domingo, 24 de junho de 2012

19/06/2012

eu não te dou minha tristeza estampada para que não tenhas piedade. eu suportaria teu sarcasmo, tua ironia, tua indiferença, mas jamais tua piedade. minha tristeza só de perceber a tua não compete. não olhes os meus pecados. afasta tua mão. eu não dou a mínima para tua solidão

18/06/2012

Angariava o que naquelas ruas?
o estranhamento oculto
em disfarces erigidos
tudo um incômodo 

o conhecido é o estrangeiro

secou o último fio de saliva
assustou-se com a própria voz
e eram os transeuntes
os animais assustados
naquela pressa
onde o passo deselegante
passa baixo
lambem o chão, os olhos

correm para suas tocas

a rua é dos loucos
hóspedes iluminados
livres dos degraus das catedrais e seus portões eletrônicos

o humano apedregulhou-se

10/06/2012

- recebi a fatura do cartão de crédito e vi que vou ficar no vermelho
- ixi, e o que você comprou?
- uns gibis, vinil, um casaco xadrez e o resto tudo em bar...




- aí onde você mora tem uma banca de jornal perto?
- hummm, não. acho que não
- e sebo, tem?
- não. não tem sebo
- então não é um bom lugar




- que você quer ganhar no dia dos namorados?
- o CD da Patti Smith, claro!
- pode ser cópia?

Ressonãncia



providenciou o tempo
que todas as flores caíssem
desafiou seus olhos a olhar o caos
e ela ergueu-se em suas asas invisíveis
não gemeu sobre nenhuma gota estupidamente arrancada
uma altivez indevassável
nunca se rendeu
não cuspiu o amargo
não soterrou as mágoas
não expurgou o desespero
não anestesiou a dor
arranjou-os todos em seu sangue
era um caminho desviado do mar
colheu o subjetivo onde passou a habitar
as vozes escritas ressoando as ausências
as companhias vorazes
sempre o cerne do fogo
como o vício cego
pagando o preço da vida
o abate do the day after
os acordes sobre pincéis molhados
cores rubras naqueles rostos sonhadores
eles passam e ela os deixa
um novo filme
play arte aos refugiados
e sobre todas as coisas
o zumbido de algum plano
distorcido
conta teus passos, amor,
teu vai e vem não o trouxe até mim
onde está tua voz eloquente?
o disfarce de teu olhar silencioso
angustiando o meu.

13/06/2012

interessante é a inconveniência
é o desconcerto daquele que repudia os seus contrários
é a tentativa em obter a razão
interessante não é a bondade mas o que se apresenta como seu representante
interessante é a mocinha revoltada pagando de vítima
interessante é cobrar o que lhe seria impossível dar
interessante é o gueto acomodado em almofadas
interessante é o padre dizendo - vamos repartir o pão - enquanto recolhe o dízimo
é o poeta esbravejando no meio da rua e sendo levado a sério
é o cara que fala mal da mina que o aniquila e quando todos sentirem pena dele, ele fugirá com ela, a sua rainha
é o outro que tudo faz em troca de nada desde que lhe deem tudo que quiser
e ele lhe falando de amor e no dia seguinte aparecer encantado por outra
interessante é o que lhe convém. o resto é literatura.

09/06/2012

eu sei duas coisas muito bem:
ficar longe de você 
ou ficar bem perto
por que mais ou menos é muita tortura

11/06/2012

quantas vezes tive que ter certeza de que era incerto. ficar parada numa encruzilhada, sentindo o vento assobiando em meus cabelos, cobrindo meu rosto, contemplando a dúvida, numa demora de quem espera, ainda para hoje, todos os anos em que a mesma sensação me tomou conta. a estátua estática. em volta? sentenças, tratados, alianças, rupturas, abandono, sacrifícios, cria, criadores, ossos, sangue, saliva... vida.

30/05/2012-

se der o bruto
hão de acrescentar mais pedras
a menos que encontre uma lâmina

30/05/2012

às vezes minhas palavras
são a paralisia do súbito
um surdo momento

30/05/2012

enquanto o pensamento não é controlado pelos censores há sonhos de liberdade.

15/05/2012

nos tempos de  delírio
o estranho são os outros
a coragem revela o inconcebível

15/05/2013

haviam deuses
e com eles
ninguém podia

15/05/2012

senha: não ordene
percebe que nem os cães nem os gatos obedecem a menos que amestrados?

13/05/2012

mãe, aqui está tudo estranho. continuo confusa e defendendo aqueles meus pontos de vista lamentáveis. o Lu está com treze anos. é meu companheirinho, conversamos muito e ele é muito doce e inteligente e um monte de outras coisas. eu me separei já faz uns oito anos e stá tudo bem com relação a isso. sabe, mãe, nunca me esqueço da nossa última conversa e de quando você disse para aquela enfermeira, no corredor do hospital: "esta é minha filha". estávamos com muito medo e você esperava que o pai chegasse antes do amanhecer. ele não conseguiu chegar antes de você dormir...mãe, tem alguma poesia colorindo o mundo e seu nome é uma delas. até qualquer hora. beijão
..e at alguma sensibilidade podem lhe roubar...é
mas ser sua essencia renovavel... ainda há chuva a cair e ventos mensageiros...

