sábado, 20 de julho de 2013

detentos rumores

volta e dorme
sua incansável
inalcançável
essa resposta
... desvendar os olhos
descalçar as luvas
voltar à superfície
eu custo abandonar um caminho
antes de tentar
deixar tudo no seu devido lugar
uma história incompleta
como era para ser
as mensagens no celular
de madrugada
vão definindo os rumos
as águas se separam
o mar é um leito onde ninguém mais irá se reconhecer
quando o dia surgiu
os carros continuavam apressados
as esquinas pareciam estrangeiras
o sol de outono beija a face da noite embriagada
muda
rumo ao leito
o destino arranca as folhas prateadas de linhas pré desenhadas
antes do conhecimento, as fantasias
cabe o que não cabe
as formas disformes
nesse caso
brutalidades aos pés inocentes
nunca mais irei ao seu encontro
a febre inquieta move o sossego
eu quero cama
os olhos fechados
aterro às chagas
eu quero um passo sem desespero
declaro à esperança, que venha, se vier, com os pratos e talheres
que saiba antes, que nada tenho
não me dê sinais a tocar esse torpor
se desconhece meu canto
... eu ando nas trincheiras
há muito pouco espaço
entre uma linha e outra
o que separa é um fio
é um mundo

(Ivone fs)
eu tenho olhado o mundo
através do vidro
no meu conforto
é um estar sem estar sendo
fugindo do círculo

(Ivone fs)
a poesia é um abraço de chegada e partida
rompimento para um encontro
um adeus ao mundo
um mundo se abrindo
não ouso definições
fico em suas mãos

(Ivone fs)
num momento extremo, você pode decidir comprovar suas dúvidas: dificilmente o resultado lhe alegrará.

é extenso o tempo dos reparos, após os estilhaços, mas certamente, ao final, ressurgirá mais forte.

difícil agradar? que seja a você mesmo.

(Ivone fs)


30/11/2012

sábado, 13 de julho de 2013

sustento
tua falta

não penso


se pender ao findar do dia
e a noite adentro
uma asa sangrando
sem ataduras
verás que horizonte mórbido
é o da visão cansada
nenhum ruído senão um lençol
feito braços de mãe
ao atormentado corpo
recolhendo teu silêncio pesado
... dorme o anjo
semblante nu
castidade à luz de velas
ultraje aos pensamentos
trocados pela força
contrariedades à sua natureza
uma escravidão perene
à espera do amanhã
quem sabe
 



10/01
mas entre nós há o mundo
e isso não seria nada não fossem os caminhos
tantos rumos

Deus é a única coisa que a gente não precisa acreditar. é algo que se assimila ou não. o homem inventou Deus e ele passou a existir. daí o homem continuou inventando e criou uma instituição para aprisioná-lo, pois o homem tende sempre a querer ter o controle sobre todas as coisas e como alguns precisam muito ser o chefe, foram criando vários núcleos, reinventando mais coisas de Deus, sempre prezando pela hierarquia muito bem definida e rigorosa. o homem também precisa ser dominado, precisa render-se, pois não suporta sua limitação. então Deus é amor e temor

Em verdade vos digo: o homem não inventa nada, apenas descobre o que já existe
a moto era comum e quando virei a esquina, logo em seguida o trânsito estava parado em fila única. a rua fora afunilada por cones. olhei para o lado e havia uma moto da polícia estacionada. um comando. olhei para trás, meia quadra para voltar e ninguém parou atrás de mim. percebi que ninguém passaria sem a conferência de documentos. era como numa alfândega. sem capacete, sem habilitação para pilo...tar motos, mas porque eu estava fazendo isso? conversei com o pessoal do carro da frente, se alguém podia seguir com minha moto. ninguém habilitado e também, mesmo que alguém fosse, sem capacete não dava. eu olhava para trás. uma mulher disse que se eu voltasse fatalmente perceberiam e iriam atrás. cogitei o próximo carro mais à frente. nada. ignorei todos os olhares e voltei. na esquina havia um posto de gasolina e logo ao lado um empresa. entrei na empresa arrastando a moto. percebi pessoas de quem me esquivei. entrei numa sala e vi ao fundo um policial conversando com alguém. escondi a moto num recuo de uma parede irregular e subi as escadarias. entrei num quarto e quando ia me esconder no armário de roupas, entrou uma mulher, que saquei, era a dona da casa, com outra que me pareceu ser sua filha. ela disse que eles estavam lá embaixo me procurando. gelei. ela começou a falar da empresa, do marido, das suas infelicidades... o celular tocou. acordei
prece:

que eu não me prenda em nada que me impeça de ser quem eu sou e que ninguém tenha sobre mim o poder de me constranger. amém
vezes tentam prender seus braços
tentam incutir-lhe seus pensamentos
às vezes idealizam um mundo
de pessoas felizes e prósperas
mas eu não vejo a sua felicidade
e tentam lhe empurrar em sua enxurrada de detritos
às vezes eu só consigo ver o limite da parede do meu quarto
às vezes eu tento concluir algo pelas minhas experiências
elas fervilham. eu não encontro ordem alguma
às vezes eu só vejo su...as bocas gritando
eu não os compreendo
e me pergunto: o que querem?
o que sabem de mim?
façamos um trato: enquanto eu estiver dançando só me interessa a música. o passo será como eu senti-lo
 


jan/2023
Para Ficar Bom No Intervalo Da Fuga

"os nervos balançam
como flores apressadas para o encontro
seria o caso de fechar os olhos?
o vento esquece o endereço adormecido
sobre os cílios
se vacilo, ele morde
seria o caso de sair correndo
sem passaportes ou as unhas pintadas de perfumes?
... o trânsito das direções me embaraça
vaga-lumes me guiam
deixarei um rastro de confetes dentro dessa névoa
um desajuste em suas duas pupilas
mas caso me apanhe antes da queda
dispa-me
e te absorvo
como se estivesse
vencida."

