domingo, 19 de dezembro de 2010

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Venero o sol e as nuvens que se engravidam dele (Ivone fs)


Isso é engraçado e delicioso...
Muito gostoso de se imaginar... (Samuel Vigiano)


é quando o dia está como hoje e empresta suas imagens pra gente poetar
um dia de sol às escondidas (Ivone fs)


O dia amanheceu como se não tivesse dormido... (Samuel Vigiano)


munido de poesia. que nada a detenha. que tudo a contenha (Ivone fs)

Isso é poesia. O dia amanheceu assim, poesia (Samuel Vigiano)
"Como um louco , não tenho pretensões nem esperança... digo-vos a pura verdade...essas são as minhas palavras loucas" Kerouac
"Eu quero brincar às escondidas contigo e dar-te as minhas roupas e dizer que gosto dos teus sapatos..." Sarah Kane

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

(pensamento imediato)

não desejo esquecer-te
a não ser
dentro de mim
simplicidade é algo tão grandioso que poucos alcançam

meu veneno

se o vento a pedra não dissolve
há dentro o tóxico

se explode no peito, que seja rosa
e aos olhos alheios, um deleite
teu colo perfeito
tuas mãos perfeitas
teus cabelos negros
minha cabeça em teu peito

adormecemos no sofá
colados em gosmas...
Lendo Delta de Vênus - Histórias eróticas de Anaïs Nin percebo uma forte semelhança, na narrativa, com as Mil e Uma Noites.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

o sonho adormece antes do amanhecer

que faz o vento na minha janela?
percebe minha dor
e pensa espalhá-la?
agora infesta a noite e me alivia?
se é minha, deixe que dela cuido eu
se comprimo
há de qualquer hora explodir
então se fará rosa
não de Hiroshima
que contamina
rosa dos meus disfarces
rosa de minha ruína
que qualquer turista fotografa
e guarda como quem já esteve em Roma

Ivone fs - (1:28 - 02/12/2010)

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Eu quís a aproximação
fora de época
temporã

sagrado monstro do desejo
eu te cultuo de joelhos

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A essência de um chamado

as noites
essas que foram
e aqui estão
releituras em verso e prosa

abraçam-me
tomando minhas coxas
mamilos ardentes
diante de seus olhos
os meus

não era, acaso, a rebeldia buscando o arcaico ?
a poesia transgressiva gozando num leito dos impossíveis?

poetas malditos
transcêndência surrealista

a palavra arde e marca

domingo, 21 de novembro de 2010

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

terça-feira, 16 de novembro de 2010

a santidade está em nós. somos todos santos inda que perdidos
a santidade está em todas as coisas, inda que passem desapercebidas
e pedimos perdão pelo que somos e pelo que não somos
pelo que conseguimos, pelo que desejamos, pelo que estragamos, pelo que tragamos
e Kerouac me tem...dito.
criamos e matamos na mesma intensidade no mesmo ritmo acelerado em que todos nos encontramos nesse tempo de expectativas desilusões de becos sem saída em que não respeitamos nem a nós mesmos enquanto seguimos procurando modelos em quem nos identificamos e perdemos nossa identidade em favor de uma ansiedade impulsiva buscando um prazer momentâneo a qualquer custo...
o homem é um ser perdido oscilante flutuante pisando nos dias até o dia final
deixa os rastros...
segue como novo é o dia
como novas são as coisas

São Francisco abandonou até as roupas!!!
‎"as tristezas secretas são ainda mais cruéis do que as misérias públicas" Voltaire
sejamos discretos. antes de sair e apagar a luz é conveniente se certificar que todos estão distraídos em seus afazeres, não causar alarde para os proteger. convém que tudo esteja, inda que aparentemente, em seus devidos lugares. convém não se atrasar.não fazemos falta, quando todos têm sua ocupação podemos desligar o cordão.

domingo, 14 de novembro de 2010

meu pai sempre acreditou que sou muito inteligente. sempre acreditou que sou sossegada. sempre disse que sou lenta para fazer as coisas. sempre achou que não me apavoro com nada. toda vez que ele me vê - a gente se vê muito pouco, ele mora um pouco longe - ele me abraça diz rindo: "você está muito apavorada, hoje?" e depois dá uma gargalhada e diz: "você nunca se apavora". eu sempre rio concordando com ele...

