domingo, 28 de outubro de 2007

Desejo

Prescrevo:

Seja feita a minha
vontade

mas que seja assim
como desejo

livre
por puro capricho
e que me leve
às alturas

se preciso for
pago o preço (sempre tem)
mas que valha o vôo.

/ivonefs - 17/10/2007

Tudo

Não vejo a hora
do tempo que espero
ser dia de graça

pele, boca, cheiro
seus olhos rasos
assentados nos meus

tudo pode ser ser tudo (ou nada)
fonte e sede para quem quer
a qualquer tempo

vive em mim (como herança)
a necessidade e a vontade
- nisso não me engano -

o prazer livre não se perde no tempo
é grato pelo vôo
e ousa

voa
ouça
ousa(dia)

/ivonefs - 15/10/2007

Assinto

Lisa água
Desliza em fio
E toca leve...

Deixa a marca
Da presença
Úmida

Sem escoar

- Assim te quero. ...

/ivonefs -14/09/2007

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meu querido amigo poeta Eduardo Perrone
comentou assim meu poema:

Teu fino tecido...
Úmido.
Enrijecido...
Me encontro.
Que piada será esta?
Que no quase melhor da festa,
Tú desistes
E insistes em assistir...?
Me obrigas ao Voyerismo,
E é um puta egoísmo
Deixar isso tudo
Ou quase tudo...
E desse jeito
Simplesmente morrer.
Teu fino tecido...
E já não mais decido
Se sou eu
Ou você.
/Eduardo Perrone - 14/09/2007

A moça negra

Nos faróis de São Paulo...

No farol da Henrique Schauman com a Teodoro Sampaio...

Sempre o farol fechado
sempre eu, de vidro fechado
sempre à esquerda
minha pista preferida
no canteiro à direita
a miséria

Carros parados
gente apressada
invade, implora por centavos
oferecendo produtos inúteis
tentando valer o minuto

No muro do canteiro
sentada
a moça negra
de moleton verde
chinelos largados ao lado dos pés

Na mão direita um saco plástico
cheio de cola de sapato
aspirava lentamente
revirava os olhos e a boca aberta mantinha
seguidamente aspirava

A lado, um embrulho humano
cobertor carcomido e sujo
jogado na grama feito entulho
era velado
por um viralata

E de novo olhei para a moça
- olhei tanto para a moça -
Que tanto cheirava
olhos embrumados avermelhados
crepúsculo em dias de pouco sol

Ela não me via
- O que será que ela via?
-uma imagem
uma viagem
um minuto, além de qualquer compreensão...

/ivonefs - 12/10/2007

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Saída

Ao raiar da tarde
sua voz tão alheia ao meu silêncio
toca-me como velha conhecida
- ou seria minha própria voz que já não reconheço -
e de tão acostumada ao meu modelo
nem percebe minha face rígida
que ignora o sopro e não se volta

Fixo em outras dimensões
assimilo toda volta
onde nada me pertence
espectros, aspectos de simples
e complexos reflexos
originam meu espanto
num vale de enganos
que pretende me iludir
que pretendo me livrar
Os ruídos que supunha
um canto lírico compassado
aquilo tudo derramado
eram cascas soltas
desprendidas de propósito ou não, sei lá
- incógnita

Todo o meu que não me cabe
sufoca, transborda e não resigna
as dúvidas de quem mau vê
- Ao fim não se chega e nem sempre o recomeço te beija.
O mesmo fogo que te atrai, te queima impiedosamente

Que mistério é esse?

Nos caminhos encontram-se os vestígios
do que foi e do que é
e o que será procura a saída
juntando fragmentos das horas passadas

Impressões, ações, reações
pouco e tanto a um só tempo

- Nada se perde e nem se carrega que não se queira.

Há quem ganha: a poesia
rainha e mestra inesgotável
contém o incontido
toma-me e faz eterna minha vida...

/ivonefs -= 10/10/2007

Águas rasas

Clara essência
envolve-me
coalha meus rios
e zonza que eu caia
em seu colo seco
de ossos moídos


após
sol
sede mais
nós

A água em minha boca
não tem o gosto do teu sexo

Miragem
rasas águas
claras
molha-me
lava-te

/ivonefs -

Meu amigo poeta Eduardo Perrone, comentou
este meu poema assim:

For You...

Meu colo é a areia da praia.
Sente. Aproveite.
Me beije
E deseje que a tua correnteza
Te traga a certeza
Do que realmente é:
Rios caldalosos
E quentes...
Umidade. Intimidade
De mulher.
Se te absolvo
Não absorvo
Tudo o teu rio.
E río...
Río o riso
De quem sacia a sede.
Trago
De volta de teu mar
A minha rede.
Molhada sim...
E por que não?
/Eduardo Perrone

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Bracelestes (para Flavia Valente)

Após tentativa de suicídio, passa uns dias em uma clínica psiquiátrica.

Estava no jardim e um rapaz bonito e moderno, usando incríveis braceletes
trançados em seu pulso, chama sua atenção:

- Uns dias aqui para aliviar o stress? - ela pergunta.

Ele sorri e estende os dois braços com as mãos voltadas para cima... /

Imperfeição

Num palco de luz
de fundo chita
compondo o cenário
impondo coragem
a quem assistia
e logo teria neleos pés
do destino traçado
via-se lá no alto
acima de um pensamento
em uns olhos escondidos
acima de uma vontade
como numa profecia
uma ruidosa impaciência
que espreitava o momento
em vista de tantas curvas
e dúvidas inebriantes
sina de quem cisma
e tem um guia
que espeta como agulha de vodu
e joga no fogo ardente
mostrando os dentes...

E eu nem queria saber
- mas livrai-me da verdade ou da mentira,
sem ira
à vista de quem nem precisa entender...

- Ah! as águas doces onde as ninfas se banham...
têm a transparência de um dia em que as nuvem voa
me o sol a pino transformam-nas em tremeluzentes
gotas, intensas, restauradoras –

E sangrava e estancava...a imagem desvirtuada
procurando deszelada
o porto onde a maré favorável
lhe devolveria o chão

Os rostos coram e empalidecem
mas, e a inocência
que vela o gesto singelo?

A doce amora tem cor forte
na retina tem passagem livre
o sonho não pode ser ludibriado
há sempre uma cobrança
como um crime a ser expiado

E quem me fez tantas coisas ver?
- eu nem queria...

Até fiz uma prece:

- Pai,
permita-me imperfeita
serei interessante e apreciada
livrai-me de tanta compreensão -

/ivonefs - 03/10/2007

Verbo

Um poeta me disse:

"Amor e dor
são verbos
perfeitos

Quando conjugados
no particípio
sem jeito"

Eu era o sujeito
que pensava

Que amor e dor
não se conjugavam

____
* poeta - Anderson H, meu amigo

/ivone fs - 02/10/2007