terça-feira, 29 de dezembro de 2009

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Ivone

Anoitece
Se for noite de sarau, verei Ivone
Ficarei insone
Depois dessa miragem
Me faltará coragem
Para dormir
Ver Ivone é ir
Não sei para onde
É tomar o bonde
De uma história antiga
De encarnação passada
Ver Ivone é tudo
Mas hoje é só vê-la
Agradar aos olhos
Abraçar a moça
Entender a emoção
E conte-la
Essa menina é isso
É o viço
A alegria do momento
O ungüento
Que remove dores
Relembra a história de amores
E passa solene
Passa intocável
como são intocáveis
Os anjos que conheci

Vai, menina
Cuida bem de tí.

(Ruy Villani)


Poema dedicado a Ivone fs no livro Almas Costuradas de Ruy Villani publicado em dez/09

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

sob prescrição

cinquenta miligramas
e entro no sonho do nada...

posso viver sem o mundo
descansar as unhas

e o amanhã tanto faz
como este poema.

como vingança, se assim quiseres

reservo
como numa receita culinária
um tempo certo
pra maturação

e aí desanda o pensamento
a viagem que fora, nada aflora
e dentro um redemoinho

sintetizo:
esse olhar derruba o meu
palavras que não mentem

resigno?
não
tudo frustação

o tempo escureceu
as nuvens que sozinhas vagavam ganham companhia

fugaz
eu, definitivamente, estou no mundo de fantasias

pensamentos imediatos IV

digito
apago
digito
apago
digito
apago

ainda não posso
ainda é desgaste
ainda o guindaste



guia
vou pela guia
giro
ainda



andam falando muito por aí



dizem tanto
mas fazem pouco
do que dizem
os sedutores não podem ouvir



aquarela
mais água
insípida
odeio poesia concreta



meu coração na palma da mão
eu me vejo ao pulos



nesse ponto que chego
penso em quanto me movi
eu faria de novo
isso eu sei
eu faria de novo
se fosse igual o que senti



e esse final é o que menos importa...




no teu corpo
eu vi o abismo

ausentei-me

fez-se o mundo sua semelhança
girou todas as voltas
e jurei crer que esvaziava-me

era feito o infinito

a corrida sem pouso
o estribilio da canção eterna...

retrato

eu sou uma mulher sem graça
que ainda causa inveja e ciúme: é disso que rio
eu sou uma mulher sem graça...

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

sou poeta

perdida no silêncio
disfarçada à luz indireta

tudo tão igual
manhãs temporais
blecautes angústias

tudo tão inútil
memória passado
histórias embustes

uma página em branco
quase uma tortura

- entre a denúncia e o segredo, o degredo

domingo, 11 de outubro de 2009

ele sabe rasgar-me o peito

e não cirze, deixa o feito

se fosse pra dizer tudo
teria que pintar
talvez filmar
ou fazer uma radiografia

minha pele se debatendo
(en-cena)

carne que resiste
(ao veneno)
à bala
à faca
ao flagelo

pálida, não sangra
feita estátua de santa
à confissão reverbera

ele dizia:
- ela é tão boazinha e não há quem dela não goste

eu pensava:
- só você me bastava. não preciso de tanto

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Hoje visitei Mario de Andrade

Hoje visitei a casa do Mario de Andrade. Foi por acaso - dizem que nada é por acaso -Estava na Barra Funda comendo um pedaço de abacaxi - desses mesmo que a gente compra numa banquinha de frutas na esquina - depois de enfrentar uma fila na Junta Comercial e ter "discutido" com o atendente que queria se livrar de todos em um minuto como que para demonstar sua eficiência pela rapidez no atendimento. O cara não ouvia ninguém e na minha vez prometi a ele que se não me passasse todas as informações ia dar um beijo na boca dele na frente de todo mundo. Nunca vi alguém corar tão rápido e a fila inteira riu. De fato as informações estavam erradas e quase paguei inutilmente uma guia que não serviria para o fim que eu precisava. Comia o abacaxi e contabilizava meu prejuízo do dia, guia: quinze reais, abacaxi: um real e o estacionamento: oito reais, tudo por uma exigência da Receita Federal e acabei ficando com um protocolo para voltar em cinco dias. ... (ainda bem que dei carona a um desconhecido a quem pedi informações para chegar até a Rua Barra Funda, isso adiantou meu expediente). Também falava com o Luiz Filho no msn pelo celular e dizia a ele que as ruas da Barra Funda eram esquisitas e ele disse que era questão de acostumar... uma vez eu falei pro Schawartz que não tinha nada na Praça Roosevelt...ele até twuintou minha frase...disse que rendeu muitas gargalhadas. O Schawartz é mais um que não acredita que nada é por acaso, pois foi por causa do absurdo que eu disse que acabei lá, na Praça Roosevelt, rodando em seus bares com a Rita Medusa, o José, o Mirisola, o Bactéria, Bortolotto, quer dizer o Bortolotto estava presente, só presente... E hoje, foi justamente quando eu praguejava as ruas da Barra Funda, que dei de cara com a Casa do Mario de Andrade. Lembrei do Muryel e por causa dele fotografei.