(Ivone Fs & Paulo Sposati Ortiz)
uma história com olhos de argos não é diferente sob olhar de um ciclope. o coração é o mesmo. ele escolheu certo suas mulheres. vejo pelos seus filhos. que nunca os daria. a condição do amor, às vezes, é nocaute. grito surdo. absurdo. no ar, a dança incauta de quem não se importa do que é forrado o chão. quem apanha a bruma e a envolve seca? dei-lhe mais. não me alcança e me prende. eu sou a confusão. você escolhe a tarde de sol num sorriso manso. você faz muito bem suas escolhas.

jan/2013


ninguém roube meu sonho
meu amor garante a liberdade de não esconder-me
nem rastejar-me na humilhante subserviência
meu amor acorda e dorme absolvendo as desgraças
meu amor conhece a impotência diante dos inevitáveis desvios
meu amor não cobra a presença
espera o amor, não uma justificativa
meu amor é um pássaro em teu peito
um descanso no meio da jornada
meu amor tolera o delírio
... crê nas palavras não ditas
ouve os transeuntes
pacienta nas tormentas
meu amor é um sino no vilarejo
a criança descalça caminhando rumo ao tédio do entardecer
meu amor passou pelas tempestades
rangeu os dentes em madrugadas intermináveis
no temor ao dia seguinte
colidiu com os escravos
meu amor atravessou o mar vermelho
venceu o barulho
silenciou em última instância
meu amor é um pouso
meu amor é um voo
um pouco de Deus
minha porção sagrada
 
nós, os desajustados, almejamos cada vez mais a liberdade, pois sabemos o quanto os normais não nos suportam e seria correto dizer que também não os suportamos


jan/2013
nem tudo que eu quero, consigo. eu diria até que quase tudo que quero não consigo. e isso não muda nada. continuo desejando. talvez desejar seja mais que possuir ou alcançar. isso me tem feito andar mais e mais por aí.

e não é que às vezes tenho até a impressão de que era mesmo para ser assim?
 



jan/2013
vamos fingir que somos felizes. vamos fingir que o governo é bom. vamos fingir que acreditamos nos moralistas religiosos. vamos aplaudir a hipocrisia da mídia. vamos ler os piores livros porque estão estampados nas listas dos mais vendidos. vamos nos amparar em desculpas para sermos cordeiros. vamos nos adequar às imposições dos chantagistas. vamos ver tv, porque nos querem calados. vamos permitir... a tolerância abraçando a nossa aflição, vamos excluir os que incomodam, vamos bloquear, pois esse é o poder que temos. vamos usufruir da nossa equivocada liberdade....

Piedade, Pai, piedade, pois estamos perdidos e relutantes. um pouco de ar, um pouco de essência, um pouco de liberdade com coragem com integridade, um pouco do que seja eu nesse tempo em que somos julgados taxados de individualistas quando estamos é massificados.

Piedade, pois estamos perdidos e relutantes. estamos pequenos.

a dor disfarça
a dor ignora
a dor aperta
afrouxa
a dor é uma beleza estranha
um blues que te apronta
não afronta
vem mansa
certeira
a dor é certeira
... um colo de mãe e filho morto
a dor passa e te convida para uma dança
a dor é o caralho
um punhal nas costas
a dor é filha da puta
a dor não tem conversa
muda surra urra
a dor de antídoto nenhum



jan/2013
se o vento te corta
ao passar,
de quem serão as cicatrizes?
 


jan/2013
longa é a rua
as possibilidades de ...

(que seria de nós, não fossem as pequenas distrações?
bolinhas de sabão. inebriantes.
plact)

... lonjuras
passou a manhã olhando pela janela:
sol
nuvens
mais nuvens
sol
fome

a tarde, olhando para chão

à noite, passou em claro
 



jan/2013
que desespero esse de ganhar a rua
de pés no chão?
que desespero esse de ter no bolso
uma imagem santa?
que desespero esse de esquina
que desespero esse
senão uma nuvem
vazão
senão, evolução
nossos filhos crescem


jan/2013
eu não herdei os olhos azuis do meu avô paterno.
nem as mãos habilidosas nas cordas de viola de meu avô materno
herdei de minha avó materna a religiosidade dela, a devoção às Nossas Senhoras e o gosto de conversar com os homens
não herdei de minha avó paterna a sua altura e discrição e nem seu jeito afobado quando ia explicar alguma coisa.
meu avô materno tinha tempo para rir. um jeito meio crianç...a e desencanado. sempre tinha dinheiro na carteira e todo dia ele contava as notas. ele não gostava de gastar seu dinheiro.
minha avó materna sabia de tudo. de tudo mesmo que acontecia no mundo. ela pedia para eu coçar suas costas, às vezes, à tarde, depois que eu voltava do colégio. eu detestava isso, mas coçava.
meu primo eu, nas férias, no café da manhã, fazíamos muito barulho quando sorvíamos o café: só pra ver ela brava e explicando que aquilo era muito feio. ficávamos sérios e quando ela se afastava morríamos de rir disso.
meu avô paterno tinha alzheimer, quando morou em minha casa,
minha avó paterna tinha saudades da sua casa e da outra cidade e estava sempre calada. ela tinha uma cruz tatuada no braço e eu sempre perguntava o que queria dizer. eu acho que ela não sabia. ela dizia que não era nada. um dia eles foram embora.
meu avô materno tinha o sorriso mais verdadeiro do mundo. ele também morou em minha casa nos últimos anos de sua vida.
 
