiros
e percorrem os ares

fluxos em sintonias descabidas

musicais flores de núpcias
em pesadelos abruptos

roem-me

E eu,

só queria uma dança contigo.

Ainda

Ainda
que houvesse
uma única razão
para dormir ao teu lado
entre estes trapos
que restaram

valeria!

não tivesse sabido
da tua tão pouca exigência...

no entanto, agora penso:

é hora de limpar estes cantos
abrir a janela e ver o sol
(a próxima atração é de quinta)
eu vou, você fica.

inquietante

em mim
nada estanca

estravasa
cada instante

que não cabe.

Inferno

Há um grito
correndo solto
em alta tensão

sob os dedos
de minhas mãos
(a fronte)
uma visão

Um dia depois de antes

Acendo uma vela,
as paredes dançam,

na meia-luz,
as lembranças:

o trânsito escondeu-se todo
na ambulância do meu desespero

que rodou, rodou num viaduto

irresoluto e rezou luto

na veia,
glicose, dipirona e antis

na seringa cheia

nada,
nada de imediato se absorve

tem diferença...

não sou feita
de ilusões

sou vivida.

Senha

Sou teu pólo
oposto

te eriço
os pelos

pelas antenas
tremulo

te circundo
muda,

enlaço

dormes
no abraço

quase pedra...

liquefaço-me
empoço-me
em teus poros

vou

contamino
atuo
contradigo

antes,
a que te adora...

aturas!

teu destino
determino

rasgo tuas veias
abro tuas vias

pra te ver sangrar

e te quero

no transbordamento
do descontentamento
no ponto em que te tornas
divino!

Selvagem II

Selvagem II

tem noites tão nuas
que a cama se transporta
ao relento do branco
da lua
sinto-me há milhões de anos,
quando ainda vivia numa matilha

Selvagem

Quanto da loba sou
quanto da noite,
claros olhos
estelar

o uivo,

quanto nu
quanto cio
faro, instinto
ancestral

fera.

Muito tarde para ficar

Agora que ficou tarde, meu banquinho esquecido, embaixo da quaresmeira
quase soterrado de capim, oferece-se a mim. Como último recurso, de um passo teimoso, que resistiu a entrega, aceito teu polido osso: fazemo-nos companhia pelas nossas durezas! Carrego nos olhos o peso do desdém, o peso das pálpebras molhadas, o peso de palavras inéditas, jarradas que queimam, nas horas alertas, pois há um ano não durmo. De junho a junho. O tempo me ruiu. Veja só, naquele banquinho, finalmente adormeço. Do alto me vejo.

ainda que devesse

não me peça desculpa,
dessa altura
não espero mais

I miss you

Flagaram-me com minhas cinco asas,
enquanto sobrevoava as escadarias do sonho

cinco sentidos

Fui morta pelos mísseis (MBIC),

...logo eu, que desdenhei das pedras
quando voei.

Com licença poética -

Poética


gasto horas.
a vida
deve ser cumprida...

tão comprida a vida!

f-r-a-g-m-e-n-t-o-s

fragmentos
Sou hoje
feito uma árvore de outono.
e ainda tenho o inverno inteiro pra atravessar

calma...calma... te acalma... alma!



"Sou hoje fragmentos do que já fui,
lapsos que insistem em permanecer,
que tratam de costurar, de tecer,
o fio que me faz ser quem sou,
que garante os fragmentos de amanhã,
pois o hoje já passou. "

Eros

pela janela

pela janela
Amo

a cor do sol.





"nada
como
a
cor
dar"

Mucio

Meus comandos

..........
sem comando
quisso é coisa de militar

rsrs

Sábado

Não quero bom dia
nem beijo
só que me surpreenda,
ainda cedinho,
com café na cama
e pão de queijo.


Poema que fiz pra Muryel e Leo..meus amigos escritores mineirinhos. uai!

Saudade de Fernando N.

hoje acordei pensando em Fernando. caminhar sobre sua pele e passear em todos seus encantos. É bem aí que se sonha! ainda ouço como pulsa..pulsa...pulsa... o sol oposto que o cobre de sombras e o mar que o circunda e o embalança. não há, em toda essa terra, nada igual a Fernando de Noronha!




Mucio

"é de deixar
qualquer um maluco
uma das belezas
do meu pernambuco"

Se restasse ainda uma fagulha que fosse

Peço calma
digo que passa

peço que não chore
e choro

peço que desfaça
e dói

deixo

não faço mais nada
é o que me resta









Comentário dp poeta Mucio:

"resta ser
ser esta"

Ao longe

Dirá do dia
e do lugar
que era outro:

foi pouso durante
pouso de instante
presa de um tempo

que era pouco

terça-feira, 2 de setembro de 2008

:

Eu sei que pelo vidro começa meu passo
por ele, olho lá fora:
se não for pensado é pelo ímpeto!

Tudo isso me compõe:
uma mão amputada
e a transparência ilusória
onde bato a cara

e quebro...quebro a resistência:

qualquer hora te surpreendo!

Insuficiência

Não trago o dia
nem preencho a página...






...estes espaços brancos
é a pena de estar vazia

Óleo sobre Tela - natureza morta

Eu talvez te admirasse
antes do beijo misericordioso...

meu coração revolveu-se
ao toque dos teus lábios imundos

Agora fico entre a perplexidade do engano
e um bolo de chocolate amargo

Fiquei pasma de saber.

sábado, 23 de agosto de 2008

Monólogo em questão

Não tenho o que quero. e o tenho em demasia.

Na Dúvida, me mantenho. Nesse Meio, me sustento.

Perco a Esperança no absurdo que me coloca aos Extremos,

É no Meio que me sustento.

Não um meio Equilíbrio. Mas um meio Indefinido

Onde restam Caminhos? Onde restam Sonhos.

Os extremos me matam. Onde estou.

Estrangeira

Sejas gradativo
nunca manso

talvez me alcance
onde espero

e isso não te conto:

lá,
eu também me desconheço

domingo, 17 de agosto de 2008

Interstício

Tem sempre um desconhecido pálido em minha frente. Uma cisma, melhor dizendo, que na madrugada faz meus olhos incendiarem na escuridão perene de meu quarto quase adormecido. Um quarto móvel de hora flutuante, em que tateio o sono e prescindo um pensamento que imagino aprisionar e escapa...

Monólogo -

Eu canso as pessoas com meus dilemas.
Repito sempre as mesmas coisas. Falo muito e não ouço nada. Só quero que me escutem. Não admito que me dêem conselhos. Nunca permito que me dizem o que fazer. E essa gente sempre se intrometendo!!!
Finjo por uns dias ser uma presença agradável e elas acreditam em mim. Daí pioro.
Eu admito que não amo todo mundo. Tenho uma capacidade limitada pra amar.
Sou muito intolerante. Polipolar. Não me enquadro em quase nada.

Poema que Ruy fez pra mim

Um poema (respeitoso) para Ivone


Anoitece
Se for noite de sarau, verei Ivone
Ficarei insone
Depois dessa miragem
Me faltará coragem
Para dormir.

Ver Ivone é ir
Não sei para onde.
É tomar o bonde
De uma história antiga
De encarnação passada
Ver Ivone é tudo
Mas hoje é só vê-la
Agradar aos olhos,
Abraçar a moça
Entender a emoção
E conte-la.

