segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Ah...

você reclama minha presença
reclama minha ausência
reclama só e não me chama

brasa sob cinzas

deixe assim como está
deixe ao deusdará
deixe estar

quando eu passar
guarde em sentinela
a rainha o castelo
seus artifícios
seu ofício
seu tremor
mais que tudo isso:
resguardo

à parte:
um disfarce
circundando, agora,
à óleo, seus olhos :
um horizonte de Goya
um céu de Frida Kaho...

um apelo nada vulgar
em compensação

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Harmonia

ironia para o que cabe

silêncio para o que cabe

obsessão para o que cabe

sarcasmo para o que cabe

palavras para o que cabe

explicação para o que cabe

agradecimento para o que cabe

reconhecimento para o que cabe

oração para o que cabe

vingança para o que cabe

lembrança para o que cabe

respeito para o que cabe

desprezo para o que cabe

perdão para o que cabe

cegueira para o que cabe

fingimento para o que cabe


distância para o que cabe

amnésia para o que cabe

avanço para o que cabe

sensibilidade para o que cabe

exposição para o que cabe

isolamento para o que cabe

ousadia para o que cabe

sedução para o que cabe

olhar para o que cabe

suavidade para o que cabe

receio para o que cabe

medo para o que cabe

tensão para o que cabe

sonhos para o que cabe

alegria para o que cabe...

...para o que cabe

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Rifa de encantamentos (Para Sr. T)

Eu te culmino de olhar-te
Aço rubro
Entreposto do passado

Faço-te espelho
Silêncio de um reflexo
Espectro

Vagas imóvel ao acaso
Cama desnuda
de lençóis idálios

Um deus te cobre
e nos faz meio
(Nunca estiveras assim, sob a sombra de uma luz)

Se antes guardavas a melancolia naufragada
Guardo agora minha face a reavivar-te
Bebo teu repouso escarlate
Abre-te belo e me contagia na tua eternidade

Vê, nem sempre renuncia a flor sufocada por espaço
Curva-se a haste
E altiva por onde deseja

Quem deterá se te lanças?
Sabemo-lo o motivo
Inda que imóvel e muda a boca
Respiro adjetivo

Colho da tua presença a embriaguez
De palavras grávidas em hora de parto
Atam-me as formas em ruínas
Um aroma doce me desperta...

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Às vezes

...tenho uma sensação estranha... de que o que era meu foi roubado... não que fosse meu, no sentido de posse... às vezes eu sinto um desconforto naquela que pensa que detém o que eu penso que é meu...

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

sem prévia

se eu disser
que teu beijo é escuro
não os olhos fechados
o braço o ato
o transporte o corte

o teu beijo é escuro
de gelo
não de frio
de cor

blecaute
o mundo pariu
deu à luz a sua única semelhança
no ponto em que cega
entrega

seu eu disser
que teu beijo é escuro
é vertigem




dedico este poema ao meu amigo, escritor, Marcelo Mirisola
pça. Roosevelt - 14/08/2010 -

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Moro no estrangeiro

tenho motivos de sobra
herança de faltas
um núcleo infesto
...tudo contra minha vontade

tentáculos atingem meus olhos
é quando acordo
...ele nem sabe que é melhor manter a distância
e eu nem sei se por mim ou por ele

terça-feira, 10 de agosto de 2010

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Sombria III

insossa

tinha em quem se ancorar
sua marca era fingir e ignorar
por isso aquele sempre riso chocho
de menina boazinha
dá pra imaginar?

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

À Jack Kerouac


à Jack Kerouac


...............
"JACK. O que é que eu tenho a perder?
CODY. Ninguém sabe"

fragmento de Visões de Cody