domingo, 30 de dezembro de 2007

Antes da hora

Atos e vozes
dos porões eclodem

é de areia a ilusão
e a loucura é desculpa

a palavra sustenta
teus fios indefinidos

balançando ao vento,
mas se enche de pó

e abusa da fé
dos crentes ingênuos

de carne e sangue escorrendo
expõe-se em reverso

reflexo da hora maldita
de vez , amadureceu e caiu...

Ivonefs



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Dezembro despedaçado

história fria

olhos - secos
boca - aberta
mãos - vazias
peito - dor

e um eco

"- não se iluda"

tua voz


Ivonefs



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Arte abstrata

Serei serena
na noite conturbada

Teu nome passeia
em meus lábios
- chamo e não o vejo
grito e não me escutas -

Meus delírios acordados
são como noites suspensas
quando caminho em nuvens densas
onde contorno os tons

Estás tão longe e penso - Kandinsky

Envolvo-me na paisagem indefinida
de tintas frescas, onde me componho
nas cores vibrantes que rimam
com teus seus olhos fortuitos...


Ivone Frans*s



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In(consciência)

Diante da indiferença
o sangue escorria
do cordão cortado


Ivonefs




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Poesia

Num dia, sem sentido algum, me veio um Deus, com todas as promessas de que tudo me daria...

Noutro, alguém me disse que me daria a vida...

Hoje, eu tenho a poesia, minha fiel companhia, que não troco por ninguém.


Ivonefs




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Instante

As ondas remexiam
num chiado quebrado

sua boca me levou
num vôo acima das estrelas

o ventou brincou
no instante das rimas dadas

e nos banhamos
na delícia de nos ter...


Ivonefs


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Artifícios

Tenho, além de vivido
tenho visto
e visto com outros olhos
claro, os meus,
que são castanhos, claro
e tenho me lembrado
do que ainda virá
tenho falado muiiiiito do que já foi
e tenho percebido uma grande mudança
em torno, em volta , e dentro
- principalmente dentro

na superfície,
tudo permanece igual
aparentemente

- a superfície é a mais visível e mais escondida, já percebeu isso?

Ivonefs


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Ilusão

Caminhando na areia
as pegadas atrás, o mar engole

quando me volto, nada vejo
- é assim a ilusão


Ivonefs






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Caminhando nas fendas

Não escolho
o vago
do querer
incerto
caminhando
nas fendas
onde a vida
vira e aperta

sinto
nos pés
as pedras
que nunca
em tempo
advinho
e o peso
que me
assola
pela boca
da angústia
me engole

abraçam-me
em meu ninho
os sonhos
que me velam
em redemoinhos
me entontecem
e afinal
escapam

sempre a mesma
solidão...


Ivonefs

Sonho barroco

Palavras dançam
num vai e vem
e secretas
fazem minha síntese
dileta

o sol ralo
deixa a tarde
e tudo ao redor
permanece
estático

o mesmo nome
o mesmo rosto
num elo atrelo
um sonho barroco
que dorme comigo

Ivonefs

sábado, 22 de dezembro de 2007

De noite

Amar o deserto
o sereno caindo

Amar a saudade
a certeza de nada

Viver à beira da linha
estar em colapso

E chorar num compasso
do Chico e da Nana Caymmi

"Até pensei"


Ivonefs

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Sal

Não meço. Arremesso. Me lanço.
O que há de mais surdo que palavras jogadas a quem não se interessa, a quem não se destina, não pelo endereço , mas porque não lhe cabe? Será? ...Desgastes...
A nascente, quando jorra a água, empurra a areia e sai,
porque a fonte destina a água doce ao mar.
A água doce serve em seu curso, a quem dela precisa, mas o que ela precisa é se misturar ao sal.
A palavra de amor é como a água, vem da fonte que lhe ordena e tem seu destino:
um ouvido que a absorverá e lhe dará o sentido. E em seus tantos vôos, na louca procura, muitas vezes confunde-se diante dos olhos, nas alegorias e adereços e não dança nas esferas que lhe dá vida. Vagueia, como num sonho, e a um leve toque, desperta em dor, ao ver por trás dos dias, as horas alegres, intocáveis, desintegradas . Mais um engano que custa a aceitar? E a palavra dança, afoga-se e rodopia ao vento, enquanto o sonho dos sonhadores não alcança o sal da vida. O coração, dilacerado, esperneia e sente em suas costas o auto flagelo a que se encerra...e bate ... batidas de saber que há olhos que não vêem.