Essa menina é isso
É o viço
A alegria do momento
O ungüento
Que remove dores
Relembra a história de amores
E passa solene
Passa intocável
como são intocáveis
Os anjos que conheci.

Vai, menina
Cuida bem de tí.


* poema q Ruy fez pra mim

.com

se arrancas meu coração
e ainda me condenas

o que direi do amor?

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Sobreposição dos desejos

Procuro os contornos
em que não foco

saio da linha
mas mordo sempre o centro

estou agora à sombra das palavras:
não quero frases, porque o frio me deixou estática

"a vida corre, não tem memória, ele diz" ela diz

repouse

na foto, a pose
onde entalhou a lembrança
que jaz

imutável

na arte móvel.

Um arrepio com razão

Há tantos dias
me chama...

Que há em mim?

velando as horas
contando os passos

assim
sem tropeços
desejo expresso

um café
um cinema
um passeio na Paulista
um sorvete de pistache

será?

você diz que à noite tem extras
e posso pedir

mais

e mais

e mais...

Pela janela do quarto

Se fosse perder o sentido
e mergulhar na chuva da manhã,

nesta densa fumaça,
das nuvens parida,
nesta paisagem ambígua

montes Fugis

longínquos e agudos
efervescentes e gélidos

seria depois...

antes,
quebraria todos os muros
edificados entre nós

antes,
espalharia ao mundo tuas letras

e antes ainda, seria absolvida,
pelo amor que me levou

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Tim tim

Que o céu
me reste assim:

cúmplice e ilícito

tinto
em Blue carmim
eu só queria ser merecida,
mas sempre sou demais
ou de menos
nunca o ponto
eu também ando ao avesso do meu andar.
Não vejo beleza.
- frustrada ?
é, frustrada.
fora o reflexo,
o resto,
que adormeceu
As contas do afinal que escolhi, nenhuma levo.
Inda que morra toda razão, preciso andar...
Os vermes caem aos montes. multiplicaram-se, mas a madeira já é pó.

Noites Negras de Inverno

Intenções

Se me encontro
naquela hora
da qual nunca saí,

se o meu íntimo
agora só a tua mão
pode abrir,

se minha boca
fechada e surda,
que ao teu falo se abre,

engole amor e lágrima
em cascata, os poemas

ora de certeza
ora indecisão

nesta imensidão que sou

ora molhada
noutra vazia

é porque

sei que te levo rasante
e é sempre bom, mas

sei que te viras de costas
e caminhas em opostos

sei que me riscas
das tuas listas

que resistes
e não bebes

nem me provas. me prova?

sei,

virás ainda,
no rumor das folhas
embriagadas

dos papéis amassados
com letras coloridas

num beijo que sela
as intenções escondidas

nas sutilezas, pois também sabes
que é sempre bom!

Alucinações antes do aniversário

O inquieto inseto que me habita
revoa recônditos desejos, permeia
as pupilas azuis de um sonho estúpido

Acena, alucinante, às horas expostas
num torvelinho, que chicoteia o chão,
e fere-se aos golpes do tufão faminto

Na rua devastada, a híbrida lua
transpira caldos febris
sobre suas asas transparentes
infecta serviente
que nem guarda
nem anjo
impregnando seus cômodos
cerrados em seu odor imóvel

Larva lacerada,
recolhe as gotas
alimenta sua sórdida
melodia
adorna a monotonia
cravada de húmus e fezes

Os anéis de luz,
nos cantos do teto, ziguizagueiam
em propícios feixes ao anúncio íntimo
dos primeiros acordes:

Salva em mim as notas secretas de meu canto.

Voracidade

de ser
as cores
na mistura de nós

e sobrar
"mulher deitada"
Di Cavalcanti

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Agora sim, desligue o telefone e estacione

É da banda homérica
desenho retraçado
pronto
um confronto

Uma epopéia, arreia

no ponto de ebulição
do encanto x desencanto
encontro x desencontro

na medida que passa

e passa...

A medida elástica
laceou

Mas antes, peço desculpas pelo todo incômodo

Pois agora, o que era de graça
tornou-se inalcançável,

e pede, se te quero!

- Qual a palavra necessária
para um fim sem hinos?

Phoda-se.

Família século XXI

Num quarto,
livro e poesia
louça na pia,
na cozinha

Pesam os olhos
dos bolsos vazios
fazendo valer
todos os dias

Enche e aquece
as faltas, a voz
que intermedia

Sãos os filhos
e as mães
que fazem a família

quantas!

Sobre a (des)ordem das coisas

Foi no tremor do dia
que me calei...

nos cigarros engolidos,
antes molhados na boca
do cão,

no abraço seguido,
e num fim que não se espera

expelido.

A dinamite ecoou
o inferno berra, inútil

e a dor amanhece
refluxo
murcha e impotente

as rupturas em gaze ainda vazam seus fluídos.
da boca, pende o silêncio

e como ordem
indefinida, assente

Não há susto que te sustente.

Casos e acasos

Já fui tardes enovelada
anoitecida em teus braços
ao odor íntimo dos teus poros

Serenei em fotografia congelada,
quando sob o teto teu sexo arfava
e minha pele à tua se juntava

contorci-me e agonizei-me
ao vapor das tuas idas

Meu enredo que faço
minhas horas passadas
nas curvas de teus passos

Na mesma esquina
que inicia onde termina
meu velho pensamento

sem rimas, ferida
sem rumo... (que embaraço!)
- beijo frio de ausência, estilhaços

Meus óculos de sol

Acordei atravessada. irritada comigo. irritada com esta convivência eterna. irritada por ouvir sempre as mesmas lamúrias que escorrem de mim. hoje me ignorei. não levantei a cabeça . tomei banho de costas, só pra não me ver refletida no espelho que fica em frente ao box. usei um perfume inédito. era chegada a hora para algo ignorado há quase um ano (um perfume que mantinha guardado para usar numa ocasião especial, como disse a pessoa que me presenteou, imaginando estar me dando uma preciosidade...). doce demais e eu odeio perfumes doces. minha cabeça dando sinal que não aceitaria quieta todo esse odor, tomei outro banho. não usei mais perfume algum. fui ao centro da cidade... Saio da Vila Madalena, Av. Dr. Arnaldo, Consolação, Av. 9 de julho e Rua São Caetano. em cada farol, um vendedor de suflair (São Paulo tem um vendedor de suflair em cada esquina. São Paulo toda cheira a suflair. qual o chocolate mais consumido aqui? o coméricio dos ambulantes dos faróis. a fábrica de suflair em frenesi, pensei e que calor: imagina a cidade besuntada de suflair... a popularidade deste chocolate me dá enjoo. onde estou? ah, Rua São Caetano, vestidos de noiva, brancos, pesados, longos, e cheios de sol , pobres noivas, que calor...em dez minutos resolvo a que vim. Rua da Cantareira, Av. Ipiranga, Av. 23 de Maio..Túnel João Paulo II, Túnel Airton Sena, Túnel ... túneis... São Paulo precisa de mais túneis e viadutos . Av. Morumbi: mais uma vendedora de suflair. negra, jovem, linda, olhos brilhantes mostrando que vida não tem nada a ver com condições extremas, precárias. ela é o sol que cobre o dia, hoje, penso. paralítica... o farol fecha. ela se aproxima, girandando as rodas com as mãos. falo qualquer coisa sobre o calor que fazia.
- adorei teus óculos, é lindo!!! falou sorrindo e com muita dificuldade.
sorri também. ela não me ofereceu os chocolates, o farol abriu, buzinas, o trânsito andou...eu disse rápido: na próxima! ok? na próxima!... um estrondo. pelo retrovisor vi a cadeira jogada do outro lado da rua, com as rodas para cima. desliguei o carro e saí correndo. as businas eram infernais. ela sorriu quando me viu. tirei meus óculos e coloquei no seu rosto. aos poucos seu sorriso se desfez. sirenes, confusão. eu mais confusa ainda. afastei-me. o barulho agora era maior. dirigi trêmula, vi o Estádio do Morumbi e parei no primeiro posto de gasolina...
hoje à noite vou usar meu vestido mais bonito, demorar na maquiagem, vou sair e não volto antes do sol nascer novamente...