1. Francisco Pettinati - 2. um anônimo - 3. René Thoillier - 4. Manuel Bandeira - 5. A. F. Shmidt - 6. Paulo Prado - 7. Graça Aranha - 8. Manoel Vilaboin - 9. Goffredo da Silva Telles - 10. Couto de Barros - 11. Mario de Andrade - 12. Cândido Motta Filho - 13. Rubens Borba de Moraes - 14. Luís Aranha - 15. Tácito de Almeida - 16. Oswald de Andrade.

*Foto de um painel no interior da Casa de Mario de Andrade

sábado, 19 de setembro de 2009

Entremeio

Espanta-me a abundância
quando dela se sabe: inefável

hoje fez sol!
eu vi através do vidro
e gelei quando fechei os olhos recostada à parede do quarto

o sol me desafiou logo cedo

eu,
sem luz,
embriagada há séculos,
tive um momento de lucidez

domingo, 6 de setembro de 2009

a vida não tem mesmo jeito...




às seis da manhã, quando distribuem os jornais pelos andares, ouço o ruído do elevador que se movimenta e para, se movimenta e para. isso não impede que eu durma em seguida, quando esse trabalho termina. acordarei novamente quando a campainha do colégio em frente ao prédio tocar às 7:30, o que também não impede que eu volte a dormir depois. ando pensando em algo que me induza ao sono, ando querendo não pensar, ando querendo acordar daqui há algum tempo, quando já não mais estiver aqui. chorei.
o interfone tocou, esperei que tocasse mais algumas vezes, para ter certeza que havia tocado mesmo. a voz que chamava, o nome. pedi ao porteiro que repetisse e ele disse o nome e o codnome. da sacada do vigésimo andar, vi duas mãos segurando o portão, como a querer abri-lo à força. não. preciso dormir. olho no espelho e não gosto nada do que vejo. volto para cama. mas se fosse alguma emergência? - mulher é assim, não consegue dizer um não e ficar despreocupada - não. vou dormir. não durmo. ligo para o celular:

- aconteceu alguma coisa?
- vem tomar café comigo?! - desliga o celular. põe no bolso do paletó do terno. vi da sacada. volto para cama. durmo. meia hora? o interfone toca novamente. peço que espere um pouco. tomo banho, um creme no rosto. um jeans e a primeira blusa que encontro...
- o que houve?
- vim te ver. vamos tomar café na padaria?...

curioso como há momento em que se congela o pensamento, o corpo segue como que automatizado...

- cerveja? passou a noite em claro? ainda não foi para casa? pra mim café .
- a vida não tem mesmo jeito. ele disse olhando em meus olhos, como se essa fosse a conclusão de algo muito pensado e repetiu - a vida não tem mesmo jeito...

há um ano atrás parecia muito certo de seu rumo, pensei. mas eu sei que nada nesta vida é tão certo assim.
segurou minhas mãos e pela primeira vez senti que estava diante de mim tudo o que desejei daquele homem, tudo que duvidei que um dia ele tivesse coragem de demonstrar...

...no caminho de volta, ele me abraçou e caminhamos assim em silêncio...até o portão.
o sol ofuscava minha vista, eu reparava em sua pele clara do rosto algumas sardas espalhadas, enquanto seus olhos continuavam nos meus. ofereceu-me a face que beijei com carinho...ele se foi...

sobre o que falamos? quase nada foi dito... nem foi preciso
Ivone fs


(quadro: Frida Kahlo)
" - "Arvore da Esperança, Mantém-Firme" (1946)
Frida Kahlo pintou este auto retrato para seu patrono, o engenheiro Eduardo Morillo
Safa, depois de uma operação. Na mensagem "Arbol dela Esperanza Mantente Firme.",
que está escrita na bandeira, ela parece procurar alento. A expressão foi retirada de uma das suas canções preferidas. " obrigada, Carmen Sodré,pela informação!

