terça-feira, 22 de novembro de 2011

21/11/2011

Eu sei bem onde minha alma descansa (não acredito que escrevi "minha alma"!)

sei onde meu corpo goza
sei do que me causa repugnância
sei do que me decepciona
sei do exato momento em que encerro
por isso gosto das florestas sem caminho
das descobertas inéditas
do delírio que impede o controle
nego veementemente os modelos
ultrapassados românticos
mulherzinhas submissas
cúmplices
nego o mofo dos colchões
as porras descritas em versos no dia seguinte
lixo
cópias de telenovelas brasileiras
alguém tire minha pele
me beije com teu avesso
estou sangrando
fissuras de minhas unhas
a vida deve ser muito mais do que sempre vi. (Ivone fs)
eu não sei dançar e danço

não sei escrever e escrevo
não sei cuidar de uma casa e cuido (do meu jeito precário, claro)
não sei cozinhar sem queimar, quase que diariamente, o alho do arroz
e cozinho quase todo dia
tem tanta coisa que faço e que não sei fazer
em compensação sei fazer a mão, o pé e até corto meu cabelo: detesto ir ao cabelereiro, manicure e essas coisas que fazem a gente perder horas e horas...
Comecei a ler Charque do Marcelo Mirisola. faz dias que comprei e no dia, como estava dirigindo, pedi pro Lu, meu filho, que estava comigo para ler o prefácio, a introdução, o que estivesse antes do primeiro capítulo, em voz alta: "Uma minibiografia, Ricardo? Mas eu já escrevi O azul do filho morto. Vou me repetir. Tenho preguiça. (...) e daí o livro criou vida e foi pra alguns lugares comigo, ma...s só hoje comecei a ler:


"- Tinha doze anos quando queimou suas poesias pela primeira vez."

isso me inspira. queimar poesia é algo fascinante. eu já propus isso numa aula de literatura lá na USP, quando o mestre Willer pediu que sugerísssemos algo inteligente...rsrs... - vamos rasgar esses livros todos e jogar pela janela e por fogo, mestre!!! ...rsrsrs essa é outra história

a segunda intenção e o boicote à algumas coisas são sempre premeditados, embora aconteça como se não tívessemos nada a ver com isso. duas horas de caminhada no clube perto de casa logo de manhã, depois de deixar o Lu na escola, era a intenção, mas o livro foi junto: duas horas no estacionamento lendo o livro do Mirisola e nada de caminhada....  (17/1/2011)

Eu gosto da expressão "às vezes" e sempre que quero escrever alguma coisa, assim, de repente, me vem : às vezes. então, às vezes os olhos encontram um branco breu. assim, às vezes, caio num ponto, que não é encruzilhada e nem tem definição e nem pretensão alguma. às vezes, sempre caio nesse mesmo ponto que nunca sei definir se é um início ou um fim. às vezes percebo o quanto falo sozinha. às vezes... eu sei o quanto é cair em si e sei que cair em si não quer dizer nada. pode ser qualquer coisa. às vezes é só mais um momento de pura distração. às vezes não tem fim. à vezes eu penso tanto que não consigo dizer nada. como agora. e quero excrever muito mais. às vezes nada basta e reticências é coisa de mal gosto, assim disse meu mestre de literatura. mas cadê mais espaço? (Ivone fs)
o amor que a gente tem procura pouso, o meu desassossego

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

uma noite rende o encontro dos pontos cardiais

um coração pulando listras de pedestres na Consolação
vencer cada centímetro em passos ansiosos
a mente e as pedrinhas do asfalto
um desafio ao controle do tempo
a pressa em pular os estágios
e não perder a hora de perder-se.
o homem é bom

o homem não é bom
o homem finge que é bom
o homem quer impressionar a si mesmo
o homem precisa enganar a si mesmo
quer fazer o bem: por ele mesmo
o homem quer salvar-se
o homem precisa se convencer que é bom
o homem acredita que é bom

até descobrir que ele é homem
Dizem que Deus é grande, mas acho que Ele não dá a mínima para isso.