os anjos na noite sobrevoando as ruas do centro de São Paulo, alastrando seu cheiro, liberado pelas narinas esbranquiçadas, pingando o anseio palpitante desequilibrado, a um só tempo o involuntário, a direção definida, decidida, transcendendo aos olhares, com suas asas avançam no desconcerto dos faróis amarelos: vacilantes, como são as luzes noturnas, embriagados de palavras, revelando o frenesi das ansiedades criadoras, no movimento utópico das mãos estendidas, ensurdecidos a cada particularidade. a noite abre suas portas.
quando meu pai morreu, e faz um ano e meio, não houve em mim desespero. não chorei convulsivamente. chorei triste o vazio, e vê-lo imóvel, senti aquele frio que sente quem sabe que não terá nunca mais o velho cobertor e nunca mais sentiria aquele gozo de saber que era amada, apesar de mim. minha calma e sossego, por ele proclamada, para sempre descoberta. ele dizia que eu nunca ia envelhecer, porq...ue não esquentava a cabeça com nada. eu não me apavorava com nada. eu gostava de ouvir isso, mas sabia que eu era diferente disso. mas para ele eu era assim como ele dizia. isso que me importava. eu não questionava. eu gostava disso. mas ele se foi. a dor que se sente é inerte num momento de dor. a vida estava mesmo difícil. chorar, para mim, nunca foi um alívio, como muitos costumam dizer: chora que alivia. passo mal quando choro. fico dias zonza. mas porque estou lembrando agora de meu pai? eu continuei, nos dias seguintes à sua perda a não chorar e lembrava de várias coisas. uma vida repassando em pedaços. eu queria saber porque isso acontecia. talvez eu não tivesse que perdoá-lo por nada e nem sentia que ele me devesse algum perdão. meu pai. lembrá-lo dá vontade de tomar um sorvete lá na pracinha. ele gostava de sorvete de limão. faz muito calor no interior e hoje está bastante quente. meu pai...
 
detentos rumores

volta e dorme
sua incansável
inalcançável
essa resposta
... desvendar os olhos
descalçar as luvas
voltar à superfície
eu custo abandonar um caminho
antes de tentar
deixar tudo no seu devido lugar
uma história incompleta
como era para ser
as mensagens no celular
de madrugada
vão definindo os rumos
as águas se separam
o mar é um leito onde ninguém mais irá se reconhecer
quando o dia surgiu
os carros continuavam apressados
as esquinas pareciam estrangeiras
o sol de outono beija a face da noite embriagada
muda
rumo ao leito
o destino arranca as folhas prateadas de linhas pré desenhadas
antes do conhecimento, as fantasias
cabe o que não cabe
as formas disformes
nesse caso
brutalidades aos pés inocentes

a gente sabe exatamente quando morre para alguma coisa. sua boca cala e fica essa sensação de suspensão. uma dor no peito. uma lágrima que não cai. um sentido barrado. e distância. e solidão. acho que solidão é mais ou menos isso: o nada que se pode fazer. até que se molde. incorpore. até que se integre. até que seque. esqueletos. assim nos tornamos esqueletos. e alheios. até que passe ou não.
 


recolhia-se a tarde
fria
mais um dia
 

domingo, 31 de março de 2013

interessante é a inconveniência
é o desconcerto daquele que repudia os seus contrários
é a tentativa em obter a razão
interessante não é a bondade mas o que se apresenta como seu representante
interessante é a mocinha revoltada pagando de vítima
interessante é cobrar o que lhe seria impossível dar
interessante é o gueto acomodado em almofadas
interessante é o padre dizendo - vamos repartir o pão - enquanto recolhe o dízimo
é o poeta esbravejando no meio da rua e sendo levado a sério
é o cara que fala mal da mina que o aniquila e quando todos sentirem pena dele, ele fugirá com ela, a sua rainha
é o outro que tudo faz em troca de nada desde que lhe deem tudo que quiser
e ele lhe falando de amor e no dia seguinte aparecer encantado por outra
interessante é o que lhe convém. o resto é literatura.