Sem você, com você

Se um meio inexiste,
então invento

canção de inverno
um leve arrepio

(não resisto)

de frente ao espelho
em minhas mãos,

meu desejo - cio
Existo.

Ilhada

Dos cortes que me fez
acabei em Gozo

...e Rabat voltou a ser povoada

Intricada (revisitado)

Velo o silêncio pesado
emboscando a ausência
exacerbada de trilhas

À risca, traço códigos enredados
em veredas inóspitas

Deleto

Reviro inciente

Tardes ocas, chocas
Nem o doce cicio de sua voz me embala

Por que intrico?
Ai de mim...

Massacre

Expus-me nua e santa
e teus olhos negaram-me

pisei em tua terra
comi teu osso
aceitei a última herança
da tua miséria

Sondastes-me a tantas
corroestes a esperança
e de vez anunciaste
pela tua boca medonha:

isenta-me!
insuportável imperfeita
que mancha minhas paredes brancas

Cobre teu rosto
...evita que me veja

Isenta-me!

Do lado de fora

num certo caso
perde-se o senso

perde-se tempo
nas filas de espera

ociosas horas
de olhar vitrines

de andar sem rumo
e não tomar tento

são horas mortas
não tuas,
são doloridas e disfarçadas

são horas cruas
que como em jejum

Minhas ruas

já não me importo
sem pena
nem condenação de mim

arrasto

sou como um tufão
que passa

os destroços?

são meus restos
que ainda ficam.

Paralelos (revisitado)

Rajadas
ondas aladas

névoa

lava rosto e aléias

senti-nelas

na boca, na língua
o toque do céu

Jasmins dão notícias

e te tenho colado
rasgando meus véus

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Através da fumaça

O sentido
gira,

paira em torno
dos cílios da cidade

- São Paulo não respira -

através da densa massa chumbo,
onde meus olhos combalidos,
daqui do alto, afundam

através das frestas dos muros,
nos miados secos
dos gatos vadios

nas vastas ruas
onde carros vagueiam
(vinte e quatro horas - nódoas)

e nas praças talhadas
em granito e sangue:
letargia vermelha...

..no fundo range
uma voz rouca - jazz-blue:

blue?

é um sonho que me lembra...
semelhança...

Descalça

Tanto sol,
tanto mar

e isto não me basta

na areia, só
meu rastro

Passado

Fosse passado
não teria presente
a saudade

Fosse presente
aceitava e até agradecia
- quem não gosta de presente!

Desértica

Fecho os olhos
e te invento

tenho tela, tenho pincéis e unhas

de olhos abertos
pesa
pesa-Delos

sem sombras

domingo, 18 de maio de 2008

Imagens

Enquanto minha voz
te desenha
teus contornos me refazem

calada, só a noite
que assiste meus ensaios
para hora de ver-te

sábado, 17 de maio de 2008

Deste volume

barragem em meu peito

de neve crua
refluxo em flocos

e o sol que me cega
neste branco infinito

acordo mais um dia.

Ficou tarde

me presto na pressa
de apagar o que passou

da hora

e corro para tomar distância,
depois eu respiro

embora,

nunca tenha havido,
admito:
fiquei impregnada

neste caminho

Não há paixão
nem lugar

eu também preciso de água
eu também me revolto

estive clandestina
neste desconforto

neste quarto
de fazer sozinha uma história

desamparo

Farei poemas
onde houver travas
atrasarei as pressas

meus pedaços arrancados
são minhas partes duvidosas
vacilos de noites em vãos

aqui faço verdades
não as minhas
as verdades da poesia

que tem sua própria boca que fala na minha

Assalto

Eram dois
eu tive pena...tive muita pena...
Numa tarde de algum frio, numa rua, no Morumbi, nossos destinos estiveram rentes. Uma volta no carro. Eu fechava o porta-malas e eles me abordaram com a arma dentro da camisa. Um deles, muito nervoso me pedia tudo que estava na bolsa. Eu pedia calma e entreguei a carteira e o celular. Eles correram eu eu corri atrás deles...a polícia chegou...

Jogados e algemados na calçada, eu me vinguei:

- Se fuderam filhosdaputa!

Nove horas na delegacia. Um deles, maior, procurado com vários anos de condenação
o outro, maior há um mês...passagens pela Febem. Hoje, presos em flagrante.

De volta para casa, no trajeto, faço uma ligação de meu celular recuperado. Há muito trânsito. O jogo do São Paulo e Fluminense terminou em 1x0. Vi na TV da Delegacia.

A mãe chorava muito, quando chegou lá levando o documento do filho, que não dormiria em casa.

Tive muita pena daquela mãe.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Palavrarte

Você na sua vida
e eu na minha

e eu na sua

já faz tempo
jazz no vento

você nu
e eu nua

ao relento
escrevendo poesia

domingo, 11 de maio de 2008

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Nike



Diante da Nike
assumo a cabeça perdida
e tomo seu corpo

farejo o azul ainda breu

sob os pés, o vértice corta
parte a água e segue
no uivo do vento

pelos cantos, procuro o Egeu

minhas vestes transparecem
torno lua ensaboada
lisa, respingo inacessível

na imensidão.

domingo, 4 de maio de 2008

Desvio

Inquieta um sono
um sonho atribulado

diante do espelho
não vejo o outro lado

a garganta arranha
a boca estática

no rosto,

talvez seja uma lágrima
que escorre

talvez um rio
mudando seu curso...

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Índia que sou

Dos desenhos que faço na água
sobram as sombras e os olhos

Amanheço na borda do primeiro raio
e tenho o dia inédito, em preto e branco

Das securas cravadas, que me fazem sólida,
percebo as primeiras lascas caindo

De pincel nas mãos, espalho o sangue
e de vermelho tinjo minha pele nova

Há um peso...um grito na mata cerrada...
Um arco e flechas reluzem nas minhas mãos

Atada

Visto cambraias
nas vistas do dia

nas sombras das linhas
chuvisco neblina

entre paredes caiadas
armo uma rede

deito todas as horas de espera
e me cubro de promessas

essas

que me faço
porque acredito

em minhas mãos
e nas tuas entrelaçadas.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Inclassificável

Porque pensas que me sabe de cor
Não. Com você não passei do limite
Fui um dedo. Um dedo, apenas...um dedo.

