domingo, 27 de junho de 2010

Conexão Recife-São Paulo

....................................Para: Rafael M.S.


quem é esse que mora dentro de mim, que dentro do meu peito fixa um olhar de estrelas, que desce do céu e cruza os braços pra que eu não o toque?
quem é esse que faz do mundo um deserto, um assolamento atômico, que me reduz à crueza de espelhos?
quem é esse que elimina minhas fantasias, desorganiza meu caos, me veste de tristeza, me enfurece e vai embora?
e agora?
quem é esse que nega a canção contida nos vinhos, que cruza a passagem e não pousa?
quem é esse entre o reboque e o rebusco, o gelo?
quem é esse apanhador de sonhos que foge da cilada para, talvez, se livrar do terror e cai numa emboscada?
que faz do laço a sua liberdade? agora é tarde?
quem é esse que diz que tudo pode virar literatura? cura?
se o escritor não vacila? de quem esses pedaços, essas fendas, tremores, o tiro no momento em que voa a bala, a costela assada a ser devorada, os dedos ensanguentados, tortura, tontura. o voo de ilusões insaciáveis, essas indefinições, desassossego, o complexo, o avesso, a sua tirania?
sobre ele o peso que o faz lamber o pó
a água no pote vazio
do fogo, a lança da chama
do vento, o mistério dele parado
os tambores estão encharcados de um amargo licor
o escritor caído fora de si
causador de suas inevitáveis façanhas
colecionador de raridades
...
os teus olhos têm a intocável luz da lua cheia
e a mesma distância dos desconhecidos


(Ivone fs)

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