terça-feira, 29 de junho de 2010

Costas

o sol não nascia hoje
“é uma noite eterna”, eu pensava

a cama me expelia, mas eu não saía

o motivo era uma mochila nas costas
uma promessa vaga e o gosto de um beijo

eu fiquei no gosto desse beijo e no vago dessa promessa

que era para o fim do dia


(Ivone fs)

domingo, 27 de junho de 2010

Conexão Recife-São Paulo

....................................Para: Rafael M.S.


quem é esse que mora dentro de mim, que dentro do meu peito fixa um olhar de estrelas, que desce do céu e cruza os braços pra que eu não o toque?
quem é esse que faz do mundo um deserto, um assolamento atômico, que me reduz à crueza de espelhos?
quem é esse que elimina minhas fantasias, desorganiza meu caos, me veste de tristeza, me enfurece e vai embora?
e agora?
quem é esse que nega a canção contida nos vinhos, que cruza a passagem e não pousa?
quem é esse entre o reboque e o rebusco, o gelo?
quem é esse apanhador de sonhos que foge da cilada para, talvez, se livrar do terror e cai numa emboscada?
que faz do laço a sua liberdade? agora é tarde?
quem é esse que diz que tudo pode virar literatura? cura?
se o escritor não vacila? de quem esses pedaços, essas fendas, tremores, o tiro no momento em que voa a bala, a costela assada a ser devorada, os dedos ensanguentados, tortura, tontura. o voo de ilusões insaciáveis, essas indefinições, desassossego, o complexo, o avesso, a sua tirania?
sobre ele o peso que o faz lamber o pó
a água no pote vazio
do fogo, a lança da chama
do vento, o mistério dele parado
os tambores estão encharcados de um amargo licor
o escritor caído fora de si
causador de suas inevitáveis façanhas
colecionador de raridades
...
os teus olhos têm a intocável luz da lua cheia
e a mesma distância dos desconhecidos


(Ivone fs)

terça-feira, 22 de junho de 2010

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Sombria II

a bailarina dança porque a música a impulsiona e seus pés se elevam e ela se curva, e tem um corpo ereto e rijo até quando se dobra.

a bailarina será sempre dura e seca e ninguém jamais dirá que ela não seja bela.

domingo, 13 de junho de 2010

Sombria

acabou que era um dia tão cansado de gestos de gentes indelicadas que nem adiantava lavar as mãos

acabou que era um dia de olhos e ouvidos mobiliados ilustrados num livro de Tim Burton, tão surreal quanto esta afirmação

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Cut up

eu vi todas as cores serem quebradas
um dia que jamais amanhece
minha vontade voraz vital estrangulada
não contive o desejo de uma prova que me fizesse crer
azul, como o horizonte ao meio dia em um dia de sol
findado em tortura e urros

não compartilharei das alegrias que abraçam vespas
nem mergulho nas águas de seus olhos
nem no zig-zag de suas linhas
traços verticais em vorazes ondulações

acima, como um imaginário alçar
até perder de vista, alçar, alçar
ouvir tão somente o roçar das asas
desenhados em meus recortes