Lugar nenhum

A cor do dia
quero ver o sol
e andar no balanço
de nenhuma direção

correr pelas ruas
e esquecer o beijo
da madrugada fria
que não dormi

Comi poesias coloridas
no escuro - e até sorri -
que no claro ofuscaram
em preto e branco

vi na arte as misturas
a luxúria, os olhos puros
e papéis de embrulho

cada coisa em seu lugar
um lugar para cada uma
e eu
sem nenhum...


Ivonefs

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Semen(te) -- (revisitado)

Sêmen,
Prazer que fecunda.

Do sonho, proponho o filho que quero por nome Antonio,
Derrama, sagrada semente, que engulo em doses.

Do beijo, desejo a fome que leva a ter teu despejo.
Em mim, nas minhas espumas, encontras teu berço.

De ti nasceu Afrodite
que mora em mim.


Ivonefs

Egoismo

Enquanto ele morria, ela sofria sua falta.
E ele só queria amar em paz, as ilusões de seus amores inventados.



Ivonefs 17/12/07




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Lugar nenhum

A cor do dia
quero ver o sol
e andar no balanço
de nenhuma direção

correr pelas ruas
e esquecer o beijo
da madrugada fria
que não dormi

Comi poesias coloridas
no escuro e até sorri
mas no claro ofuscaram
em preto e branco

vi na arte as misturas
- a luxúria os olhos puros
e papéis de embrulho

cada coisa em seu lugar
e eu: sem nenhum


Ivonefs 17/12/07


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Antes da hora

Atos e vozes
dos porões eclodem

é de areia a ilusão
e a loucura é desculpa

a palavra sustenta
teus fios indefinidos

balançando ao vento,
mas se enche de pó

e abusa da fé
dos crentes ingênuos

de carne e sangue escorrendo
expõe-se em reverso

reflexo da hora maldita
de vez , amadureceu e caiu...

Ivonefs 17/12/2007


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Simbiose

Em vias alagadas
e pensamento ao vento,
a galope te beijo

imaginando
a hora presente
que grito teu nome
ser lá, na frente,

mãos dadas
risos, colo, cheiros
e mais Nada...


Ivonefs

sábado, 15 de dezembro de 2007

Incômodo monólogo

Não olhes para meus olhos cegos, nem ouças minha voz. Eu corro atrás das nuvens, durmo nos tetos molhados e como os restos que surgem das mãos que nem sabem da minha fome. Não penses que apelo, eu só não posso carregar tanto peso, então despejo meus excessos, tento, assim, me aliviar. A pena já tem morte certa e o que eu desejo mesmo, é ser livre - das misérias, das migalhas, da língua que me sorve e nem sabe o sabor - e voar nos aclives das minhas angústias e fazer delas meus amigos qual São Francisco, acariá-los e em meu peito fazê-los dormir.
Não olhes para meus olhos cegos, pois neles só enxergas o que vês e nem ouças minha voz, são só ruídos proferidos, sobrepõe-te. Deterioremos todas as possibilidades, as idéias, os sentidos, porque dizer o que é preciso nos torna passível e o nosso cavalo está pronto para partida e as pontes atravessadas serão derrubadas e vazio nos distanciará para sempre. E o vazio permanecerá para sempre...


Ivonefs


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Só pra descontrarir

Escrevi
seu
nome
e escrevi
versos
que
rimavam
com
o meu

- Ande logo,
venha me ver!

as
rimas
são
pobres
e não
combinam
com
o seu

Ivonefs - 15/12/07

Adversidades

Perséfone, enfurecida, escureceu a era, sem a cria, que dorme em outro mundo. O grão duro, enquanto isso, umedecido por suas lágrimas, amolece. O novo dia, ainda amanheceu nublado...


Ivonefs - 14/12/07



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Incômodo

Incômodo

Infortúnio do inesperado:
nos traços apagados
um gemido atônito


/ivonefs - 13/12/07


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Substância diáfana

Sob o céu fechado, escassez e inquietude. E no escuro, vejo o que a luz escondia, as coisas que são e ainda não são. Uma única flor vermelho vivo me cobre e debaixo dela me enfio, percorro os quilômetros de areia e quando me aproximo da exuberância que procuro, o caminho se faz árduo e me turva a vista. Só mais um pouco...Penerando o deserto, engatinho e atravesso a janela dos meus sonhos.
Verei o que encontro.

