sexta-feira, 13 de junho de 2008

Meus óculos de sol

Acordei atravessada. irritada comigo. irritada com esta convivência eterna. irritada por ouvir sempre as mesmas lamúrias que escorrem de mim. hoje me ignorei. não levantei a cabeça . tomei banho de costas, só pra não me ver refletida no espelho que fica em frente ao box. usei um perfume inédito. era chegada a hora para algo ignorado há quase um ano (um perfume que mantinha guardado para usar numa ocasião especial, como disse a pessoa que me presenteou, imaginando estar me dando uma preciosidade...). doce demais e eu odeio perfumes doces. minha cabeça dando sinal que não aceitaria quieta todo esse odor, tomei outro banho. não usei mais perfume algum. fui ao centro da cidade... Saio da Vila Madalena, Av. Dr. Arnaldo, Consolação, Av. 9 de julho e Rua São Caetano. em cada farol, um vendedor de suflair (São Paulo tem um vendedor de suflair em cada esquina. São Paulo toda cheira a suflair. qual o chocolate mais consumido aqui? o coméricio dos ambulantes dos faróis. a fábrica de suflair em frenesi, pensei e que calor: imagina a cidade besuntada de suflair... a popularidade deste chocolate me dá enjoo. onde estou? ah, Rua São Caetano, vestidos de noiva, brancos, pesados, longos, e cheios de sol , pobres noivas, que calor...em dez minutos resolvo a que vim. Rua da Cantareira, Av. Ipiranga, Av. 23 de Maio..Túnel João Paulo II, Túnel Airton Sena, Túnel ... túneis... São Paulo precisa de mais túneis e viadutos . Av. Morumbi: mais uma vendedora de suflair. negra, jovem, linda, olhos brilhantes mostrando que vida não tem nada a ver com condições extremas, precárias. ela é o sol que cobre o dia, hoje, penso. paralítica... o farol fecha. ela se aproxima, girandando as rodas com as mãos. falo qualquer coisa sobre o calor que fazia.
- adorei teus óculos, é lindo!!! falou sorrindo e com muita dificuldade.
sorri também. ela não me ofereceu os chocolates, o farol abriu, buzinas, o trânsito andou...eu disse rápido: na próxima! ok? na próxima!... um estrondo. pelo retrovisor vi a cadeira jogada do outro lado da rua, com as rodas para cima. desliguei o carro e saí correndo. as businas eram infernais. ela sorriu quando me viu. tirei meus óculos e coloquei no seu rosto. aos poucos seu sorriso se desfez. sirenes, confusão. eu mais confusa ainda. afastei-me. o barulho agora era maior. dirigi trêmula, vi o Estádio do Morumbi e parei no primeiro posto de gasolina...
hoje à noite vou usar meu vestido mais bonito, demorar na maquiagem, vou sair e não volto antes do sol nascer novamente...

Nenhum comentário: