segunda-feira, 30 de julho de 2007

Meus poetas

(Homenagem aos poetas do Bar do Escritor)

Quem me dá o tom
Senão as palavras
Impregnadas de sentido
Lançadas de si
Plantadas aqui
Almas derramadas
Verbalizadas
Sutis
Escancaradas
Camufladas
Efusivas
Vibram como notas
som puro
percorrendo as cavidades
Delicio, morro, renasço.

Centelha

A insegurança a levou ao mais alto penhasco.
Subjugada permaneceu. Não via a luz, não acreditava nela.
E quando adormecia sonhava, mas nunca se lembrava dos sonhos.
Numa noite fria, a lua resplandeceu e refletiu um pedaço de papel
em branco, ferindo-lhe a vista.- Para que me serve um papel em branco?
Não tenho a tinta para borrá-lo enem quero lavrar amargas palavras.
Adormeceu na mesma hora de sempre e novamente sonhou os sonhos
que nunca se lembrava.
Acordou no meio da noite, com a lua ainda no meio do céu.
Sentiu um toque em seu rosto.
Rapidamente prendeu o papel e o levou para diante dos olhos
com uma impetuosa curiosidade.
Estava escrito: comece.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Encapsulada

Noite e chuva se misturam
Respingam fios miúdos
Escuros e úmidos
Caindo em transe
Tremeluzindo à luz
Trazendo as guias
Da melancolia fria
Que rodeia meus passos
Em voltas e contras
Vestindo a revelia
De cores esdrúxulas
As horas que arrasto
Quando colo meus olhos
Na névoa que encobre
Os vícios de antes
E resgato a imagem
Debruçada na memória
Encapsulada para não me perder.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Disfarce

Disfarço
Os medos em risos fingidos
A saudade em versos malditos.
Os sonhos conto em lendas
e as vontades onanizo...
O amor sangra em silêncio
dentro do peito aflito.
Grito interno
que regurgito em dia de tanta
ardência e penúria...
Penúria da alma insone
que em versos se consome.

Sirlei L. Passolongo e Ivone F. Santos

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Despertai (nanoconto)

Era tão estreita a passagem que não conseguia apreender nem mesmo os ruídos desejáveis. Cabia tão somente sua matéria, inanimada, arrastada, aleijada.
E um inquisidor a espreitava: - sua culpa.
O monstro a engoliu.
Quando acordou deu-se conta de seu sono.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Retrato

Nasceu na praça.
Cresceu na praça.
Cheirou cola.
Vendeu crack.
Não foi para a escola.
E nem me leu...

Vacilo (nanoconto)

- Ele virá - disse trêmula e aliviada, apertando o celular entre as mãos.
Ansiava por vê-lo.
Logo de manhã, seu peito seria aberto e o coração restaurado.
Ele se atrasou.

sábado, 7 de julho de 2007

Dupla rejeição (miniconto)

Diante dela, acomodados em macias e peludas almofadas , lamentava sua sina.
Ele, um jovem psiquiatra, recém formado, casou-se, após concluir residência.
Sua esposa, estilista de moda, viajou a trabalho para Itália. Esperava ansioso
seu regresso, mas fora duramente surpreendido. Ela voltou acompanhada.
Reencontrou um antigo namorado, coisas do destino. Justificou :
- Não sinto mais tesão por você.
Nesse momento, ele cobre o rosto com as mãos.
A amiga ouvia e observava cheia de compaixão e gentilmente o consola
acariciando seu rosto beijando-o nos lábios. Ele excita-se e começa a despi-la.
Ela o afasta.
- Porque não? Veja como estou!
- Porque não sinto tesão por você.

(Baseado em fatos reais)

Vacilo (miniconto)

No gélido quarto do hospital, movia –se de um lado ao outro com olhar aturdido e pensamentos em frangalhos: “Se ao menos ele viesse.”
Logo de manhã, seu peito será aberto e o coração restaurado.
Assusta-se ao som do celular, que esteve tão quieto nesse dia.
Era ele, finalmente ligou: - Ah sim, claro, bem cedo.
Ele viria. Emocionou-se, como não devia. Ofegante, sorriu sentindo
escorrer por sua face, quentes e sentidas lágrimas de alívio.
Amava-o e desejava ardentemente vê-lo antes da cirurgia.
Adormeceu com um sorriso nos lábios.
Sonhou desconexos sonhos, sempre interrompidos pela presença de uma
enfermeira. Irritava-se com esta invasão: “Deviam bater na porta antes
de entrar”." Mas que bobagem, estava num hospital e sofreria
uma intervenção cirúrgica séria e reclamava de um detalhe tão sem
importância."Finalmente amanheceu. Ela, ligeiramente apreensiva,
mantinha os olhos na porta. Recebeu todas as visitas de médicos e enfermeiros.
Foi encaminhada ao centro cirúrgico. Estava muda e pálida.
Da maca, olhou mais uma vez, a porta do quarto que deixava para trás.
Sumiram o corredor e a esperança.
Buscou uma lembrança e com ela partiu...E ele? Ele se atrasou.