Ivonefs / 13/12/07


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Sem fim

as sombras
os sonhos e danças...
emparedados

- que saudades!

Ivonefs

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Passagem

A luzes do teatro se apagaram. Os ruídos se confundiam com o silêncio que se assentava. Do palco, sentia o vazio adormecido da platéia já distante. O perfume único, de tantas essências misturadas, ardia em meus olhos, que fitavam a primeira fileira, onde ainda te via... Você, uma cadeira livre, onde me sentaria ao seu lado...Ao aproximar-me o espaço estava preenchido por seus braços envoltos num corpo que em seu ombro pendia. Uma moça linda, e ambos em completa sintonia. Sentei-me ao fundo, em total desconforto, a garganta estranha, pela lágrima engolida. Da peça, só me lembro dos ensaios, quando me tocava, me confundia e em intimidade... quase se revelava..., mas sempre fugia, sim, sempre fugia me deixando nua, com seus odores pairando em minhas entranhas e minhas certezas flutuando nas horas seguintes, sem qualquer intervalo de sossego. Nem todos os segredos são revelados...Quando ele entrou pela minha porta me deu a vida e a morte... Minhas mãos vazias, tateiam no escuro, procurando a passagem, que me transportará para além deste cenário.

Ivonefs

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Você não me Prometeu

Nos meus devaneios
imbuídos nas
horas incautas
devastadas pela
mórbida inércia,
que me pega
nos desvãos
da boca entreaberta
da dor que me queima
conjugo-me em passados
tempos-lembranças

Restam-me vôos
incertos pelos picos
dos rochedos nebulosos,
das encostas uivadoras
aonde penso, agonizarei
os meus lamentos
incrustados
em sulcos inóspitos
até completa asfixia
... ou dissolução

Em banquete,
oferecerei meu coração
às famintas aves de rapina,
antes que a noite termine
e o sol queira me cegar
com sua luz do novo dia.

A velas sim
velas enfileiradas,
acesas, recendentes
banhando-me na luz
da dor transcendente
quando não me abrasarão
por suas lágrimas
densamente quentes

- arrefecer-se-ão ao ar
congelado da rasa cova
aberta ao relento
onde entorpecida
finalmente gozarei ...


/Ivonefs

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Incômodo

Infortúnio do inesperado:
nos traços apagados
um gemido atônito.


/ivonefs

...antes do sol nascer

na noite escura
estou clara, nas asas
da ária entregue

no semi nu
do meu rosto
- as sombras

as ditas horas
rodam entre cores
afogam meus poros

e o pó se espalha
nos ralhos que levo
por meus excessos

como cada palavras
vomito as esperas
descalça na areia

o sol vermelho
em chamas a poesia
- acorda!

/Ivonefs

Tua dor

Sinto tua dor,
então deito
os olhos
no peito

não vejo além
de um palmo
do chão

me faço refém
de carícias eternas
secas, amargas,
que hibernam
num corpo
calado

investi
desisti
insisti

agora
sem nada
nem amanheço
nem corro perigo

sou sombra
retida
à margem
desta hora
que engasga
a única nota
de minha voz:

- ai!

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

As minhas economias ( Ensaio poético)

As minhas economias, guardadas sob a minha pele, são atraídas por imãs que as devoram durante à noite, enquanto durmo. Como fantasmas sem rostos me amedrontam e dizem serem os donos dos meus sonhos, despejando toda sua jaculatória. De manhã, apressada, nem faço o sinal da cruz, esqueço a noite passada e pouso na barriga vazia do dia, onde busco as fantasias estampadas em todas as direções, que me levarão ao inútil pecado de insistir nos sonhos devorados. E quando o jogo recomeça, minhas palavras em estado vulnerável são leves e voam. Tal qual uma pena solta, não pousam. Pairam. E em sua transparência, não atingem o que quero, nem produzem as mudanças, não provocam os efeitos. São vistas de qualquer jeito. Se minhas palavras fossem como os raios, não perambulavam tanto, e seriam de imedito, sem passar por qualquer vista, engolidas e enterradas de vez. Pelo menos, não me empacariam... Mas pra quê tudo isso? O que eu quero dizer é que por mais que eu fale, ou mesmo que não fale, quem irá mudar o maldito desejo, que não está escrito, mas que insisto? Já estou no meio e nada poderá alterar o início. A partir daqui, sem nenhuma economia, de boca escancarada, de pele rasgada, desvelada... preciso caminhar... e em cada esquina, renascerá, alucinadamente, a expectativa de ouvir o que mais quero e que incansavelmente procuro. As minhas economias guardadas sob minha pele, foram roubadas e já nem preciso mais delas ...