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

somente a nuvem
escura e grávida
pode chover

da chuva,
se esconde aquele que não quer se molhar

chuva inútil em tempo de telhados

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Aguda

na crueza de unhas gastas
o sol se põe outono
numa parede escarlate
gotejou a noite
o soro lento compassado
sangue sangue
a cor do sonho
sem rivotril
para onde?
dorme a dor desamparada
num berço ordinário
meu corpo

domingo, 31 de outubro de 2010

o que dou é o meu melhor e também o meu pior ou mais ou menos...é tudo uma questão se agrada ou não porque eu...porque eu tenho a exata medida dos teus olhos (tua ilusão)
às vezes resta um sol
às vezes uma réstia
às vezes uma indelicadeza
e nunca ninguém tem nada com isso
é coisa do livre arbítrio

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

...

Luz fria
nada que arrepia
os peixes dormem

Coisas de poeta (Samuel e eu)

Ivone - uma coisa se liga à outra... em volta do sol há pontos de encontro

Samuel - Como se fosse raios de luz interligados pelas pontas das sombras das árvores, embaixo...

Ivone - ouve! não é um solo! é uma orquestra inteira! as folhas dançam...as letras se misturam....a noite permite que se perca o senso...rs

Samuel - A noite sempre permite... Ela tem uma naturalidade em permitir o frio, o escuro, o sons... uma orquestra!

Ivone - e ela mesma é tão quieta...

Cântaro

Mergulha-te
em torrencial derrame
o gosto, eis o que fica


"O gosto é a qualidade fundamental que resume todas as demais qualidades. É o nec plus ultra da inteligência." É só através dele que o gênio é a saúde suprema e... o equilíbrio de todas as faculdades"...Os cantos de Maldoror - Lautréamont
eu tento controlar...é que essa fera que me habita tá sempre pronta pra um bote...o problema é que depois quem dança sou eu. mas às vezes até a agradeço quando não me controlo...
Eu seria necessária num tempo tardio
perder-se é um jeito de ausência
é um jeito de encontro
é um jeito de misturar-se
ser massa...
mais uma...

dizer não é necessário

ousar é também não fazer nada

é meu encontro o desencontro

salvar a pele
vestir o vento


‎"Um nada
éramos nós, somos, continuaremos
sendo, florescendo:
a rosa-de-nada, a
rosa-de-ninguém" Paul Celan

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

a termo

não
eu nunca te amei

o amor que em mim acendia
era só meu
eu amava o amor

você?!
um espelho encantado
que estilhaçado
lhe restou
tudo o que tem:

graças ao meu amor

eu amo o amor

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

desapego

porque tudo deve ser um presente,
assim como é um raio de sol no rosto logo de manhã
ou o vento aliviando as tensões

...assim como é o sono de nós dois...
eu tenho a rebeldia dos livres...

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

...

Teu despertar me apavora
Tua ida de mim...

Eu jazz dançando no vácuo

Alheios

E esse tempo que nem pensei?
Já foste em retirada?
Acaso sabes de mim?...

Eu vejo a repetição
Esses sinais...
Eu conheço esses sinais

O barco dança: é culpa do mar

Quem sabe o que vem?

Conselho inconsciente: "deixar a palavra esfriando"

O mar transbordou
Eu morro afogada

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Na avenida Paulista outra vez...

Tomo nota:
*"Ele me diz com o ar um pouco mimado que a arte é aquilo que ajuda a escapar da inércia."
eu rio
a arte é o caminho sem volta...(e por acaso, há alguma volta?)
eu deixo teu sangue se misturar ao meu
amanheço em delírio
ando pelas calçadas da cidade
as cores e luzes das fachadas dos prédios em frenesi
palavras em reprise encobrem o som dos motores e das buzinas dos autos
imagens que rememoro
o som do teu nome
grafites. riscos desalinhados. a pressa da arte em perpetuar-se
paralisam meus olhos
ouço o baque das botas
não vejo os rostos
vultos
o vento retorce meus cabelos
faróis vermelhos
passos passos passos
só vejo você
a Avenida Paulista desaparece...