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

ao rigor e ao descuido, o inevitável

então. agora eu transpus a luz do sol, porque queria me esconder bem atrás dele. clamei à noite que a lua cheia não viesse. não queria uma espiã. não foi preciso que nenhuma luz eu apagasse - quando elas mesmas se apagam. há muitos espantalhos por aí, eu pensei caminhando pelas ruas. o milagre das coisas, nas mínimas coisas, eu o valido, mas as cores que meus olhos decodificavam fugiram-me. os tempos difíceis ignoram minha delicadeza. eu peso o mesmo ou um pouco mais, quem sabe, do que uma pétala... se fosse apenas viver...
esse pensamento me pegou de jeito. apenas viver.

domingo, 23 de agosto de 2009

deixa o poema se expor

não te cabes mudar qualquer palavra
tentar camuflagem

deixa o poema

que seja ele como quiser
inda que o olhes
e te sintas indecoroso:
resigna-te


que maior indecência seria pois o cativeiro!

terça-feira, 18 de agosto de 2009

entrega-te

que relutância essa

a segregar o lixo
num engasgo tóxico
quando mortais são os danos

faltal?

que renascer seja!

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Resgate

(para Juliano Guerra)


a soberania do sol
o que vem e invade
cedo ainda a janela

desconhece

que de manhã
a noite tomou seus pulsos
arrancou suas vestes
e o levou - preso -

em busca da liberdade
sobre paredes
e extensões aramadas

o sol ardido
desconhece as criaturas
que desconhecem o sol
quando estão perdidas

e desconhece os medos
da noite que antecede...

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Decepção

quero ir a um bar e tenho um propósito. é sempre o propósito, mas qual o pretexto? hoje ainda não dá. não consegui me convencer e não ir será um alívio. antes, porém, rondei silenciosamente e depois dormi.

hoje, que já outro dia, não um depois, vários: fui. não houve nenhum contra argumento, não precisei me convencer. era certo. fui como se cumprisse uma profecia.

existem várias formas de se matar um fantasma, mas olhá-lo nos olhos é a mais pungente, pensei. fotografei-o, editei no picasa. mais nitidez, mais brilho, contraste, sombra, luz de preenchimento. um fantasma perfeito.

odiei o cara da mesa vizinha, que me olhava insistentemente e como desculpa para falar-me pedia de vez em quando meu isqueiro.

constrangimento: o fantasma me deu as costas. o mundo ebuliu por dentro. uma porta aberta.
saí d i s c r e t a m e n t e.

qualquer desculpa será aceita pela minha ausência... mas matar pelas costas... é covardia.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

olhares e lentes

Ei!?
cadê a beleza daqui!?

eu despejava pedregulos, pelo tilintar das pedras
e tapava os vazios...

o peso me fazia dormir algumas horas...





Não fosse o zunido uníssono do bar carregado,
e a ausência de ouvido às palavras apressadas,
a calçada seria a velha pisoteada dos passos etílicos
e a luz que dançava nas folhas, das árvores centenárias,
cederia ao sol, sem ao menos, um lugar na minha lembrança,

hoje ambas amanheceram com um segredo...





a beleza... a beleza...

essa se sustenta onde ninguém a vê, mas a sente...

sábado, 1 de agosto de 2009

falarei comigo, quando meus amigos me deixarem.
dizer-me é tão mais... assustador? minha verdade de mim é impiedosa. não me diz aquelas pequenas mentiras, onde disfarço meus desapontamentos e me apresento tão maquiada que os convenço. e me convenço .
nem me diz as grandes mentiras que engulo e finjo que acredito. é todo meu quarto iluminado ou escuro, janelas cerradas ou abertas, dia e noite. é todo passo a vagar pelo teto comendo horas e horas com deduções inutéis. é todo vazio que me toma...

terça-feira, 28 de julho de 2009

Instante

Não há anúncio
nem despedida

tudo flutua num seco aroma asfíxico

e no inverno,
nem mesmo sei quem é a neblina...

domingo, 19 de julho de 2009

Espirais

Se me deres teu sorriso
e limpar o tempo
varridas as desavenças
sobrarão as cores

Pensa:

desenho teu rosto
exponho matizes
canções, diretrizes

lado a lado

aquarela e fogo
em banhos estrelares
van goghniados






A noite estrelada-Van Gogh

Deformidades

não vejo transpassar o delicado fio da sensibilidade
atropelam-se, em nós, à porta da transcendência,
onde ganhar pode ser confundido com a loucura da possessão

morrem aos montes numa fronteiriça de recuos, em retrocessos,
numa repetição que me lembra "tempos modernos", parafusos:
retorcem a culpa, o medo, o fracasso, os desastres, os excessos de nada

estocados de furor, de desculpas, flagelados, prisioneiros da razão
vão aos altares, mentir suas culpas e pregar na cruz mãos insensíveis,
sangrando, no topo das escadarias, seus joelhos cravejados de rubis

imploram a salvação, mas tremem frente a uma corrente abissal.

