sexta-feira, 13 de junho de 2008

Agora sim, desligue o telefone e estacione

É da banda homérica
desenho retraçado
pronto
um confronto

Uma epopéia, arreia

no ponto de ebulição
do encanto x desencanto
encontro x desencontro

na medida que passa

e passa...

A medida elástica
laceou

Mas antes, peço desculpas pelo todo incômodo

Pois agora, o que era de graça
tornou-se inalcançável,

e pede, se te quero!

- Qual a palavra necessária
para um fim sem hinos?

Phoda-se.

Família século XXI

Num quarto,
livro e poesia
louça na pia,
na cozinha

Pesam os olhos
dos bolsos vazios
fazendo valer
todos os dias

Enche e aquece
as faltas, a voz
que intermedia

Sãos os filhos
e as mães
que fazem a família

quantas!

Sobre a (des)ordem das coisas

Foi no tremor do dia
que me calei...

nos cigarros engolidos,
antes molhados na boca
do cão,

no abraço seguido,
e num fim que não se espera

expelido.

A dinamite ecoou
o inferno berra, inútil

e a dor amanhece
refluxo
murcha e impotente

as rupturas em gaze ainda vazam seus fluídos.
da boca, pende o silêncio

e como ordem
indefinida, assente

Não há susto que te sustente.

Casos e acasos

Já fui tardes enovelada
anoitecida em teus braços
ao odor íntimo dos teus poros

Serenei em fotografia congelada,
quando sob o teto teu sexo arfava
e minha pele à tua se juntava

contorci-me e agonizei-me
ao vapor das tuas idas

Meu enredo que faço
minhas horas passadas
nas curvas de teus passos

Na mesma esquina
que inicia onde termina
meu velho pensamento

sem rimas, ferida
sem rumo... (que embaraço!)
- beijo frio de ausência, estilhaços

Meus óculos de sol

Acordei atravessada. irritada comigo. irritada com esta convivência eterna. irritada por ouvir sempre as mesmas lamúrias que escorrem de mim. hoje me ignorei. não levantei a cabeça . tomei banho de costas, só pra não me ver refletida no espelho que fica em frente ao box. usei um perfume inédito. era chegada a hora para algo ignorado há quase um ano (um perfume que mantinha guardado para usar numa ocasião especial, como disse a pessoa que me presenteou, imaginando estar me dando uma preciosidade...). doce demais e eu odeio perfumes doces. minha cabeça dando sinal que não aceitaria quieta todo esse odor, tomei outro banho. não usei mais perfume algum. fui ao centro da cidade... Saio da Vila Madalena, Av. Dr. Arnaldo, Consolação, Av. 9 de julho e Rua São Caetano. em cada farol, um vendedor de suflair (São Paulo tem um vendedor de suflair em cada esquina. São Paulo toda cheira a suflair. qual o chocolate mais consumido aqui? o coméricio dos ambulantes dos faróis. a fábrica de suflair em frenesi, pensei e que calor: imagina a cidade besuntada de suflair... a popularidade deste chocolate me dá enjoo. onde estou? ah, Rua São Caetano, vestidos de noiva, brancos, pesados, longos, e cheios de sol , pobres noivas, que calor...em dez minutos resolvo a que vim. Rua da Cantareira, Av. Ipiranga, Av. 23 de Maio..Túnel João Paulo II, Túnel Airton Sena, Túnel ... túneis... São Paulo precisa de mais túneis e viadutos . Av. Morumbi: mais uma vendedora de suflair. negra, jovem, linda, olhos brilhantes mostrando que vida não tem nada a ver com condições extremas, precárias. ela é o sol que cobre o dia, hoje, penso. paralítica... o farol fecha. ela se aproxima, girandando as rodas com as mãos. falo qualquer coisa sobre o calor que fazia.
- adorei teus óculos, é lindo!!! falou sorrindo e com muita dificuldade.
sorri também. ela não me ofereceu os chocolates, o farol abriu, buzinas, o trânsito andou...eu disse rápido: na próxima! ok? na próxima!... um estrondo. pelo retrovisor vi a cadeira jogada do outro lado da rua, com as rodas para cima. desliguei o carro e saí correndo. as businas eram infernais. ela sorriu quando me viu. tirei meus óculos e coloquei no seu rosto. aos poucos seu sorriso se desfez. sirenes, confusão. eu mais confusa ainda. afastei-me. o barulho agora era maior. dirigi trêmula, vi o Estádio do Morumbi e parei no primeiro posto de gasolina...
hoje à noite vou usar meu vestido mais bonito, demorar na maquiagem, vou sair e não volto antes do sol nascer novamente...

Sem você, com você

Se um meio inexiste,
então invento

canção de inverno
um leve arrepio

(não resisto)

de frente ao espelho
em minhas mãos,

meu desejo - cio
Existo.

Ilhada

Dos cortes que me fez
acabei em Gozo

...e Rabat voltou a ser povoada

Intricada (revisitado)

Velo o silêncio pesado
emboscando a ausência
exacerbada de trilhas

À risca, traço códigos enredados
em veredas inóspitas

Deleto

Reviro inciente

Tardes ocas, chocas
Nem o doce cicio de sua voz me embala

Por que intrico?
Ai de mim...

Massacre

Expus-me nua e santa
e teus olhos negaram-me

pisei em tua terra
comi teu osso
aceitei a última herança
da tua miséria

Sondastes-me a tantas
corroestes a esperança
e de vez anunciaste
pela tua boca medonha:

isenta-me!
insuportável imperfeita
que mancha minhas paredes brancas

Cobre teu rosto
...evita que me veja

Isenta-me!

Do lado de fora

num certo caso
perde-se o senso

perde-se tempo
nas filas de espera

ociosas horas
de olhar vitrines

de andar sem rumo
e não tomar tento

são horas mortas
não tuas,
são doloridas e disfarçadas

são horas cruas
que como em jejum

Minhas ruas

já não me importo
sem pena
nem condenação de mim

arrasto

sou como um tufão
que passa

os destroços?

são meus restos
que ainda ficam.

Paralelos (revisitado)

Rajadas
ondas aladas

névoa

lava rosto e aléias

senti-nelas

na boca, na língua
o toque do céu

Jasmins dão notícias

e te tenho colado
rasgando meus véus