quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

O silêncio da última palavra que por si só fala

...e o que mais me intriga
é a síntese de tudo

foi preciso desbravar toda uma floresta
para poder dormir de um simples cansaço.

Lagoa

Pálpebras,
asas encolhidas
sob a neblina:

às vezes
o sonho adormece,
a água turva

e todos os peixes têm a mesma cor

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Pétalas ávidas

Ganha minhas coxas,
quando em mim
teus olhos procurarem
o intento dos meus

Neles não há raso,
Nem esse riso próximo
nasceu ao acaso:

Antes se fez,
apaixonadamente,
em toda altura
que à vertigem lança:

A fome e a sede,
de bocas abertas,
diante da mesa farta

Lâminas duras

Não me peçam uma vida regrada
Não me exijam a presença
Não determinem meu dia

Não sou igual se chove
Não sou igual, quando antes à noite foi clara ou escura...
Não sou igual nenhum dia

Meu espelho é um estranho

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Fotografia

Reveste a luz
em lúcida quietude

Beleza mórbida

Dança que enlaça
a forma decifrada
de um ponto imóvel
que não apreendo

Pairando sob a retina
da lembrança
como pinceladas
de indefinidas cores

Avenidas cheias
Asfalto molhado
Luzes, cidade
Vidros cerrados

Calor incendeia o ponto imóvel onde se movem a música, a palavra
e o silêncio do poema pronto sem beijo no destinatário

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Absorvo

Porque te olho e a onda me engole

de ser eu feito areia
dissolvo mole,
disforme.


20/12/2008

Vãs tentativas

Estremeço
pela abundância sedimentada

o desespero retido
borbulha e massacra como fel

ímpeto de alcançar
- mãos estendidas oferecem -

ao chão, num tropeço,
as oferendas se espalham...



26/12/2008

Saudade

Quem vela teu sono
enquanto velo as horas
em que não durmo?

Teus cabelos guardam segredos
só decifro com meus dedos...

anéis justos cobrindo minhas mãos

Teu rosto, moço,
é o guardador da luz
que vigia a minha noite

Por onde andará teu pensamento
enquanto caminhas por aí, nas ruas,

Dessa cidade que não conheço?


27/12/2008

Bilhetes rasos para seus fantasmas (por Rita Medusa e Ivone fs)

Rita:

Desenho luzes?
Entreato de flechas ou somente espasmos no meu caderno manco?

Ivone fs ...
paraliso o instante nas direções multiplicadas

Rita Medusa
O medo é um passo ordinário para a sentença desejada...
Quantos passos você conta?

Ivone fs ...
era de orvalho
em vôo rasante...os pés flutuam

Rita Medusa
As asas souberam dos caminhos as fraturas das distâncias
Um só
Translúcido para ser onírico.

Ivone fs ...
jarradas inesperadas golpearam minha paz
choveu breu sobre os alicerces bambos

Rita Medusa
E bambas cordas se contorceram
Jasmins quiseram resgastes
Não imaginava ardência nos sacrificados mantos
resgates,alturas...

Ivone fs ...
jaziam as cédulas da credibilidade
troquei meu bilhete do vôo sem volta
me debati nos muros débeis do retorno automatizado

Rita Medusa
Soube de não retornar do teto do meu quarto
A alienação carimbando um desvario na testa
Inocente parábolas modificadas com a ponta da língua
Queimaram-me viva e a tocha na minha mão entornava

Ivone fs ...
um sono profundo transportou minhas cinzas
lavadas pelas ondas que inundaram minha face
dejetos abortados



27/12/2008

Vigília

Vigília

Quem apalpa agora
senão um vestígio
de vento na toca
onde curva e volta?

Eu, parede em aparência
uivo mudo, ardência
interna redemoinho

Raso o riso
passos em cadência
em qual me escondo?

Estranha, a noite!
O ruidoso momento
que adia ou espera

Tua voz : nuvem

- envolve minha dor
passeando
e não diz a palavra
que me salva -

Desse ponto,
do mapa indecifrável
do abismo noturno,

aves rodeiam
a esfinge adormecida
guardando um segredo


16/12/2008