terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Nada muda

Se eu não tiver você
(e eu não tenho)
continua todo o mundo igual
os dias de sol
as estrelas nos lembrando do céu
o mar sempre responderá ao vento
logo de manhã, os mesmos carros rugirão
as cidades seguirão seu ritmo
se eu não tiver você
ninguém deixa de fazer nada por isso
os teus amigos rirão contigo
a cama macia acolherá o corpo exausto
as contas vencerão
o trabalho exigirá como sempre
nada muda se eu não tiver você
as coisas de fora se movimentam
as coisas de dentro são como um jardim
e num tempo de rosas florescem e morrem
aqui não importa se lá fora é outono
dentro as estações não têm lógica
se eu não tenho você
nada muda ...

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Redemoinho

Se solto todos os cordões
e ainda assim há o limite

vem do coração, esse ditador insano,
que me prende em fissura,

a amarra que me faz escrava
a gravidade que me aterriza.

Pequenos ruídos

luz queimando as horas
trechos de melodias
corpos descobertos
ar absorvendo as águas do (nosso)amor
mão adormecida sobre o ventre
tudo no centro da terra
pós explosão. silente.

Do todo que não tenho

falta o ar
falta o ar

é tanto
e me falta

quem me olha,
não diz

Cirurgia

Hospital. Quarto 43.
Cirurgia bem sucedida feita pelos dois irmãos ginecologistas. Ela, 53 anos, sem filhos.

Esforçava-se para manter o ouvido atento à conversa entre os irmãos. Tentava interrompê-los, pois sentia-se agoniada ao ver seu útero naquele recipiente transparente, guardado para análise laboratorial. Seus apelos silenciosos ocorrerram quando entrou o médico, professor dos irmãos e amigo da família, para uma visita. Apesar dos 80 anos tinha muito vigor no andar e na fala.

- Minha querida, a partir de agora você será uma mulher muito feliz!

- Obrigada, doutor, mas por que o senhor diz isso?

- Porque a partir de agora você é uma mulher oca!