(ivone fs) * Ana Cristina Cesar - Luvas de Pelica

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

abstração

só me interessam as verdades ocultas, implícitas
as indizíveis
estou a procura do sentido ínfimo
da expressão
essa que marca sob a pele
e anda com peito inflado contra o vento
preciso de um toque que vaze meu coração
que inunde toda essa falta de ilusão
que o derramamento venha da torre mais alta da cidade
e caia feito estacas sobre os desavisados

eu não tolero mais o padrão

sábado, 11 de setembro de 2010

Bateia

e quanto mais velha mais sábia:
deixou as delicadezas
odiou de vez o que tentava camuflar em meias palavras
via, finalmente, graça no ser humano
estar só ou acompanhada
participar ou assistir
investir, despir-se
não é mera opção
o rio sempre corre pro mar
haja pedra
haja chuva
haja sol
haja o que houver
dizer nada, gritar, calar
excrementos que vagam ao vento
escrever é dar forma ao pensamento
o ócio é coisa pra vegetais
vício é pedra também
que nem um sambinha de uma nota só
a diferença que faz ou tanto faz
é o que sobra num batear

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Ah...

você reclama minha presença
reclama minha ausência
reclama só e não me chama

brasa sob cinzas

deixe assim como está
deixe ao deusdará
deixe estar

quando eu passar
guarde em sentinela
a rainha o castelo
seus artifícios
seu ofício
seu tremor
mais que tudo isso:
resguardo

à parte:
um disfarce
circundando, agora,
à óleo, seus olhos :
um horizonte de Goya
um céu de Frida Kaho...

um apelo nada vulgar
em compensação

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Harmonia

ironia para o que cabe

silêncio para o que cabe

obsessão para o que cabe

sarcasmo para o que cabe

palavras para o que cabe

explicação para o que cabe

agradecimento para o que cabe

reconhecimento para o que cabe

oração para o que cabe

vingança para o que cabe

lembrança para o que cabe

respeito para o que cabe

desprezo para o que cabe

perdão para o que cabe

cegueira para o que cabe

fingimento para o que cabe


distância para o que cabe

amnésia para o que cabe

avanço para o que cabe

sensibilidade para o que cabe

exposição para o que cabe

isolamento para o que cabe

ousadia para o que cabe

sedução para o que cabe

olhar para o que cabe

suavidade para o que cabe

receio para o que cabe

medo para o que cabe

tensão para o que cabe

sonhos para o que cabe

alegria para o que cabe...

...para o que cabe

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Rifa de encantamentos (Para Sr. T)

Eu te culmino de olhar-te
Aço rubro
Entreposto do passado

Faço-te espelho
Silêncio de um reflexo
Espectro

Vagas imóvel ao acaso
Cama desnuda
de lençóis idálios

Um deus te cobre
e nos faz meio
(Nunca estiveras assim, sob a sombra de uma luz)

Se antes guardavas a melancolia naufragada
Guardo agora minha face a reavivar-te
Bebo teu repouso escarlate
Abre-te belo e me contagia na tua eternidade

Vê, nem sempre renuncia a flor sufocada por espaço
Curva-se a haste
E altiva por onde deseja

Quem deterá se te lanças?
Sabemo-lo o motivo
Inda que imóvel e muda a boca
Respiro adjetivo

Colho da tua presença a embriaguez
De palavras grávidas em hora de parto
Atam-me as formas em ruínas
Um aroma doce me desperta...

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Às vezes

...tenho uma sensação estranha... de que o que era meu foi roubado... não que fosse meu, no sentido de posse... às vezes eu sinto um desconforto naquela que pensa que detém o que eu penso que é meu...

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

sem prévia

se eu disser
que teu beijo é escuro
não os olhos fechados
o braço o ato
o transporte o corte

o teu beijo é escuro
de gelo
não de frio
de cor

blecaute
o mundo pariu
deu à luz a sua única semelhança
no ponto em que cega
entrega

seu eu disser
que teu beijo é escuro
é vertigem




dedico este poema ao meu amigo, escritor, Marcelo Mirisola
pça. Roosevelt - 14/08/2010 -

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Moro no estrangeiro

tenho motivos de sobra
herança de faltas
um núcleo infesto
...tudo contra minha vontade

tentáculos atingem meus olhos
é quando acordo
...ele nem sabe que é melhor manter a distância
e eu nem sei se por mim ou por ele

terça-feira, 10 de agosto de 2010

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Sombria III

insossa

tinha em quem se ancorar
sua marca era fingir e ignorar
por isso aquele sempre riso chocho
de menina boazinha
dá pra imaginar?