O que faz me prender
nessas noites em que penso nessa droga
(que quero)
essa droga...de querer-te, assim?!

Você que desliza em tantos deslizes...
Chega, afinal, chega
Dois pontos - aqui não cabe mais nada...senão você.

Me perco,
perdes?!

Vem devagar...
divagar
calmamente...insinua...e completa...
até o finalmente!

Em baixo do Cruzeiro do Sul
me ganha, na grama e guarda
por dentro e por ora

Quando a arte me inspira

Espia-me
com os teus olhos abertos
não bloqueies, ateia
sem queixas
esquece, que apesar delas...

O que?

(Se não te tenho, pode até me bastar...saber do seu desejo)
Vem, não precisas de licença

Ah!

Por que pões na minha boca o gosto do que pode ser...e me deixas assim?!

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Penso

Tem dia que sou pequena
me penso antes
e me coloco à frente

noutros, sou neutra
confesso:
antes pequena

E tem aqueles
que te sou
de qualquer jeito

Tem dia que sou grande!

domingo, 20 de abril de 2008

Acaso ( por Ivonefs e Vinicius)

Se me pedires um verso
talvez te dê mais de um
pra que fiques, imerso
nalgum lugar em mim

Que não sejas, pois, como tantos
cheio de ilusões ou encantos
te darei versos brancos
e reticências, se quiseres assim

E no anverso de minhas rimas
nas linhas traçadas vivas
que sejam as letras tua sina,
os versos mais que poesia

Ou então que sejam eles
simultâneos e escritos
na hora que se faz
no momento que se deixa

Meu modo

Procuro em mim...

só me sou
plena
quando se misturam
as batidas

e confundo

(tum...tum...TUM!)

tua e minha

respiração ofegante
obscena

------------------
Comentário de Ruy Villani


Madrugada
Se gelada, a gente aquece.
Se escondida, se escancara
E se ameaça
Com a mais cara
Das contendas

Me embaraço
Em tuas rendas.

Me entorno
Em tuas reservas

Enrubesço
Tuas Walkírias

Mas me aninho
Em teu apreço.

15/04/2008

Nada entendo de verdade

Inconstante
eternamente mutante

sou muito depois
um pouco antes

não me desisto
e vivo feroz

quando me sei
ser mansa

(14/04/2008)

____________________________
poema resposta do Ivo

Oi parceira...

Quando me dei conta
Estava mansa
E nem sabia mais
O que fazer
Com aquela lança.

Quando dei por mim
Não estava mais
E nem sabia
Pra quê serviam
Os castiçais.
________________________

e do Ruy Villani
Não descansa
enquanto mansa

Depois muda,
muda
nada diz

Se feroz,
não ergue a voz
mas sobe o tom

Apenas olha
e estraçalha

Teu poema tá lindo, Ivone. Não resisti à tentação de responder.

De longe

Te vejo outro
vestido em me esconder

me vejo em ti
nos teus passos mansos
ando

na distância imposta
fico sem resposta

(12/04/2008)

À noite

A dor
que maior me envolve
é sem pressa

comprimo-a de bruços,
entre soluços,
vence... o cansaço

se é minha sina,
que escolha me resta
e quem determina?!
(08/04/2008)

Inédito

A chama acesa
geme
os olhos, paraliso
...pele branca...

- flor de lis - me diz

risca e cola
lábios, lambe, escorre...

lá fora tem o tempo, as horas, os outros
e nem me lembro.

(07/04/2008)

Teu pau

Ondula em minha língua
teu desejo bruto
hexaedro, poliedro
qual diamante cristaliza-se

Atrai-me em fascínio!

Pego pela boca
danço e cubro
todo espaço...

- Teu pau é lindo!

Tua tez saliva meu corpo
jorra sol em terra úmida
acende

Encosta,
mostra o inatingível,
suga meus mamilos!

subo
aperto
contraio a tua essência

vestida em teu corpo
grito... teu nome...

(28/03/2008)

Poesia (Ivonefs e Renê S)

Minha poesia, sem propósito,
tem o desenho gerado na fome

impressão transfigurada
como as tardes de Monet

De ti, não quer o agravo
ou um inesperado: Bravo!

Só um colo contínuo
e as notas de um violino

ligando todos os sonhos do mundo!


Ivone fs e Renê S
(30/03/2008)

Presente-ausente

Você fica assim:

colado em mim!

Durmo e lhe sonho
acordo e já me beija

acompanha-me o dia todo:
no café da manhã
nos intervalos
no expediente
na música presente
e sempre dorme do meu lado...

fala comigo sem parar
em todo lugar
agora... aqui está!

só não entendo:
- porque não lhe vejo...?!

29/03/2008

Enquanto o sol não aquece...

Tornei-me séria.
Seria o quê?
o quê!?
que nada!
tudo passa...

27/03/2008

Entraves de um meio tempo

Passa em branco
todo instante
passa o tempo

mal passado, ainda
sangra
e a cada gota
seca


Ivonefs - 24/03/2008

Referencial

Ao lado do tempo
num canto
uma mesa - letras

dentro do tempo
numa música
profundamente ouvida

somos

o laço refeito
o salto macio
o acaso...espaço

para o acorde, afinal...

frio - vazio

23/03/2008

sábado, 5 de abril de 2008

Versos

Bem no meio de meus versos brancos surgiu uma rima...
Era vontade de ser livre!


Ivonefs
__________________________________
Re-olho páginas e páginas
e a última, em branco,
pede um pouco mais de cautela...

Ivonefs
__________________________________
Este laço

Estilhaços
e em cada fragmento
te tenho inteiro!


Ivonefs
_____________________________________
Tudo

Eu não me enganei
quando me enveredei em teu caminho:
não eras mesmo qualquer coisa

Ivonefs
________________________________________

"É no anverso dos versos que se encontram os diversos frutos dos maestros, brutos e benditos, assim como foram transcritos teus pensamentos exatos e imediatos. Não tema teus escritos, pois que desfazem os mitos e os torna factíveis, inteligíveis, belos em sua essência enquanto plenos da tua impercebida, mas profunda consciência."

comentário de meu amigo poeta Ruy Milani no BDE

segunda-feira, 17 de março de 2008

Idéia fixa

Vasta imensidão
sem ponto

e eu me sendo
na incoerência
de meus versos

fico.

Sob o céu da saudade

Pinto as unhas de vermelho
e te vejo entre meus dedos

num sorriso carmim, demoro
nas pétalas espalhadas

Teu corpo cheira à rosas...


Ivonefs


Poema resposta...por Eduardo Perrone


Só sentes
A minha ausência,
Quando teus dedos
Te pedem clemência,
Quando o o gozo
Eles te dão...
Tuas unhas vermelhas
Me provocam o tesão,
Que perdí,
Quando o meu olfato
Perdeu-se
Pelo
Teu
Cheiro.
(Eduardo Perrone)

segunda-feira, 10 de março de 2008

Uma canção

Deita aqui, amor
meu braço estende e te acolhe

Volta teus olhos
à beleza que se faz
na lascivia e ócio nosso

Suspende os dias
que consomem as horas
da vida efêmera e vem

Deixa lá fora
a razão infame, as culpas e as putas

Deita aqui, amor
sem desperdício, seja meu vício!