(Ivone fs)


13/06/2012

na cozinha

gato diante do azulejo 
um olhar curioso
e o esboço de um beijo

26/06/2012
Nossos mundos paralelos
os garotos de minha geração eram sensíveis, gostavam de mpb e rock in roll. fumavam um baseado, tomavam chá de cogumelo, tomavam muita cerveja, vodca e uísque. falavam de cinema, compravam o último lp de música lançado. usavam jeans bem surrados tênis all star. riam muito liam muito e cantávamos ao som de violão no clube da cidade aos domingos à tarde. éramos jovens e comentávamos sobre todos os acontecimentos. política naufrágios música cinema livros HQs e tínhamos fixação pelos Estados Unidos, o bom e ruim de lá, na nossa opinião. Janis Joplin e Elis eram a nossas rainhas, Caetano e Chico nossos reis, entre tantos outros. os meninos de minha geração, de minha cidade, tinham com as meninas cumplicidade. nossas conversas e opiniões e ouvidos era o mesmo tom. nos reuníamos para ver "2001 uma Odisséia no espaço" e para ouvir o novo lançamento do Pink Floyd. eu percebo agora, bem de longe, que eles não eram machistas. e foi nessa ordem que aprendi a ter amigos homens e por muito tempo eu preferia meus amigos às amigas. as mulheres se competem muito, tem ciúme demais e quase nada de lealdade, era que eu concluía quase sempre. é claro que nem todos meus amigos daquela época eram assim. com esses eu me identificava mais. nunca usei drogas, a não ser experimentar e era unânime de que eu não precisava, pois era alegre demais e "viajava demais", como eles diziam. eles não contabilizavam as cervejas e as vodkas, me parece agora. os garotos de minha geração eram todos "intelectuais" e andavam de mãos dadas com suas namoradas. a nossa palavra preferida era: FESTA!!! na casa de quem hoje?! éramos jovens numa cidadezinha do interior. eu só queria uma coisa: morar na maior cidade da América latina e já faz bastante tempo que aqui estou. (Ivone fs)


14/07/2012
Dor febril

quisera o tempo que eu esperasse
eu esperei
tanto é frio se há febre
ainda lembro de um aquário e aqueles peixes se batendo no vidro
a sala estranha
a espera de um aconchego
os anjos no teto, quietos
as bolhas de oxigênio na água
a espuma lembrando o limbo
uma vontade de libertar os peixes
deitada no sofá de uma casa alheia
uma moleza involuntária
os peixes se batendo no vidro
a prisão vista de dentro
o mundo é triste quando se está triste.

(Ivone fs)


15/07/2012
não herdei os olhos azuis do meu avô paterno.
nem as mãos habilidosas nas cordas de viola de meu avô materno
herdei de minha avó materna a religiosidade dela, a devoção às Nossas Senhoras e o gosto de conversar com os homens
não herdei de minha avó paterna a sua altura e discrição e nem seu jeito afobado quando ia explicar alguma coisa.
meu avô materno tinha tempo para rir. um jeito meio criança e desencanado. sempre tinha dinheiro na carteira e todo dia ele contava as notas. ele não gostava de gastar seu dinheiro.
minha avó materna sabia de tudo. de tudo mesmo que acontecia no mundo. ela pedia para eu coçar suas costas, às vezes, à tarde, depois que eu voltava do colégio. eu detestava isso, mas coçava.
meu primo eu, nas férias, no café da manhã, fazíamos muito barulho quando sorvíamos o café: só pra ver ela brava e explicando que aquilo era muito feio. ficávamos sérios e quando ela se afastava morríamos de rir disso.
meu avô paterno tinha alzheimer, quando morou em minha casa,
minha avó paterna tinha saudades da sua casa e da outra cidade e estava sempre calada. ela tinha uma cruz tatuada no braço e eu sempre perguntava o que queria dizer. eu acho que ela não sabia. ela dizia que não era nada. um dia eles foram embora.
meu avô materno tinha o sorriso mais verdadeiro do mundo. ele também morou em minha casa nos últimos anos de sua vida.

(Ivone fs)


26/07/2012
os anjos na noite sobrevoando as ruas do centro de São Paulo, alastrando seu cheiro, liberado pelas narinas esbranquiçadas, pingando o anseio palpitante desequilibrado, a um só tempo o involuntário, a direção definida, decidida, transcendendo aos olhares, com suas asas avançam no desconcerto dos faróis amarelos: vacilantes, como são as luzes noturnas, embriagados de palavras, revelando o frenesi das ansiedades criadoras, no movimento utópico das mãos estendidas, ensurdecidos a cada particularidade. a noite abre suas portas. (Ivone fs)

24/09/2012

domingo, 24 de junho de 2012

19/06/2012

eu não te dou minha tristeza estampada para que não tenhas piedade. eu suportaria teu sarcasmo, tua ironia, tua indiferença, mas jamais tua piedade. minha tristeza só de perceber a tua não compete. não olhes os meus pecados. afasta tua mão. eu não dou a mínima para tua solidão

18/06/2012

Angariava o que naquelas ruas?
o estranhamento oculto
em disfarces erigidos
tudo um incômodo 

o conhecido é o estrangeiro

secou o último fio de saliva
assustou-se com a própria voz
e eram os transeuntes
os animais assustados
naquela pressa
onde o passo deselegante
passa baixo
lambem o chão, os olhos

correm para suas tocas

a rua é dos loucos
hóspedes iluminados
livres dos degraus das catedrais e seus portões eletrônicos

o humano apedregulhou-se

10/06/2012

- recebi a fatura do cartão de crédito e vi que vou ficar no vermelho
- ixi, e o que você comprou?
- uns gibis, vinil, um casaco xadrez e o resto tudo em bar...




- aí onde você mora tem uma banca de jornal perto?
- hummm, não. acho que não
- e sebo, tem?
- não. não tem sebo
- então não é um bom lugar




- que você quer ganhar no dia dos namorados?
- o CD da Patti Smith, claro!
- pode ser cópia?

