sexta-feira, 21 de novembro de 2008

é o que me diz

nestes cômodos, onde as portas nunca levam chave e o trânsito é sem mão. percebes minha dança? há fadas em seda e eu teço nervuras em seus vestidos. elas me afrontam e procuram seu par. eles riem e abençoam seus beiços dependentes. andam em procissão. é o que me diz o teu sorriso mudo. diante da fala muda. é o que me diz, no fim das contas
do que eu sempre soube.


17/10/2008

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Palavras impressas

I -

Quanto mais quieta mais intensa a agitação encoberta
A fala presa num suspiro travado aguarda um vão neste campo de concentração
Os olhares de gelo
Os sorrisos da hipocrisia
Terrenos infestados
Todos cegos comendo tua merda
É ínfimo o instante...
Dedilhando tuas costas
A palavra inteira passou por um fio,
Percorreu direta, como um líquido injetado em tua pele
Tudo na medida, de não adivinhar, nem acrescentar
Completa. Pode-se dizer. Completa.
Vou pelo ritmo agora,
O ritmo que vier,
Direto, dentro do meu ouvido,
Fala e saliva
Respondo: com as mãos e o corpo inteiro...


II -

Todos os espaços se colidem
não há mais frente ou verso
derramei-me inteira
agora posso ir...
agora sei
que não há limite
não há berço
não há o lençol que forre
nem tão pouco o que cobre
agora sei...


III -

A febre vazou
o delírio não entorpece
que venham todas as dores
que venham e testem
até onde me querem?

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Ligação a cobrar

Ouço tua voz
que me chama

e reviro

À noite havia pingos
no meio da neblina

e um caminho.

Ainda

que houvesse
uma única razão
para dormir ao teu lado
entre estes trapos
que restaram

valeria!

não tivesse sabido
da tua tão pouca exigência...

no entanto, agora penso:

é hora de limpar estes cantos
abrir a janela e ver o sol
(a próxima atração é de quinta categoria)
eu vou, você fica.

Ivone fs....04/08/2008

Índia que sou

Dos desenhos que faço na água
sobram as sombras e os olhos

Amanheço na borda do primeiro raio
e tenho o dia inédito, em preto e branco

Das securas cravadas, que me fazem sólida,
percebo as primeiras lascas caindo

De pincel nas mãos, espalho o sangue
e de vermelho tinjo minha pele nova

Há um peso...um grito na mata cerrada...

sábado, 15 de novembro de 2008

Arrastão

Nunca serei a pequena margem de tua visão. Se me calculas, perdes a noção. Sou limbo escorregadio, a própria onda dos ventos das estações que se repetem e nunca são as mesmas. Em cada marca, meu rosto altiva, em cada suspiro preso, meu rumo muda. Mesmo contra vontade, sigo. O tempo me chama e sempre vou, mesmo contra minha vontade...o tempo passa e sempre vou. O nosso tempo fica...o nosso tempo ficou...

**

Herdei a brandura
Acasalada

Duas estrelas na madrugada

Pela minha janela
Além breu

(Nós)

Nus aventurando

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

fim de tarde

Um dia sentei no teu colo
no meio da rua

fui mais nua
que a rua

e nunca mais te vi
nem nunca mais me despi


Ivonefs - 04/09/2008