Ivonefs

domingo, 9 de março de 2008

Nessas horas

Seria muito
na cama macia
num sono molhado
mesmo num dia sem nada,
em que os repentes do vento
chicoteiam, querer a paz divina
e respirar um alívio?

Seria muito, viver a hora
sem as armas da defesa
ser meu eu, oras
com minhas lágrimas,
meus pulsos leves e frágeis,
ter o toque de pétalas
e não mísseis e bombardeios?

Seria eu, num campo minado
sem escolha, atada e aprisionada
sem as chaves, na escuridão profana?

Seria eu, com minhas livres escolhas,
a dona dos caminhos que percorro?


......

Ivonefs

À noite

Descoberta

Renasci da mentira
Teus duvidosos olhos
estão em ira

__________________________
Sou má?

Levo a fama
Enquanto o riso enganoso
esbalda-se

____________________________
Meu Universo

Amo de alma
sou livre
e meus inimigos choram


Ivonefs

De manhã

O espelho

Eu disse bom dia
até agradeci
e ele não abriu...

___________________________
Café

O sol líquido...
em preto e branco
passa o filme


____________________________
Banho

A espuma escorre:
é tão fácil ser nuvem
difícil é permanecer


Ivonefs

domingo, 2 de março de 2008

in Blues

Tua boca
é sempre antes...

no tapete da sala
a luz amarela do abajour
esfria meu semblante

e molhada,
gozo a presença
impressa na pele

(blues)

...tua língua me banha

Ivonefs

Tempo adverso

Tento dissipar a sombra
que me ronda e escurece o viço

Aliso o tato
Circulo em círculos

Cabeça no joelho
Parede de apoio
Ou o peso encostado

O anzol não pode ser puxado
Arranca pedaços
E me quero intacta

E essa pedra que me prende os pés?

Espero...

Nem equívoco, nem amor
O dia que virá
Desconhece os cinzas

Espero, sem pensar
submersa num tempo adverso

Recosto-me numa entrega indócil
Enquanto a negra companhia de um dia
Vigia e me consome.

Ivonefs

Auto-ajuda

A auto-ajuda é mesmo fantástica:

Primeiro te deixa consciente de suas merdas
depois diz que tem a chave
no último capítulo afirma que tudo depende de você
- é o momento do sadismo!


Ivonefs

Horizonte nu

Tua calma me faz
bem e agora

você

me atrai
neste dia que amanhece
pintura à óleo

nesses olhos de ver
além mar...

Eu vou fugir daqui

e pousar...
...no teu colo!


************************************

À Tarde...

I - Gostosa

Pensa-se única e rara
dividida
chora na sala

____________________________
2 - Desejo

Palavra abstrata
só entendo
quando me ata

_____________________________
3 - Gostoso

Sorvete de pistache
na boca escorre e grão
feito graça

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Concepção

O exato momento
voou de tua boca
rutilando meus sentidos
num súbito arrebatamento

- da voz do poeta
que falava de um poeta
a semente desperta -

Nasceu numa noite fria

a poesia em pessoa
ajustou-se ao meu lado
com suas mãos, vias

E ondulou nas cordas
de minha garganta muda
em encantamento
em pura sintonia


Ivonefs

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Ilustração

É desbotada
a fala embrenhada
nos disfarces toscos,

desdém das pétalas
viçosas onde as cores
vibram rosas vida!

estático parasita oco,
espectro trêmulo
nas luzes apagadas

estrela molhada,
nas manhãs de sol
verniz sem lustro,

brusco borrão
na arte disfarçada
essência lacrada

num embuste...

Há de haver o amor
que arrebenta
que aguenta o inútil

desperta do sono
atravessa fronteiras
apaga as feridas

e diante dele:
o afogar-se
de encanto!


Ivonefs

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Superfície

Calo-me
Na luz fria
do espelho d'água

fora os rumores
dentro é o nada

Navego nas ondas
curtas das notas
hipnóticas

e deixo tudo em branco


Ivonefs

Pensamentos I

E não é que sempre foram perfeitos
nossos tempos de olhos nos olhos!?

e isso, ninguém mudará...já está gravado
e viverá por todos os tempos.


Ivonefs (16/02/08)

Veja bem

Decerto que incomodo,
pois vejo o desespero
do cerco cerrado
definindo as origens
propagando os destinos
das palavras expressas
nos versos escolhidos

a tua insegurança é antes a trava que te domina

teu desdém é prova
da tua amargura


é claro, que incomodo.


Ivonefs (16/02/08)

Delírios

Talvez a parede seja imaginária
talvez possa transitar e fazer parte
talvez não seja expectadora
talvez eu me importe demais

aqueles que me odeiam
fingem seu bem estar
desdenham minha única
maneira que tenho de amar...


Ivonefs (16/02/08)

Veneza

Eu já fui à Veneza
e me perdi em meio
a tanta beleza!

na ponte pequena
do último suspiro
de som perene

porões alagados
artes espalhadas
em vidros talhadas...

Hoje eu queria
dormir em Veneza
e fugir da tristeza

imaginar que estava
num mercado lotado
na idade média...

Ivonefs (28/01/08)

Escuro

Na boca da noite
ardo como chama,
quase como fosse
luz-cera.Vela!
Desintegrando
letras, como
comida quente,
sons embriagados,
etéreos
me engolem seca
e tenho fome
Sede então!?

vou pro mundo afora.

Ivonefs

Pacto Rosa

A minha arte
Poesia
vive em estado
Gerais

branca
algodão cru
ecologicamente correta

pois penso
veredas
como a tez pura de
Diadorim


Ivonefs (15/02/08)

Frente e verso

Deitados mudos olhos alcançam
Nas brechas das nuvens brancas
Conflitos eternos em véus de Cabul
Ruidosos silêncios se desmancham

Infiltram nos destroços suas luzes.
Clareza é coisa estranha! Rangem
As estruturas que vigiam e migram
nas vigas que dançam nas linhas

Nada é definitivo na passagem
E o que seduz, estanques em poços,
Estagna e reduz a própria verdade

Eu me deito e me rendo indigente
Nas mãos tuas que me acariciam
E, nas desculpas, encontro o acalento.

Ivonefs (17/02/08)

Único (Lu e eu)

quando pela casa
nosso silêncio paira,
somos nós
em nossa amplitude

mundo único
lírico um

quando teus cabelos
passeiam nos meus olhos
brindam o elo
minha vida plenamente raia!


Ivonefs (24/02/08)

Em todo caso

Eu me dou
para que me tenhas,
mas nunca serei tua

...em posse nenhuma.


Ivonefs (22/02/08)

Jônica

Nos dias que trazem
as trevas que me travam
adentro-os, de olhos fechados

E alucinada nos vagos vãos
imagino a suposta saída
direção sem mira precisa

Então,

Caminho c'a força de um trago
porque ficar é cômodo
é morrer de perdição

Eu vim de línguas passadas
em branco não passo
eu vim da Jônia

eu sou Ivone.