Ressonãncia



providenciou o tempo
que todas as flores caíssem
desafiou seus olhos a olhar o caos
e ela ergueu-se em suas asas invisíveis
não gemeu sobre nenhuma gota estupidamente arrancada
uma altivez indevassável
nunca se rendeu
não cuspiu o amargo
não soterrou as mágoas
não expurgou o desespero
não anestesiou a dor
arranjou-os todos em seu sangue
era um caminho desviado do mar
colheu o subjetivo onde passou a habitar
as vozes escritas ressoando as ausências
as companhias vorazes
sempre o cerne do fogo
como o vício cego
pagando o preço da vida
o abate do the day after
os acordes sobre pincéis molhados
cores rubras naqueles rostos sonhadores
eles passam e ela os deixa
um novo filme
play arte aos refugiados
e sobre todas as coisas
o zumbido de algum plano
distorcido
conta teus passos, amor,
teu vai e vem não o trouxe até mim
onde está tua voz eloquente?
o disfarce de teu olhar silencioso
angustiando o meu.

13/06/2012

interessante é a inconveniência
é o desconcerto daquele que repudia os seus contrários
é a tentativa em obter a razão
interessante não é a bondade mas o que se apresenta como seu representante
interessante é a mocinha revoltada pagando de vítima
interessante é cobrar o que lhe seria impossível dar
interessante é o gueto acomodado em almofadas
interessante é o padre dizendo - vamos repartir o pão - enquanto recolhe o dízimo
é o poeta esbravejando no meio da rua e sendo levado a sério
é o cara que fala mal da mina que o aniquila e quando todos sentirem pena dele, ele fugirá com ela, a sua rainha
é o outro que tudo faz em troca de nada desde que lhe deem tudo que quiser
e ele lhe falando de amor e no dia seguinte aparecer encantado por outra
interessante é o que lhe convém. o resto é literatura.

09/06/2012

eu sei duas coisas muito bem:
ficar longe de você 
ou ficar bem perto
por que mais ou menos é muita tortura

11/06/2012

quantas vezes tive que ter certeza de que era incerto. ficar parada numa encruzilhada, sentindo o vento assobiando em meus cabelos, cobrindo meu rosto, contemplando a dúvida, numa demora de quem espera, ainda para hoje, todos os anos em que a mesma sensação me tomou conta. a estátua estática. em volta? sentenças, tratados, alianças, rupturas, abandono, sacrifícios, cria, criadores, ossos, sangue, saliva... vida.

30/05/2012-

se der o bruto
hão de acrescentar mais pedras
a menos que encontre uma lâmina

30/05/2012

às vezes minhas palavras
são a paralisia do súbito
um surdo momento

30/05/2012

enquanto o pensamento não é controlado pelos censores há sonhos de liberdade.

15/05/2012

nos tempos de  delírio
o estranho são os outros
a coragem revela o inconcebível

15/05/2013

haviam deuses
e com eles
ninguém podia

15/05/2012

senha: não ordene
percebe que nem os cães nem os gatos obedecem a menos que amestrados?

13/05/2012

mãe, aqui está tudo estranho. continuo confusa e defendendo aqueles meus pontos de vista lamentáveis. o Lu está com treze anos. é meu companheirinho, conversamos muito e ele é muito doce e inteligente e um monte de outras coisas. eu me separei já faz uns oito anos e stá tudo bem com relação a isso. sabe, mãe, nunca me esqueço da nossa última conversa e de quando você disse para aquela enfermeira, no corredor do hospital: "esta é minha filha". estávamos com muito medo e você esperava que o pai chegasse antes do amanhecer. ele não conseguiu chegar antes de você dormir...mãe, tem alguma poesia colorindo o mundo e seu nome é uma delas. até qualquer hora. beijão
..e at alguma sensibilidade podem lhe roubar...é
mas ser sua essencia renovavel... ainda há chuva a cair e ventos mensageiros...

02/05/2012

eu queria lavar suas coxas seus joelhos calcanhares
lavar seus pés. olhar de baixo seu olhar 
sorver a água que escorre de seu rosto
sua vaidade invadida atônita
tempo instável
ruídos do dia das ruas da cidade trilha sonora
eu queria falar com muita naturalidade: hoje está frio chove um pouco está tudo bem

28/04/2012

estou andando nas marginais
estou andando nas marginais
muito longe das ruas centrais

13/04/2012

e eu nunca sei de nada
porque eu ando pelas ruas e falo sozinha
nenhuma conclusão sobre nada
uma culpa renitente porque sou mãe
a espera do lugar silencioso 
lá fora tem um parque onde as pessoas ficam caminhando 
parecem bem animadas
outro dia eu também estava bem animada
eu andava de mãos dadas com um antigo namorado numa rua no Rio de Janeiro e lá era outro tempo
eu nem pensava no ontem nem amanhã
eu até fiquei mais calada como quem está bem alegre e só quer olhar para as coisas com o alheamento de não se importar com coisa alguma mundana
o feriado corre
fiquei ilhada
faço várias coisas não por escolha
não cumpro com a rotina dia
não telefono
levanto fora de hora
almoço fora de hora
perdi a fome no jantar
outro dia fui ao teatro e revi uma peça
não dormi desta vez
quase
eu fico pensando muitas coisas
e eu nunca sei de nada

03/04/2012

adorei o final do sonho: inesperado, doce, absolutamente envolvente. como uma parede de vidro que se quebra e lava o chão de granizo. foi assim aqui dentro quando me puxou pela mão e me pediu para encostar a cabeça em seu peito. choveu a inversão da ruptura, como um beijo que já se sabe sem ainda sê-lo.

