terça-feira, 28 de julho de 2009

Instante

Não há anúncio
nem despedida

tudo flutua num seco aroma asfíxico

e no inverno,
nem mesmo sei quem é a neblina...

domingo, 19 de julho de 2009

Espirais

Se me deres teu sorriso
e limpar o tempo
varridas as desavenças
sobrarão as cores

Pensa:

desenho teu rosto
exponho matizes
canções, diretrizes

lado a lado

aquarela e fogo
em banhos estrelares
van goghniados






A noite estrelada-Van Gogh

Deformidades

não vejo transpassar o delicado fio da sensibilidade
atropelam-se, em nós, à porta da transcendência,
onde ganhar pode ser confundido com a loucura da possessão

morrem aos montes numa fronteiriça de recuos, em retrocessos,
numa repetição que me lembra "tempos modernos", parafusos:
retorcem a culpa, o medo, o fracasso, os desastres, os excessos de nada

estocados de furor, de desculpas, flagelados, prisioneiros da razão
vão aos altares, mentir suas culpas e pregar na cruz mãos insensíveis,
sangrando, no topo das escadarias, seus joelhos cravejados de rubis

imploram a salvação, mas tremem frente a uma corrente abissal.

o olho não fita senão o vulto. que ameaça? a voz se derrete por dentro
e sobre a luzidia água movem-se grãos de veneno assediando o inferno
era de se saber pequeno e pequenos são por não se perceberem mendigos

sábado, 18 de julho de 2009

Primeira página

Revi um cômodo, como quem procura um resto, um vestígio.
Estava intacto, como um poema antigo, como estátua exposta, onde a poeira não corroe a matéria e um sopro não é suficiente para desnudar-se.

Andares de peregrina. Um odor que asfixia.
A luz que beira um atropelamento de palavras enviesadas em bocas de carrancas torturadas.

Todos os não dizeres silenciados perfilando a emergência de uma roldana tresloucada.

A vida que ficou, minha sombra exigindo uma fidelidade antiga.
Mas hoje, sim hoje, agarra meus cabelos outra mulher que em mim emerge.

O sorriso dele, amparado por suas pálpebras me concedeu um nome...

De fato, não me foi concedida a crença, essa mãe de toda realização.
Minhas profecias, as mesmas que desdigo, não se afeiçoam a mim e me abandonam no primeiro trincar da cisma.

Não há remédio para esta peregrina, que faz do sol a pino o punhal que dá a vida.
Os anjos me rodeiam, mas sou serpente em encantamento e fascínio que não perduram.

Os temores, contenho-os.

Não creio no belo, no mel, no doce, no céu, pois moro na ausência, no tremor, na insciência, na crua insônia de quem padece...

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Ninguém me guiará na escuridão...

Devo arranhar os sentidos
Cuspir nos fantasmas
Demover minha insônia
Esculpir minha angústia

Reverenciar o silêncio
Penetrar nos espelhos
Reinventar minha arte
Perpetuar o instante

Enclausurar a palavra...

A todo rigor
e a toda escravidão

devo lembrar:

Ninguém me guiará na escuridão

Que ser sua,
castidade

Oposição:

Encerrar livre aquilo que vier
sem perguntas
sem perguntas
sem perguntas ...

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Inconsequências


Por que desejo uma trava
e flutuo incessante num redemoinho?

Quanto de aparência deve o choque,
o teste que se aflora e apunhala?

Minhas costas gélidas acostumadas
ainda um punhal rasga, fere?

Quantos risos hão de ter a boca,
enquanto sangram os pulsos?

Passem por mim as víboras,
os temporais, as orgias,

que das rimas nada sabem
Não falem por mim! Revidarei?

Olharei para o alto
e estarei livre das radiações?

Oh! terrenos que me expelem
e me fazem um incômodo de mim:

Que dor maior a de ser vítima
de querer da flor o que se exala

e se em teu cerne há a luz que extermina,
em qual ponto hei de ver, se sempre és tardia?

Bendito o que manipula e não conhece o entardecer,
o livre e manso, que navega em todas as ondas

O simples que nada questiona e finca a fé,
que perdoa sua estupidez e ri maior em qualquer nota

Bendito ao basta que se apodera do poderoso,
que se safa, por estar certo de sua razão

Quem questionará ao covarde, cego, mas firme?

Não darei meu suspiro rente ao chão, onde nada o pó,
sem antes olhar-te nos olhos e dizer-te: oh vida,

sei mais de ti do que imaginas de mim!

sexta-feira, 3 de julho de 2009

quinta-feira, 2 de julho de 2009

A mão que embalança

Na cadeira de rodas, a mãe, pernas amputadas.
O filho, em sua frente. Drogado demente

obriga-a a tocar.

Pleno

O mesmo que jura, peca

faz da inocência
o seu disfarce

distorce

com qualquer uma flerta
e vem lamber meu veneno