Ivonefs (23/02/08)

Fim

Eu sei das horas
dos momentos exatos
do instante, o ponto

a subida, transpiração
o cume, onde me equilibro
da queda, não passo do chão

a fantasia se veste fria
e a graça das três horas
já não me arrepia


Ivone fran*s (19/02/08)

Conclusão

Eu sou crente,
- como disse Carlos Cruz -

nas palavras escritas?
tantas vezes
indecifráveis...

irrefutáveis?
somente as verdades
existentes na alma

Eu sou crente?
e descrente ao mesmo tempo,
pois nem vejo teus olhos.


Ivone Fran*s (17/02/08)

* Carlos Cruz, meu amigo escritor

Necessidade

Na falta, se cria mais.



Ivonefs (22/02/08)

Abissal

Relutância,
sequela sem direito
neste vago dúbio estreito

aves no céu,

falta de ar
um pomo de ouro
um lampejo que passa

justiça, injustiça?

execussão é a loucura
deixada na mão
quando o chão se abre

a glória é o repouso:
nada de pena
nem reclamações

os mortos são sagrados
as feridas devem ser cobertas
e a cena se encerra

amarga minha boca
que seja,
não há saber em nada

não quero compadecimento
nem lamentos
carrego o que me pertence.


Ivonefs (02/02/08)

Meu querido Mercador de Veneza

Eu já fui à Veneza
e me perdi em meio
a tanta beleza!

cruzei a ponte pequena
dos últimos suspiros
intrigante, som perene

que se ouve da Piazza
de pombos famintos
roendo os mosaicos

da igreja São Marcos
mesas e bares - limo
porões alagados

artes espalhadas
em vidros talhadas
sacra e santa madeira

Hoje eu queria
dormir em Veneza
fartar meus anseios

imaginar-me flutuante
nos canais cortando
a idade média ao meio

tripulante de uma gôndola
como mera figurante
daquele criador do Mercador!

Ivonefs (28/01/08)

Surreal

Da faca, nem sabes a ponta
eu me entrevo nas moitas
cotia arredia, bicho do mato

no regato a chuva chia mansa
olho pedras e pedras rolarem
me ponho alta - pés descalços

a roupa, pouso no chão
a água fria me veste (choque)
arrepio e no fundo transito

sua alma, que chora, me cola
é branca! - mármore sua cama
e vermelho seu desespero

não sabes de ninguém
ser um. Único em meu leito...
- alerta perigoso (gostoso)



Ivonefs (26/01/08)

Sol de primavera alvorecida

Sonho os dias
nos intervalos caídos
das melodias ansiosas,
chegadas atentas,
à espera
da gota
sobre o sulco da seca.

A órbita intocável me desafia,
o punho cerrado atrevido
bate e força:

- Quem vem lá?

(não quero suas cruas memórias,
choramingos, nem dentes cerrados)

O sol de amanhã
(que raiou ontem)
virá me sangrar,
beber minha sina,

umedecer
o pó que tenho dentro,
jorrar as tonturas,
calar os lamentos...




Ivonefs e Flá Perez (26/01/08)

Sonhos

Em seus desvios me perdi
finquei – me,
mãos e pés
olhos inchados,
vida ao avesso
e boca pálida sem beijos

(dormi na rua, confesso)

anjos sem asas
mãos entrelaçadas
na sede. Sobrevivi.

agora,
quando me sondo,
te vejo livre e perdido
(suas vestes frias me rondam)

meu pássaro ferido
de sombras, desertos,
incontido, incerto
- me vi!



Flá Perez e Ivonefs (26/01/08)

Nudez

O pouso de teus olhos
faz dos meus cativos
neles me demoro - na luz
sem desvios, me ancoro

a rua alerta nos denuncia
e rimos, da nossa pura alegria
enlouquecidos nas mãos livres
de nosso desejo - que pelo vidro se via!

- se almas se encontram
se rimas se fazem
a água corre límpida,
translúcida e liberta

e até no meio do caos,
o canto dessas horas ingeridas
apazigua as tormentas sofridas
e reluz toda pena que vale! -

vivi, vivemos!


Ivonefs (25/01/08)

estou no quadro

Vivi.

...e como disse Nietzsche:"verdade verdadeira é a vivida"


Ivonefs (24/01/08)

Era um dia sem nada

Me deixa...(quieta)

no silêncio posso ouvir o rio

e posso ser o nada

não me leia, não me veja, não me tente, não me lembre

não faça nada

apenas deita do meu lado



Ivonefs (21/01/08)

Entre eras

Hoje pensei em pétalas
pétalas rolando - áridas
asas caídas

um botão dobrado
e ao lado, só o sinal
do que antes era

rosa cálida!


Ivonefs (31/01/08)

Soneto do livre-arbítrio

Sinto a piedade atravessando meus olhos,
cobrindo-me em manto branco. Apoderam-se,
profetizam minha infelicidade. Estancam-me.
Com suas línguas frias, lambem minhas feridas.

Deixem-me livre ao vínculo que escolho e nada
cobro. Nada perdi. Eu sou primavera. Queima
o sol, descem folhas e nas noites frias, ligo às
frestas da janela entreaberta à boca em espera.

Vejam! o fogo que queima, não combato. É vida
plena e ainda que reste em tristeza, me foi beijo
de alegria. Não me peçam trégua se assim quero:

O que surgiu à minha frente, vivi nas mãos suas,
além das paragens conhecidas da existência. Divino
ter. Planos sem danos, sem ínicio, sem meio, sem fim.


Ivonefs (02/02/08)

Razões da alma

O que ata
desce feito afeição
vem sem explicação

nossos corpos:
sentidos e doçura
com letras impressas

lemos e relemos

nossos olhos - filamentos
mãos ligadas
objetos

e quem passeia
são nossas almas
que une os imperfeitos


Ivonefs (05/02/08)

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Momento (para Paulinho)

Da nossa conversa no dia do encontro BDE 09/02/08

Confiança de confessor
tenho sim, nele!

Viajamos num mar
onde ele era o marinheiro
e com tanta água
em nossa frente
foi logo se perder
num agreste
em lua crescente
de fevereiro
bem no dia nove
enquanto a noite
reinava feito dia
no nosso terreiro

Viajamos
em duas pinturas:
um mar e um agreste
um sonho
e uma beleza

duas imagens
uma, passado
outra, possível

Ivone Fran*s

Fênix

*

Ainda tem um susto ruminando
De quando sem rodeios cortou
Nosso vínculo e eu me perdi...

Fui só poeira, um sol escondido
Noites e dias inteiros rosnando
Entre dentes cravados sangrando

A esmo naveguei as horas de ira
Prendi minhas mãos e fui morar
Na rua.... dormi com mendigos

Semi-nua, a clara da noite, meia lua
Me puxa os olhos e em si silenciosa
duplica-se em minhas retinas

Que queres me dizer?
- Até pra renascer de si
há de se perder!


Ivonefs

De manhã

*

Haverá uma linha
onde fixarei minhas dores
e minha face espelho
te chocará?

É finda beleza
uma estranheza
na luz amanhecida
em torno menta
chocolate, café

Contornos invento
aromas invadem
palavras iguais
e nada muda
atos imorais

Não, não perderei
o senso!

ainda é cedo
na memória
ainda é clara
a fala e calo

Espero o tempo..

Ivone Fran*s

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Pequenos Contos

Pequenos Contos -


"Quem navega com mapas e bússolas não descobre mais nada. Só a alegria dos navegantes errantes é que descobre mundos novos. E os encanta."
Edson Marques.