(esses sonho se repete há muito tempo. o mesmo personagem. as cenas parecidas, mas hj foi um pouco diferente)

02/04/2012

tem dia que tudo é falta


01/04/2012

ninguém roube meu sonho
meu amor garante a liberdade de não esconder-me
nem rastejar-me na humilhante subserviência
meu amor acorda e dorme absolvendo as desgraças
meu amor conhece a impotência diante dos inevitáveis desvios
meu amor não cobra a presença
espera o amor, não uma justificativa
meu amor é um pássaro em teu peito
um descanso no meio da jornada
meu amor tolera o delírio
crê nas palavras não ditas
ouve os transeuntes
pacienta nas tormentas
meu amor é um sino no vilarejo
a criança descalça caminhando rumo ao tédio do entardecer
meu amor passou pelas tempestades
rangeu os dentes em madrugadas intermináveis
no temor ao dia seguinte
colidiu com os escravos
meu amor atravessou o mar vermelho
venceu o barulho
silenciou em última instância
meu amor é um pouso
meu amor é um voo
um pouco de Deus
minha porção sagrada

(Ivone fs)

Lapa


expõe tua alegoria
um filete de ruídos ladeados por velhas janelas
um encanto emaranhado de tempos idos
o perfume recente do teu umbigo
arrepio proposital causado por minhas mãos
eu danço na incandescência orbital de um canto original
tocar-te o sexo
disponho da memória
da intimidade de te ser conhecida
teu antigo afair
senão fora a morte
o tempo cobre
a sorte emblemática
mãos entrelaçadas
que importa o lixo na rua?
o prédio em restauração
a comida mal servida
o dinheiro gasto?
tocar-te o rosto
no fundo dos teus olhos as promessas incutidas
decifro minha face
invado
o Rio nos escolhe
acolhe atemporal
atento
a tempo de ver o sol
através dos vãos de uma apoteose vazia
tenho ciência de não pensar em nada
a Rua Riachuelo brotou em peito.

Ivone fs

26/03

naquela noite olhou para o céu e não era poesia
uma estrela solitária brilhando a ermo
um brilho involuntário
alheio
ardia

naquela noite uma criança dormia
sem beijo de boa noite

naquela noite não era sereno seu sono:
implorar amor tem sua hora de cansaço e sabedoria:
viver só
não é escolha

(Ivone fs)

26/03/2012

se é difícil o domínio
o auto controle
que exploda
se há nuvem escura
que chova
se me condenas
que morra!




25/03/2012


é preciso quebrar a monotonia. possibilitar a criatividade. tirar os olhos do chão. transformar o obsoleto. perder o medo de sentir medo. sair do controle. surpreender-se. cortar o cabelo. pintar a unhas de verde. comer sem neuroses. falar menos de estética. ir ao teatro. olhar as ruas. andar a pé. tomar picolé. é preciso mais vida e menos prisão.
(Ivone fs)

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

26/02/2012

veja só:
tudo se esgota
a melodia blues que me faz rir (ou chorar)
se esgota
o assunto polêmico se esgota
veja só
o jogo de futebol se esgota
as tentativas de mostrar-me ou esconder-me se esgotam
o dia voa e nem terminei de arrumar a casa
o dia se esgota
o conto se esgota
a poesia se esgota
substitutivos passageiros do seu lugar

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

22/02/2012 - Santos

porque uma hora a água que misturada à areia permite que esta repouse e isso me parece bom para ambas. (Ivone fs)

20/02/2012 - Santos

às vezes o amor passa por você e vai embora
o amor não tem parada
é como água, como vento
é um andarilho
o amor sempre procura a entrada e sempre sabe a saída
o amor é senhor de si
eu já entendi (Ivone fs)

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

15/02/2012

a mesma pessoa que é chamada de um presente de Deus na vida de alguém pode também ser chamada de um demônio na vida de outra.

13/02/2012

os movimentos todos
é um terremoto
sobre o qual eu custo um eixo
se antes de longe assistia
se hoje interno
cada vez mais
mais clara a impossibilidade
de ser a escolha
o solo onde danço
só ensaio

(Ivone fs)

12/02/2012

o dinheiro não é o mal dos homens. o dinheiro além do necessário também proporciona o deleite dos supérfluos. o dinheiro maquia as imperfeições. o dinheiro acelera o amanhã. o dinheiro encurta os caminhos. o dinheiro sugere as armadilhas do gosto. o dinheiro retarda o envelhecimento. o dinheiro é irmão da estética. o dinheiro ignora todo lixo. o dinheiro ordena. o dinheiro, enfim, me faria ficar ...aqui dias e dias discorrendo sobre todas as suas possibilidades, mas o que quero dizer não é isso. eu quero dizer que o dinheiro é uma infinidade de coisas boas sim. o único problema do dinheiro é o homem que não sabe mantê-lo no seu lugar. o homem o coloca acima dele. o homem não tem dúvida sobre o valor do dinheiro. o problema não é do dinheiro. o mal não é o dinheiro. o homem não consegue amar mais a ele mesmo do que ama o dinheiro. esse é o maior motivo de seu vazio. o homem não é livre para amar. o homem vive nas grades do dinheiro e se arrasta pelas suas mãos. o homem finge que é agradável porque espera o dinheiro. o homem se interessa por aquilo que lhe promete dinheiro. o homem não sabe amar. o homem só pensa no dinheiro. o homem finge que ama. a consequência podia virar dinheiro. a consequência do amor. mas a consequência do dinheiro é a que fica: o vazio (Ivone fs)

11/02/2012

e se não houvessem partidos políticos? e se votásssemos em candidados que não foram pré escolhidos pelos coronéis dos partidos? vivemos mesmo numa democracia?
 
 eu quero poder votar no Paulo de Tharso para Presidente. No Grima Grimaldi para Senador, no Marcelo Mirisola para Deputado Federal, Na Lu Duarte para vereadora... eu quero ser livre para votar
 
 eu não quero votar no candidato que eles escolhem. cada partido escolhe um candidato para Prefeito, um p/ Governador e um Presidente. nós não escolhemos. nós apenas validamos a escolha deles.
 