o olho não fita senão o vulto. que ameaça? a voz se derrete por dentro
e sobre a luzidia água movem-se grãos de veneno assediando o inferno
era de se saber pequeno e pequenos são por não se perceberem mendigos

sábado, 18 de julho de 2009

Primeira página

Revi um cômodo, como quem procura um resto, um vestígio.
Estava intacto, como um poema antigo, como estátua exposta, onde a poeira não corroe a matéria e um sopro não é suficiente para desnudar-se.

Andares de peregrina. Um odor que asfixia.
A luz que beira um atropelamento de palavras enviesadas em bocas de carrancas torturadas.

Todos os não dizeres silenciados perfilando a emergência de uma roldana tresloucada.

A vida que ficou, minha sombra exigindo uma fidelidade antiga.
Mas hoje, sim hoje, agarra meus cabelos outra mulher que em mim emerge.

O sorriso dele, amparado por suas pálpebras me concedeu um nome...

De fato, não me foi concedida a crença, essa mãe de toda realização.
Minhas profecias, as mesmas que desdigo, não se afeiçoam a mim e me abandonam no primeiro trincar da cisma.

Não há remédio para esta peregrina, que faz do sol a pino o punhal que dá a vida.
Os anjos me rodeiam, mas sou serpente em encantamento e fascínio que não perduram.

Os temores, contenho-os.

Não creio no belo, no mel, no doce, no céu, pois moro na ausência, no tremor, na insciência, na crua insônia de quem padece...

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Ninguém me guiará na escuridão...

Devo arranhar os sentidos
Cuspir nos fantasmas
Demover minha insônia
Esculpir minha angústia

Reverenciar o silêncio
Penetrar nos espelhos
Reinventar minha arte
Perpetuar o instante

Enclausurar a palavra...

A todo rigor
e a toda escravidão

devo lembrar:

Ninguém me guiará na escuridão

Que ser sua,
castidade

Oposição:

Encerrar livre aquilo que vier
sem perguntas
sem perguntas
sem perguntas ...

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Inconsequências


Por que desejo uma trava
e flutuo incessante num redemoinho?

Quanto de aparência deve o choque,
o teste que se aflora e apunhala?

Minhas costas gélidas acostumadas
ainda um punhal rasga, fere?

Quantos risos hão de ter a boca,
enquanto sangram os pulsos?

Passem por mim as víboras,
os temporais, as orgias,

que das rimas nada sabem
Não falem por mim! Revidarei?

Olharei para o alto
e estarei livre das radiações?

Oh! terrenos que me expelem
e me fazem um incômodo de mim:

Que dor maior a de ser vítima
de querer da flor o que se exala

e se em teu cerne há a luz que extermina,
em qual ponto hei de ver, se sempre és tardia?

Bendito o que manipula e não conhece o entardecer,
o livre e manso, que navega em todas as ondas

O simples que nada questiona e finca a fé,
que perdoa sua estupidez e ri maior em qualquer nota

Bendito ao basta que se apodera do poderoso,
que se safa, por estar certo de sua razão

Quem questionará ao covarde, cego, mas firme?

Não darei meu suspiro rente ao chão, onde nada o pó,
sem antes olhar-te nos olhos e dizer-te: oh vida,

sei mais de ti do que imaginas de mim!

sexta-feira, 3 de julho de 2009

quinta-feira, 2 de julho de 2009

A mão que embalança

Na cadeira de rodas, a mãe, pernas amputadas.
O filho, em sua frente. Drogado demente

obriga-a a tocar.

Pleno

O mesmo que jura, peca

faz da inocência
o seu disfarce

distorce

com qualquer uma flerta
e vem lamber meu veneno

quinta-feira, 25 de junho de 2009



Emergência

Não garanto minha sanidade.
Não vi hoje o clarão da janela que mostrava daqui de cima a cidade.
De casaco, semi nua, pernas e pés, peito aberto eram só a urgência.
A cama pronta afronta, o pulso acelera.
Tomada pela disfunção no tremor da esquina desconhecida.
Nem alicerce. Das mãos a água derrama, o que seria, talvez, o bom condutor de uma pílula branca que dançava sobre o móvel preso num azulejo, que de repente, de frio e branco, era o infinito se abrindo...
Tomei, então, em vez da pílula, as gotas que se opunham ao inverno.
Vesti-me. Desastradamente segui o caminho do elevador...

