sábado, 13 de julho de 2013

eu não herdei os olhos azuis do meu avô paterno.
nem as mãos habilidosas nas cordas de viola de meu avô materno
herdei de minha avó materna a religiosidade dela, a devoção às Nossas Senhoras e o gosto de conversar com os homens
não herdei de minha avó paterna a sua altura e discrição e nem seu jeito afobado quando ia explicar alguma coisa.
meu avô materno tinha tempo para rir. um jeito meio crianç...a e desencanado. sempre tinha dinheiro na carteira e todo dia ele contava as notas. ele não gostava de gastar seu dinheiro.
minha avó materna sabia de tudo. de tudo mesmo que acontecia no mundo. ela pedia para eu coçar suas costas, às vezes, à tarde, depois que eu voltava do colégio. eu detestava isso, mas coçava.
meu primo eu, nas férias, no café da manhã, fazíamos muito barulho quando sorvíamos o café: só pra ver ela brava e explicando que aquilo era muito feio. ficávamos sérios e quando ela se afastava morríamos de rir disso.
meu avô paterno tinha alzheimer, quando morou em minha casa,
minha avó paterna tinha saudades da sua casa e da outra cidade e estava sempre calada. ela tinha uma cruz tatuada no braço e eu sempre perguntava o que queria dizer. eu acho que ela não sabia. ela dizia que não era nada. um dia eles foram embora.
meu avô materno tinha o sorriso mais verdadeiro do mundo. ele também morou em minha casa nos últimos anos de sua vida.
 

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