 

08/02/2012

não se espera dignidade dos fudidos mas é diante deles que os hipócritas se vangloriam. ambos têm ciência disso. (Ivone fs)

05/02/2012

cinco minutos de atenção. ainda penso que aquele rivotril que abandonei me daria um dia melhor. neutralidade. a água parada na superfície. o cuidado de reparar no descompasso do teto tão branco que hipnotiza. vertigem. um passo custa. eles se afligem. os outros. eles lamentam pela mulher amada que foi embora e elas tinham o sorriso mais lindo do mundo. eles gesticulam. eles pedem socorro. eu não tenho pena. estou neutra demais. ele me disse que antes eu era mais criativa. eu respondi que antes eu era mais muitas outras coisas. eu não tenho pena de mim. uma hora, talvez, renasça aquele gosto de ilusão. aquele gosto que faz você passar o dia se cuidando, que faz você perder a respiração, aquele gosto de ansiedade que faz você derrubar as coisas da mão, que te atropela. chorar é para os aflitos. os neutros não se importam se hoje vai chover. se a estação é primavera. se hoje à noite a lua virá cheia. os neutros adormecem. acordam. e só as vezes suspiram, quando alguém inesperadamente lhe chamam. mas isso é tão específico. (Ivone fs)

01/02/2012

nós, os desajustados, almejamos cada vez mais a liberdade, pois sabemos o quanto os normais não nos suportam e seria correto dizer que também não os suportamos (Ivone fs)

28/01/2012

Não te peço que me encantes
mas eu queria!

(ivone fs)

28/01/2012

o controle prova da sua fragilidade quando inverte sua condição
as mãos e os resquícios daquilo que uiva quando era indesejável o ruído
a punição. autoflajelo. a dor espalhada sufocando o ato incontido. os cortes não cortam a dor. o dia amanhece. a noite virá socorrê-lo. sempre vem. (Ivone fs)

28/01/2012

e se eu não souber de nada
das coisas que sei
resta o sonho (Ivone fs)

26/01/2012

você está feliz?
então está onde gostaria
como gostaria
com quem gostaria
só os determinados chegam lá
tão iludidos que acreditam
ser lá o paraíso
se assim vissem
com meus olhos desiludidos
olhassem bem
seriam só
despidos
voltando para casa
deixando para traz todo dia
morrendo e nascendo
às vezes
num lapso
beijar o mar
suavemente o sal
um gosto de vida
a verdade é uma palavra que depende de crença
e nem todos acreditam
em tuas
palavras
é doce a sinfonia de não se importar

(Ivone fs)

26/01/2012

sonhei que toda gente parava
e lia encantanda
do canteiro central
na fachada de uma construção
numa avenida de São Paulo
- acho que era Jabaquara -
poemas de Hilda Hist
e alguém perguntava:
" será que estão nos livros"
outro respondia
"acho que esses não"
e o poema falava da boca de uma mulher que estava cheia de formigas...

ah!
e esses nem eram versos de Hilda Hilst
é a imensidão dos sonhos
onde contêm
o que na vida real não existe.

(Ivone fs)

25/01/2012

o mesmo cara que um dia me chamou de "babacona", (meu post de 19/01) me enviou a seguinte mensagem no celular, ontem à noite às 23:51 :

"Ivone: Estou aqui com a minha namorada e não estamos entendendo o motivo da sua ligação. de qualquer forma, POR FAVOR, não nos importune mais! De: (...)."

Acontece que meu celular que, obviamente, ele mantém em sua agenda é pré-pago, está sem crédito há mais de 3 meses e apenas recebe ligações. estou usando um outro de outra operadora faz tempo e mantenho esse por ser número antigo e etc.

as pessoas manipulam coisas (?). talvez nem seja ele o responsável pela infantilidade, mas alguém insegura, maldosa e sem escrúpulos assinando por ele, com o aval dele, talvez, pois ninguém usaria um objeto meu, sem que eu soubesse, como cúmplice (?) ou então o caso é mais grave. ou , talvez, seja ele sim. lamentável, de qualquer jeito.

"não nos importune mais" é, realmente, mais lamentável ainda. talvez fosse esse seus desejos. vai saber. há pessoas que para se valorizarem precisam, no mínimo, se enganar tentando nos igualar a elas? vai saber... não, meu bem, eu jamais cometi qualquer ato em relação a vocês a não ser este agora.

22/01/2012

vãos de toda coisa

todo esforço é inútil. as declarações a hora marcada as promessas é inútil. despertar é inútil. calar é inútil. o jogo é um prolongamento do inútil. a pausa é inútil. telefonar é inútil. vinte e um anos é inútil. um dia é inútil. a dor é inútil. esperança é inútil. vomitar é inútil.
escrever é a única coisa que parece útil hoje.