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Um arrepio com razão - Ivone fs (voz: Rosa Cardoso)

pintura: Diva Benevides Pinho - Avenida Paulista em uma noite de inverno (2º da série 450 anos de São Paulo











Há tantos dias
me chama...

Que há em mim?

velando as horas
contando os passos

assim
sem tropeços
desejo expresso

um café
um cinema
um passeio na Paulista
um sorvete de pistache

será?

você diz que à noite tem extras
e posso pedir

mais

e mais

e mais...


terça-feira, 23 de junho de 2009

O silêncio do poeta adormecido

Teu lugar
não te encontra

vive o pássaro
no bico da profecia

que desenhou
a desdenhar da sinfonia:

que era outro o teu canto
que era outra o remanso

um pássaro que não voa?
silêncio!
ele dorme... dorme... dorme...

sexta-feira, 19 de junho de 2009

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Outra

Se quiseres ainda me alcançar
não será neste patamar
nesta nota só, unilateral

se quiseres ainda me ver
não será por esta câmera
este olhar antigo, viciado

se quiseres ainda me embriagar
há de destilar essa bebida em nuvens
e ter a boca seca, sedenta pelo oásis

se quiseres, ainda que seja por um segundo,
partir meu olhar, há de compor naves
recompor o universo, a estrada estelar

Jugular indecifrável
exigência dilatada

Receio teu limite
lanço um desafio: duvido de tua vitória

que faria a minha.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Meu lugar

olhei por horas

através das nuvens brancas
pelo canto de um grito mudo
pelo entremeio de orlas trêmulas

sob medida

e saí pela rua... olhando para o que existe

os vestígios terão se evaporado ao nascer do sol, no dia seguinte

custou cumprir, como se pena fosse. e mais uma vez sentiu-se apenas leve, nem maior, nem menor. deixou pra lá essa história de crescimento. haviam páginas a serem preenchidas e histórias prontas a serem vividas...fossem elas quais fossem...

Noite insone

inquieta essa noite...como se algo faltasse...

não alcanço por ânsia

vinho doce, desde que seco

vim andando
pela rua
pelo asfalto
...
há muita pedra
mas pisar nas nuvens... é divino

excesso...
isso que me deixa assim

há mais do que pressuponho
há mais


"A vida é amiga da arte"


os rumos, veja só,
nenhum de nós sabíamos
agora, deixo ao acaso


nada mais livre que se deixar ao abandono
e nada mais inóspito do que o abandono



vou me livrar da condição imposta
não há ditadura que perdure tanto
antes que exploda, terei atirado


Agora é novo o dia


as palavras dançavam
se recolhiam murchas
era o círculo...



viver e não ter lembranças é o mesmo que morrer para a coisa

segunda-feira, 1 de junho de 2009

desarmamento

Quando ainda era sinal de luta
e revirei coisas e saí em chamas
e procurava o labirinto infinito
onde as unhas se quebravam

o quarto escuro, a teimosia
ansiava a desordem, que fosse
a imprevisão do previsível
o triunfo de ver novo, insistia

ora, se durmo e acordo
e hoje é outono, o sol não queima,
mas o vulcão me habita

talvez o segredo, em que não creio.
seja o inexplicável, o grande desconhecido
a verdade, que intocável permanece

o que me faz seguir...

Devoção

Esse lugar é de quem quiser
não peças licença, é de todo mundo
escolhe o que melhor te aprouver
nos cantos, nos ângulos, no sangue,
tua própria escolha, vai fundo!


mas olha através dos braços
dos corpos, da fumaça, dos copos,
da farra, até me alcançar
que eu estou aportada
nesses teus olhos enredados de graça

nesse ponto fixo, meio mística
tentando daqui te adivinhar
é só o vento assoprar
as estrelas se espalham

se é um blue, samba, hip hop,
bossa nova, deixa rolar
eu te sonho nos vendavais
nos meus varais, um destes há de estar

e este link que proponho
talvez não vejas jamais

mas olha através dos braços,
dos corpos, da fumaça, dos copos...