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

À Jack Kerouac


à Jack Kerouac


...............
"JACK. O que é que eu tenho a perder?
CODY. Ninguém sabe"

fragmento de Visões de Cody

terça-feira, 27 de julho de 2010

desenho

se desenhasse tua boca
ia direto à língua

que nem Michelangelo
que toca o cadáver
a descobrir o músculo
no tato

exporia ao mundo
o que não se vê
na corrente sanguínea

que estremece o intocável
ser

ser nua a esfinge
na fissura da lâmina

que nem o dedo de Deus
a dispensar altares
e espalhar as cores
em forma de querubins
me cerceando

o pecado é santo
a língua limpa
a língua
a língua

sou pura demais
e o preço é alto
não falo de amor
não falo de conveniências
sou toda inconveniência

e você
acorrentado nesse pedestal
detentor da própria chave
nenhuma decisão me cabe

ah! se adivinhasses o quanto me custa!


Ivone fs


_________________________________________________________

◘ escolhi alguns COMENTÁRIOS do BDE pra postar aqui:

1. "Que lindo Ivone! Mais um motivo para tua inspiração ser invejada. " Ruy Vilani

2. "querida parceira

Sempre de leve
tem um toque
que a gente as vezes
nem sente
mas sabe
porque arrepia
mesmo sem saber
de onde vem... " Ivo

3. "Fodaço de bom!!
nesse tom de solilóquio não é fácil de escrever. é para quem tem agulha afiada!
e Iv, fia esses monólogos como ninguém. Acho até que deveria escrever mais nesse estilo, lindama." Calaça

4. "iv, e se vc cantasse como quem transborda, baldeada, encanto e bons augurios?

..será q alcançaria o outro lado =) " Lanoia

segunda-feira, 26 de julho de 2010

meu manifesto


silêncio
infesto

(não dói mais, antes doesse)



cruzei os braços
e descruzei os dedos



vou na onda que desejar é um desajuste



nunca fui de convencer ninguém
eu inclusive



Pra ficar do meu lado precisa ter coragem



Tudo o que eu digo voa
a voz é um barulho curto
pra entrar precisa ser raso
pra ficar precisa de agulha



tudo que precisa é desnecessário

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Coitadinho...

Há quem detém
tem um Tejo

e mais vale um pássaro na mão: preso




____________

Alguns comentários no Bar do Escritor

"O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia."

- Fernado Pessoa -

Gostei Ivone! "
(Tim Soares)


"Há quem guarde um rio nas mãos.
sem alegria, há um pássaro entre os dedos,
próximo dos olhos e do chão.

Bem sacado,Ivone "
(Raimundo)



"Iv,
se não pode ter um Tejo, serve um Capibaribe? ;))
se põe ao mar em Recife...

1 beijo daqui. "
(Márcia M)


Márcia,

se de Recife, o rio
ou esse Tejo
é do mar o seu despejo
é da terra o meu desejo
Ivone fs




"se longe é o Tejo,
é perto o Capibaribe.
vá, Iv... vá Iv... "
Antoniel



"lendo esse clássico teu, remeto-me aos dias de hoje: caso goleiro Bruno.

Melhor sozinho livre, que várias amantes e preso. Rsrsrs "
Paulo

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Movimento

Ora,
se universo
dentro sujeito

calma,
também me isento
daí aceito

de bom grado
de bom humor
e também me dou

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Qual o tamanho do mundo?

o menino olhava pela janela. olhar fixo no horizonte:

- o mundo é do tamanho de minhas idéias e do tamanho de tudo que eu quiser que seja, mas isso se eu fosse um matemático. o problema é que não sou matemático. então, qual o tamanho do mundo? saber o tamanho do mundo talvez ajudasse a me situar nele - tão exato, ele parece - mas daí eu ia querer que ele fosse maior que tudo que eu conhecesse e ia perguntar outra coisa:

qual o tamanho de minhas idéias? e voltaria pra matemática... tão inexata, me parece.


(Ivone fs)

terça-feira, 29 de junho de 2010

Costas

o sol não nascia hoje
“é uma noite eterna”, eu pensava

a cama me expelia, mas eu não saía

o motivo era uma mochila nas costas
uma promessa vaga e o gosto de um beijo

eu fiquei no gosto desse beijo e no vago dessa promessa

que era para o fim do dia


(Ivone fs)

domingo, 27 de junho de 2010

Conexão Recife-São Paulo

....................................Para: Rafael M.S.