02/05/2012

eu queria lavar suas coxas seus joelhos calcanhares
lavar seus pés. olhar de baixo seu olhar 
sorver a água que escorre de seu rosto
sua vaidade invadida atônita
tempo instável
ruídos do dia das ruas da cidade trilha sonora
eu queria falar com muita naturalidade: hoje está frio chove um pouco está tudo bem

28/04/2012

estou andando nas marginais
estou andando nas marginais
muito longe das ruas centrais

13/04/2012

e eu nunca sei de nada
porque eu ando pelas ruas e falo sozinha
nenhuma conclusão sobre nada
uma culpa renitente porque sou mãe
a espera do lugar silencioso 
lá fora tem um parque onde as pessoas ficam caminhando 
parecem bem animadas
outro dia eu também estava bem animada
eu andava de mãos dadas com um antigo namorado numa rua no Rio de Janeiro e lá era outro tempo
eu nem pensava no ontem nem amanhã
eu até fiquei mais calada como quem está bem alegre e só quer olhar para as coisas com o alheamento de não se importar com coisa alguma mundana
o feriado corre
fiquei ilhada
faço várias coisas não por escolha
não cumpro com a rotina dia
não telefono
levanto fora de hora
almoço fora de hora
perdi a fome no jantar
outro dia fui ao teatro e revi uma peça
não dormi desta vez
quase
eu fico pensando muitas coisas
e eu nunca sei de nada

03/04/2012

adorei o final do sonho: inesperado, doce, absolutamente envolvente. como uma parede de vidro que se quebra e lava o chão de granizo. foi assim aqui dentro quando me puxou pela mão e me pediu para encostar a cabeça em seu peito. choveu a inversão da ruptura, como um beijo que já se sabe sem ainda sê-lo.

(esses sonho se repete há muito tempo. o mesmo personagem. as cenas parecidas, mas hj foi um pouco diferente)

02/04/2012

tem dia que tudo é falta


01/04/2012

ninguém roube meu sonho
meu amor garante a liberdade de não esconder-me
nem rastejar-me na humilhante subserviência
meu amor acorda e dorme absolvendo as desgraças
meu amor conhece a impotência diante dos inevitáveis desvios
meu amor não cobra a presença
espera o amor, não uma justificativa
meu amor é um pássaro em teu peito
um descanso no meio da jornada
meu amor tolera o delírio
crê nas palavras não ditas
ouve os transeuntes
pacienta nas tormentas
meu amor é um sino no vilarejo
a criança descalça caminhando rumo ao tédio do entardecer
meu amor passou pelas tempestades
rangeu os dentes em madrugadas intermináveis
no temor ao dia seguinte
colidiu com os escravos
meu amor atravessou o mar vermelho
venceu o barulho
silenciou em última instância
meu amor é um pouso
meu amor é um voo
um pouco de Deus
minha porção sagrada

(Ivone fs)

Lapa


expõe tua alegoria
um filete de ruídos ladeados por velhas janelas
um encanto emaranhado de tempos idos
o perfume recente do teu umbigo
arrepio proposital causado por minhas mãos
eu danço na incandescência orbital de um canto original
tocar-te o sexo
disponho da memória
da intimidade de te ser conhecida
teu antigo afair
senão fora a morte
o tempo cobre
a sorte emblemática
mãos entrelaçadas
que importa o lixo na rua?
o prédio em restauração
a comida mal servida
o dinheiro gasto?
tocar-te o rosto
no fundo dos teus olhos as promessas incutidas
decifro minha face
invado
o Rio nos escolhe
acolhe atemporal
atento
a tempo de ver o sol
através dos vãos de uma apoteose vazia
tenho ciência de não pensar em nada
a Rua Riachuelo brotou em peito.

Ivone fs

26/03

naquela noite olhou para o céu e não era poesia
uma estrela solitária brilhando a ermo
um brilho involuntário
alheio
ardia

naquela noite uma criança dormia
sem beijo de boa noite

naquela noite não era sereno seu sono:
implorar amor tem sua hora de cansaço e sabedoria:
viver só
não é escolha

(Ivone fs)

26/03/2012

se é difícil o domínio
o auto controle
que exploda
se há nuvem escura
que chova
se me condenas
que morra!




25/03/2012


é preciso quebrar a monotonia. possibilitar a criatividade. tirar os olhos do chão. transformar o obsoleto. perder o medo de sentir medo. sair do controle. surpreender-se. cortar o cabelo. pintar a unhas de verde. comer sem neuroses. falar menos de estética. ir ao teatro. olhar as ruas. andar a pé. tomar picolé. é preciso mais vida e menos prisão.
(Ivone fs)