Intervalo

que se chegue a mim,
se for um aconchego
meu colo, minha fala,
meu gelo, minha ausência
minha cara virada

eu não sou admirável
nem tão detestável
meus defeitos trago descobertos
mas, por favor, isso eu peço:

eu acredito em ti
eu acredito e não me comas
e depois me cuspas

nisso só, te quero como sou
se não engulo
eu nem provo

movimento

custa todo riso
desejo, domínio

caminhar como quem ignora o vento contrário

dormir pedra
acordar fria
saber o sol
saber a chuva

custa cada passo
protagonista, figurante

viver passa como um filme

inefável
creio:
amanhã
para a falta de hoje

ou não

Abstração

o que sei é dançar ao vento
rodopiar de braços abertos
engolir pedaços do céu

o que sei bem, é ser ausente

quarta-feira, 6 de maio de 2009

como eu queria virar nuvem...

e sou tão absurda
quando jogo comigo mesma!

mas inventar alguma coisa
daria uma tonalidade audaz
nesse quadro inanimado:

o branco incendeia
o breu da noite atormentada
a cada linha delineia:

anjos de asas e armaduras
adornam vielas com casinhas acesas
as janelas, os segredos

(que nem são segredos,
mas não tenho acesso)

liláses, vermelhos, arredores
"Rosa-e-Azul"

montanhas, pincéis, crianças, nus ...
Renoir, Van Gogh, Monet, Degas ...

Estranha

Há um silêncio
que finjo não ouvir

que cala em nó
embrulhando meus dias

Dessarte, iminente,
o peso e o oco

nas páginas vazias,
alguns vestígios

inquietantes

"Mulheres Nuas"

minha poesia exposta
sob vidro frio, jazia

queria silêncio e gaveta
(tão desconhecida!)

ou antes o vento
a chuva, relento

minha poesia exposta
era estranha e abandono

um cão sem dono
dou-me

naturalmente

ando tomando umas medidas:
em vez de ficar pensando em você
aceitei um convite para um café

e hoje aceitei um convite para um café!!! (outro)

acho que está dando certo
a questão da substituição...

motivo

não direi o óbvio de mim
(quando sou feita de excessos)

sempre a enchente me cobrindo
afogamentos quase completos

e nada que valha

Poesia

passou a manhã olhando pela janela:
sol
nuvens
mais nuvens
sol
fome

a tarde olhando pro chão

à noite mudou de posição

Não direi insanidades

o sol é cenário
a noite é cenário
enquando o mundo brinca de roda

Caderninho

Ando quieta
compenetrada

não imagino o que me tiraria deste sério

porque tem hora, que nem o sonho tem mais ilusão



.

Diálogo mudo

Muito antes que venhas me dizer:
pressinto

...muito antes, tua palavra perderá o sentido
e nada me dirás...



.

Não sou pessimista, mas viver de encarar as coisas como são causa alguma frieza,
que até se parece com algum desânimo...



.

Não creias no que digo
nisso eu creio, já basta!
assim tua crença fica intacta




.

talvez doesse menos meu estômago
se eu pensasse menos
se eu sentisse menos
se eu esperasse menos

preciso urgente fazer uma dieta



.

perdi o interesse
prefiro me livrar das vestes velhas e seguir nua



.

Cinzas

da labaredas que queimaram Joana
imagino um burburinho
e alguns estalos partindo seus ossos
pra me livrar um pouco ao menos de meus mais.



.

o calvário da consciência lúcida
procura o cimo
um sabão em pedra
e um tampão para os olhos

Minha Vila Madalena

Minha Vila Madalena
Enquanto as ruas me atravessam
passo a passo, sem pressa,
grafites, frases, muros,
rastros, bares, murmúrios,
um vendedor de rosas,
toda prosa,
na Fradique Coutinho,
diz que plástico não morre,
nem riso que nasce molhado
da pétala fresca dos lábios
da moça que anda sozinha,
diz que sabe poesia,
diz de um dia que chovia
e vai dizendo,
enquanto rumo ao encontro,
de quem ainda nem conhecia,
no estacionamento,
a minha espera,
na Livraria.

Sob meu olhar

Dias e dias
em convívio recluso
limite, fobia

falei ao avesso
pensei inconsequente:
pipas, balões, aviões

desenhos em papel de seda
papéis de parede, rede
noites insones

Nina Simone

contrastes
na página de hoje
marca-dor

pedaços do passado
espelhos estraçalhados
um corte na mão

amadora

Delírios

Estou pronta
com uma raiva rondando
um ataque
atabaques (palavrinha oportuna)
um bote
e castelos caem

Sonho de Março

Dormir
povoar a noite de sonhos fragmentados

perdi uma criança
de vista
perdi a hora
e um compromisso
esqueci a senha
e chorei
pelo que escapou por esquecimento

cobrou a dor no peito
o dia já pelo meio
o passo que não alcançou
a hora passada
a frustração
a impotência
o sonho perdido

o caos
reflexo do meio
perdi o ponto
balanço

explicações desconexas
desculpas de paz

aos teus pés
angústia
a passagem impressa
jogo de palavras
decolagem
mais um vulto entre transeuntes
inconfessável
incontestável