quem é esse que mora dentro de mim, que dentro do meu peito fixa um olhar de estrelas, que desce do céu e cruza os braços pra que eu não o toque?
quem é esse que faz do mundo um deserto, um assolamento atômico, que me reduz à crueza de espelhos?
quem é esse que elimina minhas fantasias, desorganiza meu caos, me veste de tristeza, me enfurece e vai embora?
e agora?
quem é esse que nega a canção contida nos vinhos, que cruza a passagem e não pousa?
quem é esse entre o reboque e o rebusco, o gelo?
quem é esse apanhador de sonhos que foge da cilada para, talvez, se livrar do terror e cai numa emboscada?
que faz do laço a sua liberdade? agora é tarde?
quem é esse que diz que tudo pode virar literatura? cura?
se o escritor não vacila? de quem esses pedaços, essas fendas, tremores, o tiro no momento em que voa a bala, a costela assada a ser devorada, os dedos ensanguentados, tortura, tontura. o voo de ilusões insaciáveis, essas indefinições, desassossego, o complexo, o avesso, a sua tirania?
sobre ele o peso que o faz lamber o pó
a água no pote vazio
do fogo, a lança da chama
do vento, o mistério dele parado
os tambores estão encharcados de um amargo licor
o escritor caído fora de si
causador de suas inevitáveis façanhas
colecionador de raridades
...
os teus olhos têm a intocável luz da lua cheia
e a mesma distância dos desconhecidos


(Ivone fs)

terça-feira, 22 de junho de 2010

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Sombria II

a bailarina dança porque a música a impulsiona e seus pés se elevam e ela se curva, e tem um corpo ereto e rijo até quando se dobra.

a bailarina será sempre dura e seca e ninguém jamais dirá que ela não seja bela.

domingo, 13 de junho de 2010

Sombria

acabou que era um dia tão cansado de gestos de gentes indelicadas que nem adiantava lavar as mãos

acabou que era um dia de olhos e ouvidos mobiliados ilustrados num livro de Tim Burton, tão surreal quanto esta afirmação

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Cut up

eu vi todas as cores serem quebradas
um dia que jamais amanhece
minha vontade voraz vital estrangulada
não contive o desejo de uma prova que me fizesse crer
azul, como o horizonte ao meio dia em um dia de sol
findado em tortura e urros

não compartilharei das alegrias que abraçam vespas
nem mergulho nas águas de seus olhos
nem no zig-zag de suas linhas
traços verticais em vorazes ondulações

acima, como um imaginário alçar
até perder de vista, alçar, alçar
ouvir tão somente o roçar das asas
desenhados em meus recortes

quinta-feira, 27 de maio de 2010

e que diferença faz?

tem noite que a gente olha pro céu e vê distintamente tudo que ele apresenta

quem é lua
estrela
meteoro

e olha pra terra e tem a mesma claridade

quem agrega
quem suavisa
quem amarga

quem não é nada...

quinta-feira, 20 de maio de 2010

De madrugada

via todas as coisas
nem sempre ligava

alheia?
nem sempre. ligava!

sabia guardadas
suas aliadas

e se fazia mar
e se fazia seca

seca, não ligava

fosse coisa à toa
o mar, nem sentia

em sua boca

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Externo

silêncio
embaixo das folhas noturnas
nos arbustos quietos
empastrados de poluição:
densidade hipnótica


torno-me arbusto


fosse apenas uma imagem
um canto
um pano de fundo
jazz
um tributo aos sentidos,


do céu, as estrelas se desprenderiam, certamente,
ao ajuste das cores



o celular toca...

domingo, 18 de abril de 2010

no que te tornas

ainda que te roubem o sorriso
numa repulsa te vomitem vermes

ainda que por um instante te fizerem crer
de um passado, um retrato abissal
de um presente, o que dele restou: ( )

ainda que sentidos sobressaltos em altas doses
irreversível o retoque, se já in-trincado

ainda que falte o chão
ainda que falte o ar
ainda que falte a fala
ainda que falte o verso (porque és poeta!)

e em nenhum lugar te encontrares
e nenhum lugar te sobrar

hás de te consolares, pois de ti não partirás

quarta-feira, 14 de abril de 2010

febril

sinto nos olhos
cinzas
lágrimas correm mais quente neste estado
o silêncio ensurdece num funil
a gente perde a postura
qualquer coisa a fazer
um chá
a muda de roupa para dormir
demaquilantes
creme anti age
ataduras

vou dormir no sofá enquanto crio coragem

Num mesmo tempo (para Maitan)

Num mesmo tempo (para Maitan)
em mim você nasce:
que manhã não há de ser nova?

