quinta-feira, 25 de junho de 2009



Emergência

Não garanto minha sanidade.
Não vi hoje o clarão da janela que mostrava daqui de cima a cidade.
De casaco, semi nua, pernas e pés, peito aberto eram só a urgência.
A cama pronta afronta, o pulso acelera.
Tomada pela disfunção no tremor da esquina desconhecida.
Nem alicerce. Das mãos a água derrama, o que seria, talvez, o bom condutor de uma pílula branca que dançava sobre o móvel preso num azulejo, que de repente, de frio e branco, era o infinito se abrindo...
Tomei, então, em vez da pílula, as gotas que se opunham ao inverno.
Vesti-me. Desastradamente segui o caminho do elevador...

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Um arrepio com razão - Ivone fs (voz: Rosa Cardoso)

pintura: Diva Benevides Pinho - Avenida Paulista em uma noite de inverno (2º da série 450 anos de São Paulo











Há tantos dias
me chama...

Que há em mim?

velando as horas
contando os passos

assim
sem tropeços
desejo expresso

um café
um cinema
um passeio na Paulista
um sorvete de pistache

será?

você diz que à noite tem extras
e posso pedir

mais

e mais

e mais...


terça-feira, 23 de junho de 2009

O silêncio do poeta adormecido

Teu lugar
não te encontra

vive o pássaro
no bico da profecia

que desenhou
a desdenhar da sinfonia:

que era outro o teu canto
que era outra o remanso

um pássaro que não voa?
silêncio!
ele dorme... dorme... dorme...

sexta-feira, 19 de junho de 2009

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Outra

Se quiseres ainda me alcançar
não será neste patamar
nesta nota só, unilateral

se quiseres ainda me ver
não será por esta câmera
este olhar antigo, viciado

se quiseres ainda me embriagar
há de destilar essa bebida em nuvens
e ter a boca seca, sedenta pelo oásis

se quiseres, ainda que seja por um segundo,
partir meu olhar, há de compor naves
recompor o universo, a estrada estelar

Jugular indecifrável
exigência dilatada

Receio teu limite
lanço um desafio: duvido de tua vitória

que faria a minha.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Meu lugar

olhei por horas

através das nuvens brancas
pelo canto de um grito mudo
pelo entremeio de orlas trêmulas

sob medida

e saí pela rua... olhando para o que existe

os vestígios terão se evaporado ao nascer do sol, no dia seguinte

custou cumprir, como se pena fosse. e mais uma vez sentiu-se apenas leve, nem maior, nem menor. deixou pra lá essa história de crescimento. haviam páginas a serem preenchidas e histórias prontas a serem vividas...fossem elas quais fossem...

Noite insone

inquieta essa noite...como se algo faltasse...

não alcanço por ânsia

vinho doce, desde que seco

vim andando
pela rua
pelo asfalto
...
há muita pedra
mas pisar nas nuvens... é divino

excesso...
isso que me deixa assim

há mais do que pressuponho
há mais


"A vida é amiga da arte"


os rumos, veja só,
nenhum de nós sabíamos
agora, deixo ao acaso


nada mais livre que se deixar ao abandono
e nada mais inóspito do que o abandono



vou me livrar da condição imposta
não há ditadura que perdure tanto
antes que exploda, terei atirado


Agora é novo o dia


as palavras dançavam
se recolhiam murchas
era o círculo...



viver e não ter lembranças é o mesmo que morrer para a coisa

segunda-feira, 1 de junho de 2009

desarmamento

Quando ainda era sinal de luta
e revirei coisas e saí em chamas
e procurava o labirinto infinito
onde as unhas se quebravam

o quarto escuro, a teimosia
ansiava a desordem, que fosse
a imprevisão do previsível
o triunfo de ver novo, insistia

ora, se durmo e acordo
e hoje é outono, o sol não queima,
mas o vulcão me habita

talvez o segredo, em que não creio.
seja o inexplicável, o grande desconhecido
a verdade, que intocável permanece

o que me faz seguir...

Devoção

Esse lugar é de quem quiser
não peças licença, é de todo mundo
escolhe o que melhor te aprouver
nos cantos, nos ângulos, no sangue,
tua própria escolha, vai fundo!


mas olha através dos braços
dos corpos, da fumaça, dos copos,
da farra, até me alcançar
que eu estou aportada
nesses teus olhos enredados de graça

nesse ponto fixo, meio mística
tentando daqui te adivinhar
é só o vento assoprar
as estrelas se espalham

se é um blue, samba, hip hop,
bossa nova, deixa rolar
eu te sonho nos vendavais
nos meus varais, um destes há de estar

e este link que proponho
talvez não vejas jamais

mas olha através dos braços,
dos corpos, da fumaça, dos copos...

Intervalo

que se chegue a mim,
se for um aconchego
meu colo, minha fala,
meu gelo, minha ausência
minha cara virada

eu não sou admirável
nem tão detestável
meus defeitos trago descobertos
mas, por favor, isso eu peço:

eu acredito em ti
eu acredito e não me comas
e depois me cuspas

nisso só, te quero como sou
se não engulo
eu nem provo

movimento

custa todo riso
desejo, domínio

caminhar como quem ignora o vento contrário

dormir pedra
acordar fria
saber o sol
saber a chuva

custa cada passo
protagonista, figurante

viver passa como um filme

inefável
creio:
amanhã
para a falta de hoje

ou não

Abstração

o que sei é dançar ao vento
rodopiar de braços abertos
engolir pedaços do céu

o que sei bem, é ser ausente