1/01/2012

um dia um cara me chamou de "babacona" porque ele estava fazendo um jogo duplo e eu contei para garota e porque o jogo duplo era comigo. ele não era aquele cara tão religioso tão bom moço tão romântico e sincero e sofredor como gostava de reproduzir. ou até era tudo isso. ou até é tudo isso. não o foi comigo. podia ter sido um rompante momentâneo de ira por parte dele, mas eu sei quando o cerne é tocado. eu consegui provocar a ira do bom moço . eu sou muito discreta, mas algumas coisas eu nunca deixo pra lá. eu sofria de uma terrível enxaqueca e chorava muito no escuro, há muito tempo atrás e pensava que não era preciso fazer nada quando algo incomodava. o universo cuidaria disso. e cuida. já tive provas e provas disso. mas o problema era a enxaqueca. estava agora pouco lendo um texto de um amigo querido (o Cassiano Antico) e fiquei pensando em como as pessoas entram em nossas vidas e de como as identificamos e tudo o que vem junto. eu fiz muito bem a ele e pouco importa se ele percebe ou não. eu sei que fiz. não pelo que tivemos mas pelo que resultou. à vezes para você chegar a algum lugar é preciso enfrentar alguma esfinge. acho muito louca a forma como tudo isso acontece. os traços de nossas vidas e como diz o (Mario Bortolotto): está tudo certo e eu não imaginava que fosse ser diferente disso. (Ivone fs)

15/02/2012

minha visão é distorcida. tenho pensado nisso. uma garota me diz ontem num bar, enquanto falávamos de arte e sucesso, que para ela é muito claro que só os bem sucedidos financeiramente são os reais fodões, que é muito simples sacar isso: se o cara ganhou dinheiro com o que faz, então ele é o cara, senão não passa de um fudido, semelhante a um mendigo. algumas pessoas sabem bem distinguir as coisas. outro dia uma outra mulher me disse que só consegue se apaixonar se o cara tiver grana. ontem, depois da conversa com a garota, quando fui validar minha comanda para ir embora do um bar, brinquei com um amigo: "paga a minha conta?" ele entrou em pânico momentâneo. daí eu disse "seu bobo, eu não devo nada nessa comanda, já paguei a outra e fiz uma nova para voltar e ouvir uma música" e daí ele riu e disse "não deve nada? como você é barata, meu filho devia casar com você" e acrescentou "claro que se você precisasse eu ia pagar sim sua conta". ele não sabe, talvez, que caro é justamente o que não tem preço. as pessoas estão formatadas ou é impressão minha? com o enorme apelo religioso que inunda o país e tantos professores na TV dando aulas de bom comportamento de saúde e bem estar o que pressinto é um vazio. um grande vazio e bocas e corpos se movendo em torno de suas armadilhas. a respiração está cada vez mais acelerada. para onde querem todos ir??
(Ivone fs)

15/01/2012

"Na minha gaveta de remédios
os insetos de inverno
morreram de velhice" Jack Kerouac

14/01/2012

o Mário Bortolotto escreve umas coisas que me deixam com uma sensação de que sob o manto da existência ( enquanto ouço, agora, um blues dos Bêbados Habilidosos) existe um Deus inquieto assistindo tudo assentindo tudo e ele, o Deus, diz amém enquanto ele aqui cumpre cada centímetro como se um fiel filho da transcrição sagrada da vida fosse, não num papel, mas num destino incorruptível com sua verdade. impossível ficar imune e nem desejo a impunidade de seus textos.

12/01/2012

hoje estou delicada
quero dizer, sensível
quero dizer, desacelerada

era bom ficar sentada olhando o mar
mas sem falar (o mar anda tão longe daqui)

é isso: hoje queria muito ficar quieta e ir fazendo as coisas (só as que eu quero) sem nenhuma interferência, sem pressa e em completo silêncio

há dias que são insuportáveis os barulhos paralelos

22/12/2012

você não é nada porque existem os outros.

15/12/2011

enho meus péssimos hábitos e um pedido importante: não tente me mudar com esse seu padrãozinho.

10/12/2011

eu tinha uma enorme inclinação para com o silêncio. sonhava com conventos ou quartos em hotéizinhos no exterior. para ser bem exata eu sonhava morar em Praga. não conhecer ninguém. não falar com ninguém. sempre me senti ameaçada. eu queria me esconder. nunca fui a menina escolhida dos caras que eu era a fim. eu não deixava. eu sempre conseguia fazê-los mudar de idéia. eles sempre acreditaram em mim. (acho que isso acontece até hoje. sem dúvida, acontece). e depois de mim eles encontravam o grande amor da suas vidas e iam viver felizes para sempre. daí minha crença de que dou muita sorte para quem cruza meu caminho.

10/12/2012

Eu queria encontrar Kerouac

09/12/2011

o resumo de tudo= não cabe em nenhuma página
o dito é a afirmação do que passou
o seguinte é a incógnita
a vida é uma incógnita
tudo que sei é uma interrogação
tudo que sinto é uma suposição
tudo que quero não depende de mim somente
consumação é a vida já vivida
eu quero ver o que tem do outro lado do muro
de você? se puder me pegue no colo
mas cuidado! posso ficar mais alta e ver o que você não consegue. a menos que suba comigo. para isso? a mesma vontade.