se essa voz é sua, ouço
ouço sua voz
e escalo

pra ouvir mais de dentro...

a essa altura,
nem uma palavra mais

sob a pele [à flor da pele]

quero tua voz
minha boca entreaberta
meu olhar ligado
no teu

quero o mundo inteiro calado
o momento congelado
as aflições perdendo o medo

Quero um sorriso jogado no nada
meio tímido atrelado
a um suspiro
um alívio
um delírio

quero não dizer nada
ouvindo teus gestos
colhendo os segredos
livremente encarcerada
como sonhar acordada

a história inventar

na saudade
sob a pele [à flor da pele]
no galope sucessivo
o tempo

ah, não corres o risco

na saudade
sob a pele [à flor da pele]
seras de novo

(Ivone fs)


* é música(?) me inspirei num video do Chico Buarque e Milton Nascimento "O que será" (À flor da pele)

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Fim de tarde

estive serena
e descobri coisas
um leão cochilando é um cordeiro
um vacilo mata mais rápido que um leão
descobri que ninguém detém doçura e gentileza vinte e quatro horas seguidas
há reféns e fingem
e peso e custo e explosões e apelos
descobri que ódio e inveja são sempre provocados e não há veneno que os extermine
há tréguas banimentos nunca o esquecimento
descobri a escravidão da bondade
submissão
e há outra bondade
essa é rainha tirana
descobri a sensação de ser meio
passagem
quando lambem sua língua com a saliva do diabo pelo próximo degrau
descobri obviedades
e não há quem se salve
só amo quem me ama
e não tolero os covardes
admito os fracos
que não suportam ser menos
porque são
sempre comem na mão
e sobre os altivos
não tenho qualquer palavra
é muita vastidão
dá vertigem

sexta-feira, 26 de março de 2010

Pretensões

quero andar pelos carros e não ouvir os rugidos (sonho)

a essência da poesia aos gritos:
ando cansada de tapar os ouvidos
canais poluídos
excessos de auto propagandas
tenho tido muito enjoo
poesias de cordões
marionetes
e ainda há quem diga:
a minha sim é poesia! muita pretensão...
"sei lá, foda-se, na boa"
vamos jogar conversa fora
"sem essa" de falar sério
mas fale de mim que falo de você
e nos tornaremos imbatívies
a poesia? a poesia é mera consequência
que seria dela sem mim?!

quarta-feira, 24 de março de 2010

Cores de outono

as folhas do outono
aguçam olhares ao tempo
nostalgia

o vento bate morno
e já arrepia:
que medo é esse desfolhando as cores?

domingo, 14 de março de 2010

círculo (Para Rita Medusa)


eram formas e meios


quadrados cápsulas globos cilindros cigarros canções

Ginsberg Borges Burroughs Kerouac Bukowski

euforia medo loucura apatia apatia loucura medo euforia


vozes

doses

sono...


profundo como um céu invertido
o abismo


sem nenhum sentido
o mundo


num quase impossível riso: - sei lá - dizia

- na anti-sala o tic tac jamais perde o compasso
vigia



.

quarta-feira, 3 de março de 2010

seja feita a nossa vontade

clareia, dia!
oh dia!
que eu te leve pelas mãos e não pela barriga

clareia, dia!
a caneta ou o teclado dos poetas
que ao menos um soco eu leve
e com um olho roxo te enxergue

que não sejas mais um
café - desjejum
almoço com hora determinada
jantar obrigando salada

clareia, dia!
oh dia!
que sejas de fato novo!

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

não se fixa uma prancha sobre as ondas

se alta entorpecia
a língua
em vertigem
engolia o maior vômito futuro
cantava Ben Jor: "...e que se pode voar sozinho até as estrelas"
segredos explícitos
negados
nas rutiladas retinas expostos

- o mar é morto o brilho é só memória -
esse gosto de querer adivinhar
de afirmar e negar
de negar afirmar
passado passado passando pulsando
intermitente

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Abstração



lápis e maquiagem de olho

porrada

eu tenho a calmaria das águas
turva nas tempestades

eu sei esperar
solenemente
pelo sorriso que não tarda

e nele me banho
como Afrodite
que ninguém diz:

de um amor cortado
espumou
para te ferir os olhos

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

dia primeiro

este ano não fiz lista
nem pedido algum pro Senhor do Bonfim
pulei ondas pra relaxar
e roubei as rosas de Iemanjá