domingo, 20 de janeiro de 2008

Areias


I - Viagem

As asas imensas
que a transportaram
voaram Saaras

as árias intensas
que a conduziam
calaram Marias

das Dores
das Graças
das Virgens



II - Deserto

Na areia solta,
pegadas de caças

tudo miragem...será?

em que pesar?
onde pousar?

a alegria se revira
até os dentes
e se contorce

o peito tomba
e a boca beija
o que encontra:

- um solo árido,
desaponto

em tese - já é muito tarde
nada peça!

e seu grito...era interno.


III - Pouso

e assim o nome surge...

o deserto habitou-se de letras
e fui tomar um café no fim do mundo.
Levei a água que faltava
molhei a areia remexida
misturei a precisão
com pó branco e açucar mascavo
refiz uma história
que nunca na vida
será uma constatação
pois volta e meia
uma outra já é nova
- Felicidade Comprimida


IV - Vulnerável

Era perto
que de tão perto
se distanciava

e tinha tudo,
mas um tudo
desses completo

que não precisa
de mais nada
nem esforço, nada

e é por isso que doía
certeza demais
dói muito mais


V - Ausência


Aflição de um céu
poente
olhos airados
passagem lenta
de dourado
a cinza oculto

De bruços me deito
a areia me aqueçe
e penso: teu corpo
- aperto no peito
sufoco um soluço -

Calada
a escuridão me esconde
a aflição aumenta
um vento incandescente: Vesta
e os grãos em brasa
me cobrem

Lembro-me que o sonho é...
nunca será uma noite
(essa) esquecida

Adormecem os ruídos
e te respiro

Em minhas costas
meu, teu ... gemidos



VI -Consagro ao deserto meu desejo


Vesta e Vestais
um temporal
vento e fogo
cidadela
areia e água
vergonha
atrito
tagarelas
enregelados
sentidos
retina
branco
translúcido
alma
corpo
espedaçados
impotência
lúcida
de um fim
apego
desapego
entre meio: indiferença
duas vidas
inflorescência
entre a vida
entre a morte
além do desejo
o amor
expansão

... seus pés deixam pegadas leves e rumam...


Ivone Fs

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