Àquela hora, embora fosse ainda muito cedo, já havia preparado dois relatórios, lido e respondido vários e-mails e enviado mais alguns. Tinha a agenda aberta à sua frente, tentando descobrir um brechinha, onde pudesse encaixar um pouco de prazer. Estava exausto. Perdera alguns minutos, pensando nisso e já se aborrecera. Então desistiu. Saiu. Seguiu pelo mesmo caminho, tão conhecido, que nem o via mais. Ao chegar no escritório, recebeu os "bons dias" automáticos acompanhados de leves sorrisos, mais automáticos ainda. Mal entrara em sua sala e a copeira, sorridente apareceu com seu café e água. O interfone toca e a voz enfadonha da exímia secretária começa a passar diversos recados. Ele não ouve nenhum e quando ela termina, apenas diz: hoje não estou e você não sabe para onde fui e nem quando retornarei. Ela ainda insiste com alguns recados, ele repete e desliga...

Vai ao Aeroporto Nacional de Congonhas, sem passagem comprada com antecedência e apenas movido por um impulso.O celular insiste em tocar. Ele desliga. No banheiro, impetuosamente arranca o paletó e joga no lixo, em seguida se livra da gravata
e sorri olhando para as vestes amassadas, que antes tratava com tanto esmero.
Olha-se no espelho, como se nunca o tivesse visto antes...

No saguão, procura um bar e se acomoda em uma mesa, aclopada com outra, onde um casal conversava. Sempre tivera aversão a este tipo americano de mesas. Mas hoje não procura nada especial, segue um fluxo de nenhuma exigência. abre o notbook e vai direto para páginas de e-mails. A conversa de um casal ao lado impede sua concentração. Irritado fez menção de desligar, até que ouve:

- Cara, vc sabe, nunca vou a nenhuma balada sem êxtase, eu não consigo entar lá sem nada e curtir.

Era uma jovem, aparentando 25 anos, alta, bonita, com cara de "bem nascida", cabelos curtos. Ele , talvez com a mesma idade, um rosto bem desenhado, com traços
árabes e um com visual moderno.

- Êxtase!? isso já era. balada das boas mesmo, só rola LSD. êxtase, só em parada
pobre e aí não dá né.

- É verdade, outro dia fui numa festa e só tocava pagode e era o que tinha...hahahah

- Já fiz uma matéria sobre isso, na Alemanha. Lá , nem se compara com as baladas daqui. O pessoal é muito mais louco, muito mais liberal! Tem que ver. Aparentemente todo mundo é sério, mas vai nas baladas...

- É. foda.

Quase meio dia e ele ainda permanece à mesa, olhando os jovens que saem andando, lentos e despreocupados, gesticulando seus braços, na conversa que já não poderia mais ouvir. Olha para o Notbook, envia uma mensagem e o desliga. Hora de ir...mas pra onde?

Indeciso, volta para o estacionamento e sai com o carro. Parecia a primeira vez que a via a cidade. Olha tudo com muita atenção e procura placas que indiquem a Marginal Tietê e Via Dutra...

- A Alice que se foda! que se fodam todos. Cansei. Vida de robô, de filhodaputa,
de gente alienada. hahah, eu vou para "Pasárgada"!!!! hahahahaha

Após duas horas na estrada, procura uma cidade, onde compra umas roupas, um tênis, cigarros e um caderno para anotações. A idéia do caderno lhe surgiu nesse momento. Sempre tivera o hábito de anotar suas impressões, mas nunca lia nada do que escrevia. Almoça em uma lanchonete e segue a viagem.
Já está próximo do Rio de Janeiro, quando um vulto surge de repente na frente de seu carro o força a frear. Um jovem, de cabelos longos, mochila nas costas, se apresenta no vidro do carro.
- Aí chefia, desculpa aí, mas tô aqui desde cedo e, mano, ninguém pára não, resolvi tentar um suicídio, baseado na crença que tenho de que ninguém morre antes da hora. Tô indo pra Bahia e dependo de quem me leva, os trocos que tenho é só pra enganar a fome, que aliás tá pegando.
- Entra aí.
-Ops, valeu aí meu camarada! um conforto deste é até demais. Já caminhei um bocado e digo que faz bem; saí com a cabeça que era a bola toda do mundo e já tô até me sentindo feito esse ventinho que voa sem qualquer rumo. Tá indo pra onde?
- Pasárgada.
- Ah, é bem humorado! já vi gosta desse lance de nem sei pra onde vou pra ver se chego.

- É de São Paulo, cara?
-Sou sim.
- Sou de lá também, mas cansei da zoeira, tô querendo sossego, precisando me alinhar, encontrar umas paradas que faça a minha. Fiquei cheio de pai, mãe, namorada pegando no meu pé. Desde que nasci, nunca me deram sossego.
Fiz tudo o que eles queriam. Ai, entrei na porra de Direito, por que ele quís, meu pai, que é desembargador. Dois anos empurrados, eu queria fazer matemática e fui, prestei matemática na estadual de Campinas e entrei, mas na hora de ir, não fui.
Não tive coragem de deixar minha casa, meu irmão. Covarde heim?, é fui sim.
Fui fazer turismo e me tornei turista em dois meses. Detestei. Aí, meus pais piraram e me levaram num psiquiatra. Só serviu pra minha mãe ficar ainda mais doida, só porque o louco do "Pi", disse que eu viajava demais, que esta fora da realidade e que isto era um sintoma de esquizofrenia, que eu estava por um triz. E lá fui eu, duas vezes por semana, sentadinho no divã. Ah, me dei alta. Muito blá, blá, blá... Mas eu sabia, sempre soube, que me sufocaram demais, cuidaram demais....Um dia veio uma luz e resolvi fazer cinema e tô fazendo, quer dizer, tranquei a matrícula este ano, fui pro quarto ano. Mas este, cara, vou descansar e dar um descanso pra eles. Tá aqui o celular, sem bateria...mas fala aí, fiquei esses dias sem falar e nem tô dando pausa!


Ivonefs

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Nas horas que te penso em mim


*

Amor, na luz do dia que inicia
quando vadias as horas dançam
quando as palavras não saciam
e um toque em tua porta ouvires:

veja como chego - um susto de encanto -
venho toda com o tempo de dentro
tua boca impetuosa busca a minha
nos tomamos de nós. me lambusa
de unguento. é nosso tempo

venha lento, me alimenta
um rio sereno me envolvendo
te descobres em minha pele
e eu me penso grande
me penso tua.


Ivonefs

domingo, 20 de janeiro de 2008

Areias


I - Viagem

As asas imensas
que a transportaram
voaram Saaras

as árias intensas
que a conduziam
calaram Marias

das Dores
das Graças
das Virgens



II - Deserto

Na areia solta,
pegadas de caças

tudo miragem...será?

em que pesar?
onde pousar?

a alegria se revira
até os dentes
e se contorce

o peito tomba
e a boca beija
o que encontra:

- um solo árido,
desaponto

em tese - já é muito tarde
nada peça!

e seu grito...era interno.