/Ivonefs


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O rio

O dia amanheceu velho e cansado
e eu lamento as alegrias poluídas
de sabor amargo, pesado
desta indigesta manhã

Nas entranhas corroídas
as poças estagnadas infestam
meus passos paralisados
entre os muros fétidos que me enjoam

Vou para floresta
lá tem um rio que canta
e me conta os segredos esquecidos
que me acalantam

As sombras me cobrem
as palavras não golpeiam
e no barulho do rio
ouço uma oração e adormeço

/Ivonefs

Des(gosto)

Enquanto
te respiro
e cheiro,
tua presença
me enche
de vida

Enquanto
dormes,
vigio
teu sono,
e eterno
te penso

Quando
te afastas
- mera inconsequência
e que tua
indiferença
não nos esmoreça

o amor ... ( mas quem disse que era?)

/Ivonefs

domingo, 2 de dezembro de 2007

Simplesmente você

Voaram as horas
em meu silêncio
e eu vi...
vi tudo claro
me despi
da descrença
e no tempo
renasci

achei até graça
das lágrimas
dos rios salgados
das piedades
da quase guerra
da quase desistência
quase inexistência...

vi tudo novo
diante
bem aqui
admiti
te amo sim
e é assim
simplesmente
desde o instante
da primeira vez
que te vi

te faço poesia
me faço livre
e aonde quer
que eu vá
levo comigo
o que sou
que não invento
assim te sinto
em todas as cores
dos versos
claros
até o infinito..

/Ivonefs

sábado, 1 de dezembro de 2007

Sem você

Andarei chovendo nos picos
dos rochedos nebulosos
terei os falcões por companhia
indiferentes aos meus gritos
e o eco... o eco...
entoarão a resposta
e em banquete
oferecerei meu coração.


/Ivonefs - 01/12/07

Além da promessa

Vi o dia nascendo
com sabor estático-frio
inconsciência doentia
fragmentos, enfastio

o olhar estagnado
mergulhado nos ínferos
acumulou a distância
desprendeu o vínculo

e o que eu mais queria
desandou em indiferença
a promessa corrompida
me abateu... perdi a crença.

peguei um mapa, viajei
não olhei mais para trás
não fiz falta, causei alívio
não era nada, nem era demais.

/Ivonefs - 30/11/07

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O sol de hoje

O dia de ontem
separou as pastas da liga
aviltou o avivamento
do ávido movimento,
cobriu-se de negro
inundou além das margens
rangeu e deslizou
azoratado...

O dia de hoje
quebra das serras
os dentes que
espalharam a serradura
de minhas molduras
fabricadas nos arrufos
de pensamentos
revirados

o dia de amanhã...
...ainda tem o sol de hoje...

/Ivonefs - 28/11/2007

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Encontro das águas

.

Tua língua
na minha

influi

em cores e versos

azul-esverdeado
ocre-argila

- nus embriagados -

seria...

... Amazonas e Tapajós?

/Ivonefs - 29/11/2007

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Mata-me de vez

.

Não quero morrer aos poucos
que seja, então, de uma vez

Não ria do meu fracasso
... não tomo ácido...
a dor é em carne crua

Há cacos de vidro
sobre as ruas
onde antes descalça
e nua me deitei e tinha
a pele tua sobre a minha

/Ivonefs - 27/11/07

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Ciranda

.

Na ciranda,
o bailado
é um cordão

e vários rostos
giram em meu sorriso
e apenas um eu vejo

mas o meu
é aos teus olhos
oculto

que só vê um outro
de outra ciranda
espectro e fogo

/Ivonefs - 27/11/07

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Paralelos

.

Rajadas
ondas aladas

névoa

lava rostos e aléias

sentinelas

na boca, o toque do céu
jasmins dão notícias

e te tenho colado
rasgando meus véus...

/Ivonefs - 25/11/07