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Resvala da luz


a metade
que em mim se cala

é Holocausto
fogueira
cruz

dedos que estraçalham





*Marcelo Farias dedicou este poema ao seu amigo Jotta, assissinado em Manaus em Maio de 2009

Choque

vagar em noites,
seguir ciente das ciladas
o riso da boca para fora

no rosto, um véu mascara

não vanglorio
sei da minha miséria
das pétalas,
da flor ainda semi-aberta,
secura

é curto o ciclo...podia deixá-lo cumprir-se

tão silenciosa a margem em que me debruço
chove sem mais sonhar a estiagem
vertente que não se esgota
vertigem constante

essa que vês, se faz camaleão e sua cor é palidez
um dia ousou o sonho,
hoje a frieza
não diria jamais que voluntária

minha ousadia precede o que quero

domingo, 29 de março de 2009

Ele diz: (Ricardo Pozzo e Ivone fs)

- tá com raiva?
- hoje quero ser pedra mais que saliva
- voce quer ser a medusa?
- não. mas olharia nos olhos dela
- a vitima dela?
- não vítima
- suicidazinha!
- vontade...
- olha para trás, igual a mulher de lot
- mulher de lot?
- de sodoma e gomorra
- e virar pedra?
- de sal
e sodoma e gomorra viraram o mar morto
mas aí quem sabe te lambam pelo menos
- as vacas adoram lamber sal...
- eu seria uma vaca
- o sal faz flutuar
- o corpo
- num mar morto salino
- credo... ta mais pra hebréia que pra grega então

ondulações

acho bonita a cidade assim
vista daqui do alto

visto-a nos olhos

hoje de neblina
seda londrina

Sobram as palavras

em que sentido?
nenhum. bloqueio de direção.

viraram um amontoado
e, neste caso específico,

o poema estava do lado de fora.

acordei

acordei
agora talvez eu durma mais.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Paisagem

Do vento, uma rajada
onde transpareço nuvem

De um sopro, um alarde
rebatendo no teto

Uma sensação
parando entre os olhos e o tempo corrido

Um carro,
uma marginal em vai e vem

Um Pinheiros de tez lisa plúmbea
escondendo seu desespero

À saída de um esgoto,
uma garça... solidão.

terça-feira, 3 de março de 2009

O mundo é muito barulhento

Faça-se silêncio

que hoje preciso dos ruídos
das árvores
das águas
das pedras

em choque com o vento
e só.

Ânsias e mármore

Quem dera fosse eu iludida.
Por que vazam-me os olhos
as certezas cruas inauditas?
Por que vazam-me os olhos?

Ronda-me um abraço inédito
Incendeia qualquer riso pouco
Abrasam cinzas em descrédito
Ao vir vento sopro intrépido

Qual beleza fria, fotografia,
O deserto, a solidão a esmo,
Refletindo assaz água viva

Porque certa é a imagem nua,
Céu de um pensamento audaz
Que na dureza não se amotina.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Nada muda

Se eu não tiver você
(e eu não tenho)
continua todo o mundo igual
os dias de sol
as estrelas nos lembrando do céu
o mar sempre responderá ao vento
logo de manhã, os mesmos carros rugirão
as cidades seguirão seu ritmo
se eu não tiver você
ninguém deixa de fazer nada por isso
os teus amigos rirão contigo
a cama macia acolherá o corpo exausto
as contas vencerão
o trabalho exigirá como sempre
nada muda se eu não tiver você
as coisas de fora se movimentam
as coisas de dentro são como um jardim
e num tempo de rosas florescem e morrem
aqui não importa se lá fora é outono
dentro as estações não têm lógica
se eu não tenho você
nada muda ...

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Redemoinho

Se solto todos os cordões
e ainda assim há o limite

vem do coração, esse ditador insano,
que me prende em fissura,

a amarra que me faz escrava
a gravidade que me aterriza.

Pequenos ruídos

luz queimando as horas
trechos de melodias
corpos descobertos
ar absorvendo as águas do (nosso)amor
mão adormecida sobre o ventre
tudo no centro da terra
pós explosão. silente.

Do todo que não tenho

falta o ar
falta o ar

é tanto
e me falta

quem me olha,
não diz

Cirurgia

Hospital. Quarto 43.
Cirurgia bem sucedida feita pelos dois irmãos ginecologistas. Ela, 53 anos, sem filhos.