III - Pouso

e assim o nome surge...

o deserto habitou-se de letras
e fui tomar um café no fim do mundo.
Levei a água que faltava
molhei a areia remexida
misturei a precisão
com pó branco e açucar mascavo
refiz uma história
que nunca na vida
será uma constatação
pois volta e meia
uma outra já é nova
- Felicidade Comprimida


IV - Vulnerável

Era perto
que de tão perto
se distanciava

e tinha tudo,
mas um tudo
desses completo

que não precisa
de mais nada
nem esforço, nada

e é por isso que doía
certeza demais
dói muito mais


V - Ausência


Aflição de um céu
poente
olhos airados
passagem lenta
de dourado
a cinza oculto

De bruços me deito
a areia me aqueçe
e penso: teu corpo
- aperto no peito
sufoco um soluço -

Calada
a escuridão me esconde
a aflição aumenta
um vento incandescente: Vesta
e os grãos em brasa
me cobrem

Lembro-me que o sonho é...
nunca será uma noite
(essa) esquecida

Adormecem os ruídos
e te respiro

Em minhas costas
meu, teu ... gemidos



VI -Consagro ao deserto meu desejo


Vesta e Vestais
um temporal
vento e fogo
cidadela
areia e água
vergonha
atrito
tagarelas
enregelados
sentidos
retina
branco
translúcido
alma
corpo
espedaçados
impotência
lúcida
de um fim
apego
desapego
entre meio: indiferença
duas vidas
inflorescência
entre a vida
entre a morte
além do desejo
o amor
expansão

... seus pés deixam pegadas leves e rumam...


Ivone Fs

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Miragem

As asas imensas
que a transportaram
voaram Saaras

as árias intensas
que a conduziam
calaram Marias

das Dores
das Graças
das Virgens

- na areia solta,
pegadas de caças

tudo miragem...será?

em que pesar?
onde pousar?

a alegria se revira
até os dentes
e se contorce

o peito tomba
e a boca beija
o que encontra:

- um solo árido,
desaponto

em tese - já é muito tarde
nada peça!

e seu grito...era dentro.


Ivonefs

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Em ti repousei

Sou refém sem algemas
acaso vês?

não saio do lugar
e tremo e temo

em cada dia circulo
no antártico brumado
esquecida

e gelo e gemo

presa de teus olhos
presa de tua ausência

presa em espera
diante de portas cerradas

num fio que me corta
tão fino tilinta...

...em ti repousei
e nem te sei.



Ivonefs

Os temores se superam nas pederneiras

As minhas letras me desenham. Nelas meus dias atravessam,
não as prostituo, nem elas me usam. Envolvo-me em seus traços.
São meu avesso, direito, esquerdo, de cima a baixo; meus anseios e delírios
deitados à tela. Na busca me embrenho e não me engano. Constato.
Minha natureza é como outra qualquer. Sou como os insetos, como as flores,
as espigas de milho, as lagartixas...Ninguém mudará.
Desvios forçados, infelicidade!

- Liberdade aos escravos em sua vaidade, em seus vícios, em suas vontades.
Não nos desgastemos. Deixemo-los livres em suas variedades.

Mas quando você me diz que suas mãos serão sempre minhas, meus temores...
ah...meus temores se superam nas pederneiras.


Ivonefs

Arte abstrata

Serei serena
na noite conturbada

Teu nome passeia
em meus lábios
- chamo e não o vejo
grito e não me escutas -

Meus delírios acordados
são como noites suspensas
quando caminho em nuvens densas
onde contorno os tons

Estás tão longe e penso - Kandinsky

Envolvo-me na paisagem indefinida
de tintas frescas, onde me componho
nas cores vibrantes que rimam
com teus seus olhos fortuitos...


Ivone fransa

Madrugada

De um ponto
ao outro
tem o silêncio
e a supensão do ar

nele contém
batidas fortes
e todo movimento
é em linha reta

até quando se dobra
a esquina
ou se perde
a direção
só se vê o ponto

e quando o encontra
só se vê no desencontro.


Ivonefs

Realidade cruel

A mãe, na cadeira de rodas,
pernas amputadas

O filho, em sua frente,
drogado demente

- obriga-a a tocar...


Ivone fran*s

De mais ninguém

Ainda sou o ontem
que cortou a noite

e ao meu lado
um sol esfuziante

com os dedos molhados
tocava Rock in versos


Ivone Fran*s

Indio

És uma impressão,
um clarão
um ponto vermelho
um verde em profusão
um arredio do espelho
um tronco ereto
belo, ligeiro
um índio atento
um relâmpado
no meio da cena
que mata
minha a sede
que volta
mais ardente...

...e a noite existe!


Ivone Fran*s

Ironia

No álbum de fotografia
tem os olhos do momento
- luz apagada para troca de cenário

A imagem, agora arrancada,
é calafrio e febre no cérebro
e no peito gelo e tremor - dor

Diante da ira, elimina-se
- há mortos e semi-vivos
sem antes e depois -

Aqui e ali, imóveis,
a frieza escura que derreia
acumula as distancias, freia

e o que pensava existir, era frágil e covarde
ironia


Ivone Fran*s

Algo(dão) blues

Hoje eu quero um canto,
um canto pra nele me encolher
e ficar sem tamanho. Em teu colo
indômito e estranho, quero blues recolher

Deixar a luz apagada - in chama
apaziguar as fissuras, das noites
veladas, em chamas. Despejá-las
na corrente sanguínea. Jimi Hendrix!

Hoje me ponho em renúncia
Deito-me nas águas profundas e flutuo
Piso em brasas inflamadas até
a última gota amarga escorrer

Meu corpo derruído – folhas caídas
Fogo e gelo (desmaiado). Ouço um
canto apartado, esquecido, remendado?
Branco, negro... algo(dão)... assim renasço!


Ivone Fran*s

Cabana Azul

não me tome
em uma taça!

antes,
me veja em pele crua,

pouse a língua
e ouça o tic, tac...

- descompassa?

serei sua
e de mais... me serei,

*
*
* eu vi o céu...
*
*

nas horas de Helena
os vícios queimam
em cores plenas

serenas tremeluzem
as chamas curtas
das velas que enredam...

...o dourado fio
a que se entregam
à luz miúda

na cabana azul...


Ivone Fran*s

É assim...

Onde me pensei
passiva, descobri
- mera cativa

de ondas embriagadas
de negações antecipadas
de pouca fé ou quase nada...

Retomo o leme
cuspo nas deixas
remelexos e danças

Sou a pulsação que arde
sou o teu desassossego
sou real, na tua carne

- a doce bebida que te sacia

Em teus desvios
arbitrários, o trago
te amarga e te corroe

o teu medo te afasta,
mas a água transborda
eu vejo, as gramas, embaixo delas

Então construo novos trilhos
e espero você chegar
- um trem carregado de volúpias


Ivone Fran*s

Simbiose

Em vias alagadas
e pensamentos ao vento,
a galope te alcanço

te acordo do sono
imaginando a hora

grito teu nome

- pra ser, lá na frente...

mãos dadas
risos, colo, cheiros
e mais Nada...


Ivone Fran*s

Underground

É vã
a escada e degraus

underground

a luz acabou
e no meio
da passagem
a água desceu
em pedras

quebras de sigilo
contra-cultura
ruptura

- ao relento pousam
os anjos do desejo -

e o Ano Todo já te cobra ... corra!


Ivone Fran*s