sábado, 18 de julho de 2009

Primeira página

Revi um cômodo, como quem procura um resto, um vestígio.
Estava intacto, como um poema antigo, como estátua exposta, onde a poeira não corroe a matéria e um sopro não é suficiente para desnudar-se.

Andares de peregrina. Um odor que asfixia.
A luz que beira um atropelamento de palavras enviesadas em bocas de carrancas torturadas.

Todos os não dizeres silenciados perfilando a emergência de uma roldana tresloucada.

A vida que ficou, minha sombra exigindo uma fidelidade antiga.
Mas hoje, sim hoje, agarra meus cabelos outra mulher que em mim emerge.

O sorriso dele, amparado por suas pálpebras me concedeu um nome...

De fato, não me foi concedida a crença, essa mãe de toda realização.
Minhas profecias, as mesmas que desdigo, não se afeiçoam a mim e me abandonam no primeiro trincar da cisma.

Não há remédio para esta peregrina, que faz do sol a pino o punhal que dá a vida.
Os anjos me rodeiam, mas sou serpente em encantamento e fascínio que não perduram.

Os temores, contenho-os.

Não creio no belo, no mel, no doce, no céu, pois moro na ausência, no tremor, na insciência, na crua insônia de quem padece...

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