Esforçava-se para manter o ouvido atento à conversa entre os irmãos. Tentava interrompê-los, pois sentia-se agoniada ao ver seu útero naquele recipiente transparente, guardado para análise laboratorial. Seus apelos silenciosos ocorrerram quando entrou o médico, professor dos irmãos e amigo da família, para uma visita. Apesar dos 80 anos tinha muito vigor no andar e na fala.

- Minha querida, a partir de agora você será uma mulher muito feliz!

- Obrigada, doutor, mas por que o senhor diz isso?

- Porque a partir de agora você é uma mulher oca!

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

O silêncio da última palavra que por si só fala

...e o que mais me intriga
é a síntese de tudo

foi preciso desbravar toda uma floresta
para poder dormir de um simples cansaço.

Lagoa

Pálpebras,
asas encolhidas
sob a neblina:

às vezes
o sonho adormece,
a água turva

e todos os peixes têm a mesma cor

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Pétalas ávidas

Ganha minhas coxas,
quando em mim
teus olhos procurarem
o intento dos meus

Neles não há raso,
Nem esse riso próximo
nasceu ao acaso:

Antes se fez,
apaixonadamente,
em toda altura
que à vertigem lança:

A fome e a sede,
de bocas abertas,
diante da mesa farta

Lâminas duras

Não me peçam uma vida regrada
Não me exijam a presença
Não determinem meu dia

Não sou igual se chove
Não sou igual, quando antes à noite foi clara ou escura...
Não sou igual nenhum dia

Meu espelho é um estranho

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Fotografia

Reveste a luz
em lúcida quietude

Beleza mórbida

Dança que enlaça
a forma decifrada
de um ponto imóvel
que não apreendo

Pairando sob a retina
da lembrança
como pinceladas
de indefinidas cores

Avenidas cheias
Asfalto molhado
Luzes, cidade
Vidros cerrados

Calor incendeia o ponto imóvel onde se movem a música, a palavra
e o silêncio do poema pronto sem beijo no destinatário

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Absorvo

Porque te olho e a onda me engole

de ser eu feito areia
dissolvo mole,
disforme.


20/12/2008

Vãs tentativas

Estremeço
pela abundância sedimentada

o desespero retido
borbulha e massacra como fel

ímpeto de alcançar
- mãos estendidas oferecem -

ao chão, num tropeço,
as oferendas se espalham...



26/12/2008

Saudade

Quem vela teu sono
enquanto velo as horas
em que não durmo?

Teus cabelos guardam segredos
só decifro com meus dedos...

anéis justos cobrindo minhas mãos

Teu rosto, moço,
é o guardador da luz
que vigia a minha noite

Por onde andará teu pensamento
enquanto caminhas por aí, nas ruas,

Dessa cidade que não conheço?


27/12/2008

Bilhetes rasos para seus fantasmas (por Rita Medusa e Ivone fs)

Rita:

Desenho luzes?
Entreato de flechas ou somente espasmos no meu caderno manco?

Ivone fs ...
paraliso o instante nas direções multiplicadas

Rita Medusa
O medo é um passo ordinário para a sentença desejada...
Quantos passos você conta?

Ivone fs ...
era de orvalho
em vôo rasante...os pés flutuam

Rita Medusa
As asas souberam dos caminhos as fraturas das distâncias
Um só
Translúcido para ser onírico.

Ivone fs ...
jarradas inesperadas golpearam minha paz
choveu breu sobre os alicerces bambos

Rita Medusa
E bambas cordas se contorceram
Jasmins quiseram resgastes
Não imaginava ardência nos sacrificados mantos
resgates,alturas...

Ivone fs ...
jaziam as cédulas da credibilidade
troquei meu bilhete do vôo sem volta
me debati nos muros débeis do retorno automatizado

Rita Medusa
Soube de não retornar do teto do meu quarto
A alienação carimbando um desvario na testa
Inocente parábolas modificadas com a ponta da língua
Queimaram-me viva e a tocha na minha mão entornava

Ivone fs ...
um sono profundo transportou minhas cinzas
lavadas pelas ondas que inundaram minha face
dejetos abortados



27/12/2008

Vigília

Vigília

Quem apalpa agora
senão um vestígio
de vento na toca
onde curva e volta?

Eu, parede em aparência
uivo mudo, ardência
interna redemoinho

Raso o riso
passos em cadência
em qual me escondo?

Estranha, a noite!
O ruidoso momento
que adia ou espera

Tua voz : nuvem

- envolve minha dor
passeando
e não diz a palavra
que me salva -

Desse ponto,
do mapa indecifrável
do abismo noturno,

aves rodeiam
a esfinge adormecida
guardando um segredo


16/12/2008