segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Manipulação

Não temo a fome que assola
Nem a falta de educação
A adulação amola
Revigora a regressão

É sabido, nem é dito
A água do rio flui no seu ritmo
Vence pedras, se molda
É o mar seu destino bendito

Elevados a imaginários deuses
Vereis ruir tua êfemera vontade
Posto que incontrolável é o fado
- Almejai como a água almeja o mar...

Solo sáfaro
Nada em ti nascerá.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Gabriel

Tenho quatorze anos. Faz um mês que completei, nossa, como o tempo passa, já estou com quatorze, nem acredito!
Em minha frente, preso à imãs, está meu pai, estaticamente sorridente, me olhando. Estranho...é o máximo que consigo dizer. Ele também gostava muito da companhia dos livros. Nisso somos bem parecidos. Não nos títulos. Ele gostava desses livros chatos... Fernando Pessoa, Nietszche, Aristóteles, Saramago e principalmente livros de Economia. Mil vezes Harry Potter, Crônicas de Nárnia...Ah!. Meu pai... é estranho...muito estranho! Ele também vagava pela casa de madrugada e acaba sempre na cozinha. Gostava mesmo de comer. Nisso não somos parecidos. Eu prefiro outras coisas, sim, outras coisas...
Será que ele me condenaria? Minha mãe, Deus me livre, ela com certeza.
Melhor virar essa foto, não quero que ele me veja.
O celular vibra e meu coração dispara: "Entra na Net". Obedeço. A Net já está ligada e todos os meus mais de duzentos contatos bloqueados. Não quero que ninguém me veja...Verifico mais uma vez se a porta está mesmo trancada e enquanto espero a conexão de vídeo, retoco nervosamente e apressadamente, meu baton.
Gabriel tem vinte e cinco anos e já terminou a Faculdade. Só não consegue se livrar daquela sonsa da namorada dele. Nem ligo, azar o dele, que vive reclamando.
Mais uma vez me olho no espelho colado à parede do lado esquerdo de onde estou.
"Gostosa", vejo escrito na tela. Gabriel está sempre de pau duro e adora me ver despindo...///contato bloqueado///.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

A rosa

Uma rosa no copo
Botão que se abriu
E morreu em Agosto

Pra que serve um poeta?

Eu não sou poeta
Sou ambígua
Sou mutante
Ser poeta
Me restringe
Palavras
Traços
Rimas
Métrica
Quero ser livre
Para que ser um poeta?
Na calada madrugada
Ouvirei o silêncio
A palavra dormirá
Não virá me despertar
Pobre poeta
Em versos úmidos
Germinados
Se verte
É sua sina
Eu não sou poeta
Sou reverso
Por si só,
É a poesia
Pra que serve um poeta?

domingo, 19 de agosto de 2007

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Quando chegares

Quando chegares
Diga meu nome
Molha minha boca com a sua
E no toque de suas mãos
Revela-me teus segredos
Embrenhe-se em meu íntimo
Serei toda desenvolta
Aos teus olhos incandescidos
Revire meus ângulos
Arranca meus gemidos
Mas segure a hora
- A demora torna a fome fera
Quando chegares
Não diga meu nome
Vem, me devora
como ceva rara.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

sábado, 11 de agosto de 2007

Intricada

Velo o silêncio pesado
emboscando a ausência
exacerbada de trilhas
À risca traço códigos enredados
em veredas inóspitas

Deleto

Reviro inciente
Tardes ocas, chocas
Nem o doce cicio de sua voz me embala
Por que intrico?
Ai de mim...

As luzes da cidade

Da janela vê-se constelações e galáxias
Estrelas de mil cores dançando nas ruas
Correndo nos autos que se cruzam em vai e vem
Riscando os vãos da cidade.
Pousam oscilantes nos emaranhados metálicos
Empoleirados nos altos da Avenida Paulista.
Vestem de azul a torre da Igreja.
Escapam dos olhos de prédios enfileirados.
Desenham o Cruzeiro do Sul, as Três Marias.
As luzes de São Paulo caem no horizonte
E eu penso ingenuamente que vão iluminar
O outro lado do mundo

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

O estudante e o médico

O estudante de comunicação e o médico libanês jogaram bilhar, beberam,
conversaram e filosofaram até altas horas.
Na manhã seguinte, o jovem acorda confuso e enojado.
Combalido veste-se e foge dali balbuciando:
- Maldita carona, maldito drinque...